24 jun, 2020
Após dez anos a descer em Portugal, a criminalidade violenta voltou a crescer no ano passado. Houve, em 2019, uma média de 40 crimes violentos por dia. O homicídio voluntário consumado aumentou 34%. A violência doméstica subiu mais de 11%. Isto aconteceu antes da pandemia.
Os primeiros dados sobre a criminalidade em 2020, durante a pandemia, parecem favoráveis, mas receio que, uma vez decorrido o resto do ano em curso, eles sejam desmentidos. Um responsável policial disse ontem à TSF: “dantes, quando a polícia chegava ao local do crime, os presumíveis criminosos fugiam; agora, voltam-se contra a polícia, agredindo-a”.
Como se sabe, na zona da Grande Lisboa e Vale do Tejo a polícia não vai limitar-se a solicitar que se desfaçam ajuntamentos de mais de 10 pessoas; irá, pela força se necessário, obrigar a que esses ajuntamentos se desfaçam mesmo. E passará multas aos infratores. O que poderá levar a atitudes e gestos de forte agressividade contra os polícias.
O ambiente de violência acentua-se entre os jovens, talvez porque foi excessivo o tempo de confinamento, atrasando o regresso à socialização nas escolas. Temos notícia de assassinatos ou tentativas de assassinato entre rapazes de 14 e 15 anos. E custa a acreditar que os filhos do ator Pedro Lima, que apareceu morto na praia do Abano, têm vindo a receber mensagens a dizer que "é bem feita terem perdido o pai". O horrível facto foi revelado na TV pela apresentadora da SIC Liliana Campos.
Também nós, jornalistas, temos que vigiar a informação que damos sobre crimes violentos. Num texto “como um grito sufocado pela dor”, Paula Lebre, mãe da jovem recentemente assassinada pelo namorado, que depois deitou o corpo dela ao rio Tejo, afirma no “Público” de segunda-feira que, na comunicação social, “continua a haver uma tendência sensacionalista e especulativa em romantizar a violência.”
Muita gente se consolava dos incómodos do confinamento com a esperança de que, uma vez ultrapassada a pandemia, teríamos um mundo melhor, mais solidário e mais pacífico. De facto, houve e há notáveis gestos e iniciativas de apoio e generosidade, visando os mais prejudicados pela pandemia, os mais pobres – muitos dos quais não têm dinheiro para comer. Mas não podemos esquecer os sinais negativos, até de ódio, que infelizmente também têm surgido.