As cidades de Lisboa, Porto, Braga, Viseu e Coimbra foram palco este sábado de manifestações contra o racismo denominada “Vidas Negras Importam”, a evocar, de forma pacífica, os protestos que ocorrem nos Estados Unidos.

Centenas de pessoas desceram algumas das principais ruas de Lisboa numa manifestação contra o racismo denominada “Vidas Negras Importam”, a evocar, de forma pacífica, os protestos que ocorrem nos Estados Unidos depois da morte de George Floyd pela polícia, em Minneapolis.

“Black Lives matter” foi uma das expressões mais ouvidas na manifestação e muitas pessoas empunhavam pequenos cartazes onde se podia ler “não quero ter medo da PSP” ou “silêncio branco é compactuar”.

A maior parte das pessoas que compõem a manifestação são jovens e a maioria dos manifestantes estava de máscara, mas sem respeitar a distância social imposta pela prevenção da Covid-19.

À passagem da sede do Bloco de Esquerda, à chegada ao Martim Moniz, estava a líder, Catarina Martins, na varanda que foi muito aplaudida.

“O povo unido jamais será vencido”, gritaram os manifestantes, entre aplausos à líder bloquista.

A marcha teve início pouco depois da 17h00 na Alameda D. Afonso Henriques, junto à Fonte Luminosa e mais de uma hora depois chegou ao Largo do Martim Moniz, com fim previsto para a Praça do Comércio.

Porto contra o racismo e precariedade laboral

Janira, 26 anos, natural da Guiné, foi uma das "mais de mil" pessoas, segundo a organização, que este sábado se juntaram, no Porto, em manifestações contra a precariedade laboral e contra o racismo.

Em declarações à Lusa, a jovem guineense, a residir em Portugal desde criança, reconheceu que nunca foi vítima de racismo, mas disse não poder ficar “indiferente” ao que se passa.

“O que aconteceu George Floyd, nos EUA, é uma coisa que pode acontecer comigo a todo o momento, porque há uma coisa que temos em comum, que é a cor da pele”, disse.

A morte de Floyd, 46 anos, aconteceu depois de um polícia norte-americano lhe ter pressionado o pescoço com um joelho durante cerca de oito minutos numa operação de detenção, apesar de a vítima dizer que não conseguia respirar.

“O que matou John Floyd naquele dia não foi o facto de ele ter tentado passar uma nota falsa, o que o matou foi a cor dele. No dia 25 de maio, em que comemoramos o dia da África, nesse dia África sofreu. 2020 tem sido um ano muito pesado não só pela pandemia, mas por situações claras de racismo, temos estado a sofrer e só queremos os nossos direitos e nada mais”, acrescentou a jovem guineense.

Para a Praça da Cordoaria, frente à antiga Cadeia da Relação do Porto, foi marcada, para as 17h00, a marcha “Resgatar o Futuro, não o lucro”, para depois seguirem até à Avenida dos Aliados, juntando-se à manifestação contra o racismo e contra o fascismo, organizada por um conjunto de associações.

Joana Cabral, dirigente do SOS Racismo disse à Lusa que as manifestações deste sábado nas cidades portuguesas são para protestar contra o que se passou no EUA, mas também “contra o que se passa no Brasil, em Portugal, em Viseu, em Lisboa, na Amadora e no Porto”.

“Não podemos esquecer esta história longa que não fez como última vítima George Floyd, vai continuar a fazer muitas outras. Temos de sair da nossa zona de conforto”, disse, referindo que as duas manifestações do Porto se uniram porque "reúnem gente que vem lutar por causas que são aparentemente mais particulares, mas que, no fundo, facilmente percebemos que fazem parte da mesma luta”.

E acrescentou: “É contra o racismo, contra o capitalismo e contra a precarização do trabalho. É preciso lembrar que uma parte significativa das pessoas precárias e que asseguraram uma parte significativa do trabalho que manteve a sociedade a funcionar durante a quarentena são, em muitos casos, pessoas com pertença a grupos étnico raciais vulneráveis e, muitas vezes, pobres”.

Da organização da marcha “Resgatar o futuro”, Raquel Azevedo, dirigente dos Precários Inflexíveis, explicou que se pretende, sobretudo, “lutar por novas escolhas, direitos mais iguais, exigir um emprego com direitos e assegurar que os mais afetados por esta crise pandémica têm a proteção social que lhes é devida”.

“Não queremos novamente ver nas nossas vidas uma segunda crise e, por isso, queremos fazer parte de uma solução que permita o combater o desemprego, a exploração e à precariedade”, acrescentou.

Em Coimbra, centenas de pessoas manifestaram-se na Praça da República contra o racismo, associando-se à “luta pela dignidade humana” na sequência da morte, em maio, do afro-americano George Floyd, sob custódia da polícia dos Estados Unidos.

A morte de George Floyd é “o ponto de viragem, de rotura, de mudança” e “hoje este protesto é uma homenagem a todos as vítimas” do racismo, da opressão, sustentou Leonardo Botelho, um dos organizadores da iniciativa em Coimbra.

“Neste dia dizemos basta”, mas isso “não chega e temos de o dizer todos os dias, sempre que há injustiças”, apelou ainda o estudante da Faculdade de Direito de Coimbra, durante a sua intervenção na manifestação.

[notícia atualizada]