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Regime ameaça crianças de minorias religiosas na China

27 jul, 2020 - 20:37 • Filipe d'Avillez

Tanto cristãos como muçulmanos contam histórias de abortos forçados e crianças retiradas aos seus pais, como parte da campanha do regime comunista para pressionar o culto religioso.

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A opressão religiosa continua a fazer vítimas na China, com o regime a apontar ao elo mais fraco nas famílias para as demover de praticar a sua religião: as crianças.

Duas notícias publicadas esta semana dão conta dos abusos cometidos por Pequim contra as famílias cristãs e muçulmanas que persistem em praticar a sua fé.

No site do “Christian Post”, uma família da Igreja da Aliança das Primeiras Chuvas, que tem sido particularmente perseguida pelo regime, conta como se viu obrigada a fugir da China para poder educar a sua família em paz e segurança, procurando refúgio no Taiwan.

Liao Qiang publicou um vídeo em que explica como o regime ameaçava as famílias com a retirada dos seus filhos, especialmente adotivos.

“Não nos ameaçaram só a nós, adultos, membros normais da Igreja, mas ameaçaram os nossos filhos”, diz Qiang, no vídeo, segundo o “Christian Post”.

“Alguns dos nossos membros têm filhos adotivos e o Partido Comunista da China removeu-lhes as crianças e enviou-as de volta para a família original. É por isso que fugimos da China, porque não podíamos garantir que não nos retirariam os nossos filhos adotivos também”. Nesse caso em particular, continua o jornal, os quatro filhos adotivos retirados acabaram por ser espalhados por diferentes famílias em locais distantes. As autoridades explicaram que os documentos da adoção já não eram válidos porque as crianças estavam “presas numa religião malévola”.

Genocídio Uighur continua

Também os muçulmanos são perseguidos pelo regime chinês, em particular os membros da minoria étnica Uighur, um povo turcomano que vive na região de Xinjiang.

O jornal “Daily Mail” publica esta segunda-feira uma reportagem com entrevistas a mulheres da comunidade que conseguiram fugir do país e encontrar refúgio na Turquia.

Quando Amina ficou grávida do seu quinto filho, mais três do que a lei chinesa lhe permitia, percebeu que era tempo de sair da China, ou então enfrentar o que via acontecer às suas vizinhas.

“Obrigam-nas a abortar e depois impedem-nas de ter mais filhos. Aconteceu a quase toda a gente no meu bairro”, diz a mulher, citada pelo “Daily Mail”. O jornal cita outras mulheres que dizem que foram forçadas a assinar consentimentos para serem esterilizadas antes de serem admitidas nos hospitais para ter os seus bebés, garantindo assim que não voltariam a engravidar. Segundo a mesma fonte, a taxa de fertilidade na região caiu 60% nos últimos anos.

Toda a família pediu passaportes, mas só Amina e uma das filhas as obtiveram, arriscando a separação familiar, saiu do país antes de a gravidez se notar. Nunca mais viu o marido ou os restantes filhos, que desapareceram numa rede de campos de “reeducação” e de prisões para onde o Governo chinês já enviou mais de um milhão de membros desta etnia.

Roshangul Tashmuhammad, que falou com o jornal britânico também a partir de Istanbul, diz que enquanto filha de um líder religioso era sujeita a escrutínios mais exigentes. Havia representantes do regime que tinham como função averiguar o seu ciclo menstrual, para garantir que não estava grávida. Foi dessa forma que descobriram que a sua cunhada estava à espera do seu segundo bebé.

“Estava grávida de três meses quando a polícia foi ter à sua casa e disse que ela tinha de ir para o hospital para ser vista. Os médicos disseram-lhe que o bebé tinha morrido no útero e abortaram-no. Mas nós não acreditamos”, afirma Roshangul.

Zumret Abdullah, que treinou como enfermeira num hospital local, diz ter visto pelo menos 90 abortos forçados. “Não deixavam os maridos entrar. Levam as mulheres, que estão sempre a chorar. Depois atiram o feto para um saco de plástico, como se fosse lixo. Uma mãe suplicou para a deixarem morrer depois de terem morto o seu bebé de sete meses. Levou mais de três dias a fazer o parto. Era um bebé como deve ser. Pediu que lhe desse o cadáver, para o poder sepultar, mas os médicos não o deram à família”, recorda.

Oficialmente o regime comunista permite a liberdade religiosa, mas na prática a maioria das confissões são banidas e as que são permitidas só podem atuar no contexto de “Associações patrióticas” de fiéis, que dependem do regime.

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