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Vale do Rossim, um paraíso com acessos de bradar aos céus

02 jun, 2020 - 16:28 • Liliana Carona

Estrada do Vale do Rossim vai mesmo ser requalificada, garante ICNF e a Câmara de Gouveia. Entretanto, comerciantes e banhistas tecem críticas aos sucessivos anos com maus acessos.

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O presidente do Turismo do Centro alertou, recentemente, o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) para a necessidade de reparar, urgentemente, as estradas de acesso às praias fluviais mais procuradas no Centro do país, salientando o caso do Vale do Rossim, em pleno Parque Natural da Serra da Estrela.

O ICNF garante que vai ser assinando, dentro de poucos dias, o protocolo da sua requalificação. Entretanto, comerciantes e banhistas tecem críticas aos sucessivos anos com maus acessos. O autarca local lamenta que tenha de ser o município a fazer obras numa estrada que é do Estado.

Recordando que a época balnear começa já no dia 6 de junho, por decisão do Governo, o presidente do Turismo do Centro, Pedro Machado, criticou os acessos à barragem/lagoa do Vale do Rossim. Uma praia fluvial cuja água conquistou, em 2019 e novamente este ano, a “Qualidade de Ouro” atribuída pela Quercus. No entanto, os acessos, que levam os visitantes ao que o próprio presidente da Turismo do Centro designou de “pequeno paraíso”, estão cada vez mais degradados.

Logo ao primeiro cruzamento para o Vale do Rossim, na estrada N232, a sinalética denuncia o abandono a que o espaço tem estado votado, letras quase apagadas ou reescritas à mão. Entre buracos mal tapados com gravilha e outros mais fundos sem vestígio de alcatrão, a via já foi diversas vezes satirizada por internautas da região, como num vídeo em que a estrada é usada como horta comunitária.


Mas o som de uma espécie de mar calmo, na lagoa do Vale do Rossim, de água pura e cristalina, não deixa de atrair gente que, mal chegam os primeiros raios quentes de sol, desloca-se para o vale decorado a giestas amarelas.

“Este ano, é mais um ano em que a estrada de acesso continua degradada”, diz o banhista Maurício Fernandes, de 40 anos, residente em Gouveia. “É a vergonha de Gouveia, querem que haja turismo no Interior e depois num local espetacular é o abandono total. Buracos que não dá para passar com os carros”, denuncia.

Comerciantes e banhistas criticam décadas de maus acessos

Quem por ali tem comércio aberto desespera com tanto buraco na estrada e mete mãos à obra. Alexandre Batista, de 36 anos, é empregado do único bar daquela praia fluvial.

“Espalhei gravilha aqui e estes senhores também me ajudaram e uma autoridade do ICNF questionou-nos e quis autuar-nos. Aquele senhor ali também andou a tapar buracos. Segundo o que ouvimos falar, a Câmara empurra para o ICNF e o ICNF empurra para a Câmara, a responsabilidade dos maus acessos”, relata Alexandre Batista.

Também a famosa Tia Judite, de 50 anos, conhecida pelas sandes "XXL" de presunto e queijo, queixa-se que os maus acessos ao Vale do Rossim afastam os clientes. Há 40 anos que tem loja aberta na estrada nacional 232, pouco antes da nascente do Mondego, recentemente recuperada pelo município de Gouveia.

“Os acessos ao Vale do Rossim também deviam ser arranjados, desde que a estrada esteja boa, traz mais gente ao negócio. Isto tem-se degradado muito mais. A neve, a chuva, os carros. Se a estrada estiver arranjada, vêm ao meu negócio, se não estiver, fazem inversão de marcha”, lamenta.

ICNF planeia mudanças, não se sabe é quando


Os da região já se conformam com o estado da estrada que os leva ao paraíso do Vale do Rossim. Ana Jorge, de 25 anos, do Fundão e Cris Batista, de 32, da Covilhã, querem é aproveitar a água e o sossego do espaço.

“O início do acesso é complicado, mas agora há pouca gente”, sublinha Ana. "São acessos da Beira Interior, com tanta requalificação dos incêndios, não podemos pedir muito, faz parte vir para aqui estragar o carro, é toda a experiência da serra”, ironiza Cris.

Mas a experiência da Serra da Estrela não inclui ter de passar numa estrada esburacada. Pelo menos, essa não é a vontade do ICNF, garante Teresa Fidélis, diretora regional do Centro.

“O ICNF está a preparar com a Câmara Municipal de Gouveia e o conselho diretivo de baldios de Mangualde da Serra, um protocolo para a requalificação da estrada a pedido do município de Gouveia que tem tido uma colaboração excecional. E, portanto, a estrada vai ser requalificada com a colaboração da Câmara Municipal de Gouveia e acordo do Baldio de Mangualde da Serra”, assegura a responsável.

