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Jacinto Lucas Pires-Henrique Raposo
Um escritor, dramaturgo e cineasta e um “proletário do teclado” e cronista. Discordam profundamente na maior parte dos temas.
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Livros digitais? “Tenhamos muito cuidado com as utopias”

H. Raposo

Livros digitais? “Tenhamos muito cuidado com as utopias”

20 jul, 2020 • Marta Grosso , Miguel Coelho (moderação do debate)


Henrique Raposo e Jacinto Lucas Pires comentam a experiência que vai ser feita em 10 escolas e o impasse no Conselho Europeu de Bruxelas – aquilo a que Lucas Pires chama de “enclaves de psicodrama”.

Tem de haver um equilíbrio e o papel não pode simplesmente desaparecer. É esta a opinião dos dois comentadores do programa As Três da Manhã sobre a eventual passagem dos manuais escolares para a versão digital.

“Acho que não é o fim dos livros, tem de haver um sistema combinado”, defende Jacinto Lucas Pires nesta segunda-feira, advertindo para o risco de “irmos do 8 para o 80 e perdermos o equilíbrio”.

Henrique Raposo reforça o apelo à cautela. “Tenhamos muito cuidado com as utopias à distância, com as utopias digitais”.

O comentador lembra que “a internet destruiu o espaço público, a capacidade de os adultos conversarem entre si” e que “os miúdos associam ecrã a divertimento”.

Recorda também, com desagrado, a entrevista da “professora estrela da telescola” ao “Expresso”, em que “disse que não gosta de ler e que compra os livros só para os ter”.

Já sobre o impasse vivido em Bruxelas entre os chefes de Estado e de Governo dos 27, que não parecem entender-se nas ajudas à crise criada com a pandemia do novo coronavírus, os dois comentadores revelam posições menos uníssonas.

Jacinto Lucas Pires acredita num acordo, mas critica as frugalidades. “Os países tidos como frugais parece que continuam presos à narrativa moralizante da preguiça do Sul e, se isso já não fazia sentido antes, faz ainda menos sentido agora, numa pandemia que atingiu todos e que parece que ainda não perceberam que, mesmo só pensando em termos económicos, a Europa funcionará melhor quanto menos desigual for”.

“Mesmo para as economias ditas frugais, seria bom que houvesse um acordo com menos frugalidades”, reforça, criticando aquilo em que se tornou o Conselho Europeu: “são enclaves de psicodrama em que muitos chefes de Governo jogam para as plateias de casa em vez de estarem à altura do seu papel no palco europeu”.

Henrique Raposo mostra-se compreensivo com os países ditos “frugais”.

“Não aceito esta excessiva diabolização dos chamados poupadinhos – Dinamarca, Suécia, Áustria e a Holanda – porque quando, em tempos normais, falamos em políticas públicas, quais os países com maior transparência, com as políticas públicas que articulam melhor o privado com o público são estes países que lá parecem”, sustenta.

Henrique Raposo considera ainda que, “se vamos diabolizar alguém, então temos de apontar baterias à Hungria”, naquilo que vê como uma divisão “entre o Ocidente, a Velha CEE e o velho Pacto de Varsóvia, onde a questão não é a economia, é se são um Estado de Direito ou não”.

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