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Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
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As estranhas relações luso-espanholas

06 jun, 2020 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


As relações políticas entre Portugal e Espanha são boas, sobretudo desde que ambos entraram, ao mesmo tempo, na CEE. Mas as autoridades espanholas esquecem-se com desagradável frequência de avisar as autoridades portuguesas de decisões que afetam os dois países.

Portugal e Espanha entraram ao mesmo tempo na então CEE, hoje UE, no início de 1986. A partir daí, as relações entre os dois países aumentaram muitíssimo. Também a partir dessa altura despareceram os receios de que Espanha quisesse anexar Portugal.

Essa anexação tinha sido defendida pelo rei espanhol Afonso XIII, nos anos que precederam a Grande Guerra, a I guerra mundial (1914-1918). Mas o rei não teve apoio para esse seu projeto, nem do seu governo nem dos seus aliados.

No decorrer da II guerra mundial (1939-1945) houve momentos em que a anexação de Portugal por Espanha se tornou uma possibilidade, felizmente nunca concretizada.

Com ambos os países na CEE, o relacionamento político entre os governos de Portugal e de Espanha tornou-se francamente bom, mesmo quando os primeiros ministros dos dois países pertenciam a diferentes famílias políticas, o que neste momento nem é o caso.

Quando se realizam as periódicas reuniões entre governantes de Portugal e Espanha esse bom relacionamento é sempre destacado e louvado. No entanto, os espanhóis têm, por vezes, atitudes que levam a duvidar se as boas relações são tão sólidas como se diz.

Basicamente, as autoridades de Espanha “esquecem-se” com frequência de Portugal. O mais recente caso aconteceu na quinta-feira passada, quando a ministra espanhola do Turismo anunciou aos jornalistas que as fronteiras espanholas, com França e Portugal, seriam reabertas a 22 do corrente mês de junho.

O governo português ficou surpreendido e chocado, exigindo explicações de Madrid. O ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, lembrou que quem decide sobre a reabertura da fronteira portuguesa “é naturalmente Portugal”. E salientou que o anúncio da ministra espanhola do Turismo não se inscreve no quadro de cooperação estreita entre os dois Governos para a gestão da fronteira comum.

A cooperação luso-espanhola em matéria de fronteiras até tinha corrido bem. Só que, disse o ministro Augusto Santos Silva, “infelizmente sucedem-se declarações de ministros sectoriais do Governo de Espanha que não se inscrevem nesse quadro de coordenação estreita”.

O MNE português lembrou que já antes “Espanha tinha tomado unilateralmente uma decisão de impor quarentena a pessoas que entrassem em Espanha e comunicou que essa quarentena iria até ao fim do mês de junho”.

O caso da data da abertura da fronteira entre os dois países ficou resolvido na tarde de quinta feira. Uma “nota de esclarecimento” do Governo espanhol retificou as declarações da ministra e explicou que “a mobilidade internacional segura terá lugar a partir de 1 de julho”.

O problema é que estes não são casos isolados. Lembremos a central nuclear de Almaraz, no rio Tejo e perto de fronteira portuguesa. O Governo português só foi informado que a vida útil dessa central seria prolongada depois, e não antes, de as autoridades espanholas terem tomado essa decisão. Ou o secretismo espanhol quanto à regulação das descargas das barragens no rio Tejo em Espanha, que durou demasiadas semanas.

Começam a ser esquecimentos e atrasos de informação a mais.

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