Teresa Fidélis dá conta, ainda, de que contam assiná-lo o mais brevemente possível. “Mas não posso dar datas, estamos a trabalhar para que a estrada seja concretizada o mais rápido possível, estamos em crer que está por dias a assinatura do protocolo”, conclui.

Ainda sobre a estrada do Vale do Rossim, a diretora regional do Centro do ICNF recorda que “é uma estrada inserida numa área de regime florestal parcial e em gestão com o baldio de Mangualde da Serra".

"Em tempos, foi requalificada pelo ICNF para fins de gestão florestal e essa é a sua natureza essencial, mas a estrada tem sido cada vez mais utilizada para outros fins de visitação, que não a gestão florestal e que requerem outro tipo de caminhos/condições, que o ICNF autoriza, ou seja, para facilitar essa circulação de outros veículos para o qual esta estrada não estava vocacionada”, acrescenta.

Questionada sobre o facto de não ter havido ninguém do Parque Natural da Serra da Estrela a prestar declarações no terreno, Teresa Fidélis, diretora regional do centro do ICNF, sediado em Coimbra, justifica: "Têm serviços em Seia e Manteigas e, sim, temos pessoas presentes na Serra da Estrela, mas foi entendido que eu devia prestar o depoimento.”

Protocolo à vista, com obra prometida (não se sabe ainda para quando) e pouco interessa para quem vem de fora com vontade de aproveitar o paraíso cá dentro. Stefan Millor, 60 anos, da Suíça, sorri ao passar de jipe na estrada: “Está horrível, está cheia de buracos, mas é a natureza, talvez assim esteja bem".

Gouveia vai pagar obra em estrada do Estado

O presidente da Câmara de Gouveia, Luís Tadeu, confirma à Renascença a existência do protocolo, depois de ter tido a informação que “da parte do ICNF não iam fazer qualquer investimento, numa estrada que é deles, do Estado e do ICNF”.

“Nós apenas ficamos com a autorização de fazer a manutenção da estrada que continua a ser do ICNF. Nós não podíamos continuar com a estrada como estava, numa altura em que queremos turistas e no âmbito da campanha que a Comunidade Intermunicipal das Beiras e Serra da Estrela, está a promover, tivemos que avançar nós, tapando os buracos e já estamos a fazê-lo com tuvenan e depois cilindrado”, explica o autarca.

Luís Tadeu não está satisfeito com a solução. “À semelhança de todo o investimento no âmbito da covid-19 que coube à Câmara, também o Estado central não quer saber de uma infraestrutura sua, cujo estado se arrasta há décadas”.

Acrescenta que “a Câmara Municipal não tinha responsabilidade na estrada, passará a ter depois da assinatura no protocolo e durante um período ainda a estipular (pode ser por 15 anos) não ganhamos autonomia, ganhamos despesa. Tal como na nascente do Mondeguinho, são espaços que não são da responsabilidade do município, mas que nós cuidamos”, denuncia.

O autarca realçou também o papel da operadora Meo, que “fez um investimento forte ali no Vale do Rossim para melhorar a capacidade de sinal e das comunicações dos bombeiros”.

Para já, a autarquia de Gouveia deixa a promessa: “comprometemo-nos regularmente a ir passando e corrigindo aquele acesso, mas a requalificação de 400 mil euros vai ter de ir para Tribunal de Contas, ou seja, para este verão é impossível, para o ano temos tempo para ter os pareceres todos e contamos com a obra feita em 2021, sendo que o financiamento de 400 mil euros vai ser totalmente nosso”, anuncia Luís Tadeu.

Ainda sobre a situação do Vale do Rossim, o presidente da Câmara de Gouveia refere que aquele espaço “é muito ‘sui generis’, com processos em tribunal a decorrer, desde logo a legitimidade de as pessoas que lá estão a explorar aquele espaço, lá estarem”.

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  • Maria Aguiar Pereira
    02 jun, 2020 PEDRAS PRETAS em PORTO SANTO 16:53
    São todos os acessos às MARAVILHAS QUE TEMOS NO NOSSO QUERIDO E ADORADO PAÍS QUE TEM DE HAVER DINHEIRO PARA SER INTELIGENTEMENTE APLICADO E OBVIAMENTE BEM GASTO. O ESTADO ESTÁ CEGO PARA O QUE DEVE SER FEITO URGENTEMENTE "DE OBRAS DE CAPITAL IMPORTÂNCIA " PARA O NOSSO PAÍS, PARA OS PORTUGUESES E PARA QUEM NOS VISITA.

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