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Se não houvesse pandemia, quem seria campeão? Algoritmo português encontrou resposta

02 jul, 2020 - 08:15 • Inês Braga Sampaio

A LTPLabs desenvolveu um modelo que permite prever que equipas teriam vencido os campeonatos português, espanhol, inglês, francês e italiano, se a paragem devido à Covid-19 não tivesse acontecido, com base nas 12 épocas anteriores.

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Uma empresa portuguesa desenvolveu um algoritmo que permite prever qual seria o desfecho do campeonato português, e das cinco grandes Ligas europeias, se não tivesse havido paragem devido à pandemia da Covid-19 e a competição tivesse prosseguido dentro da normalidade.

A premissa é simples: "aprender com os padrões do passado para conseguir prever o futuro", conforme explica Paulo Sousa, gestor do projeto desenvolvido pela LTPLabs, em entrevista à Renascença, para perceber o que teria acontecido se não houvesse Covid-19.

Isso foi conseguido com um modelo de Machine Learning (LM) que aprende com as 12 temporadas anteriores para prever o que se passará no futuro. Ao todo, estão em jogo 100 variáveis, que vão desde o fator casa aos resultados dos últimos cinco jogos de uma equipa, do histórico de confrontos entre dois clubes ao número de remates por jogo.

"Desenvolvemos um modelo que primeiro tenta prever o resultado de um jogo específico. Precisamos de ter algum histórico, ele precisa de olhar para muitos exemplos de jogos passados para fazer a melhor previsão possível. Depois, assumimos que o campeonato tinha sido interrompido 10 jornadas antes do fim e testámos nas últimas três temporadas e, com base nesse modelo, simulámos jornada a jornada os restantes jogos e tentámos ver a classificação final. Fomos perceber se as previsões que tínhamos feito batiam com a classificação final", detalha.

O modelo é probabilístico, pelo que aponta a probabilidade de cada um dos três possíveis resultados, não o resultado certo. Ainda assim, Paulo Sousa revela que, no que se refere às principais decisões - campeão, acesso às competições europeias e descidas - o modelo desenvolvido pela LTPLabs teria uma efetividade "muito significativa":

"Olhando para o campeão nos seis principais campeonatos nas últimas três épocas, estamos a falar de 18 previsões, só num caso não ganhou a equipa que o modelo apontou como sendo a mais provável."

Futuro do algoritmo que bate as casas de apostas


O modelo da LTPLabs determinou que, sem pandemia, o Liverpool (100% de probabilidade) seria campeão em Inglaterra, o Bayern de Munique (89%) na Alemanha, o PSG (100%) em França, a Juventus (95%) em Itália, o Barcelona (79%) em Espanha e o FC Porto (68%) em Portugal. Mesmo no cenário de vivência com a Covid-19, os três primeiros já se confirmaram.

No futuro, a empresa pretende "investir e explorar a possibilidade das apostas", uma vez que acredita que pode trazer algo novo.

"Comparámos os resultados do nosso modelo com as ‘odds’ e tipicamente batíamos as ‘odds’ em termos de precisão. Podia haver interesse em utilizar um modelo deste género. Na verdade, já é um bocadinho o que eles fazem, mas podíamos trabalhar com eles para conseguir que as ‘odds’ fossem ainda mais precisas. Vemos isso como uma oportunidade, mas ainda não temos nenhum caso concreto de trabalho com casas de apostas", assume Paulo Sousa.

Excluindo as apostas, o diretor de projeto avança com uma possibilidade mais criativa e orientada aos próprios clubes de futebol:

"Se isto fosse um projeto mais longo e tivéssemos mais tempo, podíamos ir buscar informação mais detalhada sobre cada um dos jogadores, em vez de ser tanto a informação das equipas, e até poderíamos perceber, por exemplo, qual é que seria, em função do passado, o onze que o Porto teria de pôr neste jogo específico para maximizar as suas probabilidades de vitória. Utilizar estes modelos analíticos para decisões de gestão da própria equipa. Acho que isso poderia ser feito no futebol."

Um mês em teletrabalho para criar o algoritmo


Este algoritmo foi desenvolvido em pouco mais de um mês, com uma equipa de quatro pessoas em teletrabalho. Paulo Sousa, "senior manager" do projeto, refere que a maior dificuldade apareceu logo no início, na compilação de informação, que tinha de estar uniformizada.

A equipa ainda chegou a incluir variáveis como a classificação dos jogadores em videojogos como "FIFA" e "Football Manager", antes de chegar à conclusão de que pouco acrescentava. "Se quiséssemos prever desde o início do campeonato, variáveis desse género já teriam um peso maior", esclarece Paulo Sousa, nesta entrevista à Renascença.

Agora, voltar a fazer a simulação demoraria apenas "um par de horas", porque a previsão de um jogo "é extremamente rápida". Contudo, a LTPLabs ainda não o fez e, de qualquer forma, Paulo Sousa assinala que, face às condicionantes que pandemia trouxe, não faria muito sentido, porque o cálculo probabilístico do algoritmo "não é futurologia":

"O nosso modelo aprendeu com o passado para simular o futuro. Isto é válido exceto se houver alguma coisa de tal forma disruptiva que o futuro já não segue os padrões do passado. Podemos desligar algumas das variáveis, mas vai ser sempre um bocadinho dependente da nossa sensibilidade. Nós podemos dizer: ‘como agora não há público, o fator casa não conta, então vou desligá-lo’. Mas na verdade sabemos que não é bem assim, porque o fator casa ainda assim tem algum relevo. Saber exatamente qual o relevo que o fator casa passa a ter só é possível tendo histórico minimamente relevante de jogos sem público."

Comentários
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  • AA
    03 jul, 2020 Miranda do Douro 10:27
    Muito Bom!

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