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Da Capa à Contracapa

Jaime Gama. "A pandemia forçou UE a prova de vida que ninguém esperava"

06 jun, 2020 - 08:16 • José Pedro Frazão

O antigo presidente do Parlamento reflete sobre os impactos da pandemia nas sociedades e nas relações internacionais. Jaime Gama, que preside à Fundação Francisco Manuel dos Santos, admite que a China ainda pode sair como "vencedora" na crise pandémica global.

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Da Capa à Contracapa Especial - Entrevista Praça da Fundação
Da Capa à Contracapa Especial - Entrevista Praça da Fundação

A Europa saiu-se melhor do que se esperava nesta pandemia. A conclusão é de Jaime Gama, antigo presidente da Assembleia da República e atual presidente da Fundação Francisco Manuel dos Santos, num programa especial Da Capa à Contracapa, realizado na Praça da Fundação virtual daquela instituição.

O histórico chefe da diplomacia portuguesa considera que a Europa foi forçada a agir por ação do eixo Paris-Berlim e, em especial, pela ação determinante da Alemanha.

"A pandemia teve ao menos o mérito de forçar a União Europeia a fazer uma prova de vida que ninguém esperava que fizesse e que marca alguma diferença”, afirma.

Jaime Gama: “A pandemia teve o mérito de forçar a UE a fazer uma prova de vida"
Jaime Gama: “A pandemia teve o mérito de forçar a UE a fazer uma prova de vida”

“Desta vez, o eixo franco-alemão, e sobretudo a Alemanha, sentiu a necessidade de agir na medida em que a crise das dívidas públicas não era a de países como a Grécia ou Portugal, mas a de Espanha ou de Itália. E isso poderia implicar o fim do mercado único, do euro e da própria ideia de União Europeia", sustenta Gama numa entrevista à Renascença conduzida por José Pedro Frazão.

O antigo ministro dos Negócios Estrangeiros considera que Merkel "rejuvenesceu" numa crise que mostrou fragilidades a diversos níveis no chamado primeiro mundo.

“Criou-se a ideia de que a Europa e a América do Norte ficavam incólumes às pandemias e esta veio mostrar que isso não é verdade", complementa Gama que reconhece que os sistemas de saúde, políticos e científicos estavam frágeis e pouco preparados para uma crise pandémica desta dimensão.

China pode sair vencedora

O presidente da Fundação Francisco Manuel dos Santos argumenta que a pandemia "é também o efeito da globalização” e surge num contexto de grande intensidade de comunicações, tendo gerado "uma carga brutal nos decisores", pressionados também por uma opinião pública muito exigente.

Jaime Gama admite que cresceu uma tensão já existente entre Pequim e Washington, mas admite que a China pode ainda sair como "vencedora" da crise pandémica se superar o estigma da culpabilidade na origem do vírus e se conseguir conter os "criticismos" em torno da sua ação.

Jaime Gama: “Se a China é capaz de dar o passo em frente, de descobrir a vacina, é uma posição muito firme”
Jaime Gama: “Se a China é capaz de dar o passo em frente, de descobrir a vacina, é uma posição muito firme”

"Se a China sai das estatísticas globais tenho o número de vítimas que tem em comparação com outros países com muito menos população, é um triunfador. Se a China for capaz de dar o passo em frente de descobrir a vacina e, imagine, projetá-la gratuitamente através da Organização Mundial de Saúde para todo o mundo, isso será uma posição muito firme”, analisa.

“Agora, a China tem também as suas tentações. A tentação momentânea em relação a Hong Kong é a de apertar. Os Estados Unidos procuram agora agudizar essa tensão para continuar a lançar sobre a China um anátema de isolamento geoestratégico que começa com a narrativa sobre a origem do vírus", remata Jaime Gama no programa Da Capa à Contracapa, uma parceria semanal da Renascença com a Fundação Francisco Manuel dos Santos.

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