Emissão Renascença | Ouvir Online
Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
A+ / A-

Danos colaterais dos apoios às empresas

02 jun, 2020 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


O Estado tem que apoiar em força muitas empresas, para que estas não desapareçam por causa da pandemia. Mas há que ter atenção para não agravar a conhecida promiscuidade entre política e negócios.

António Costa Silva, o professor do Técnico e gestor (na Partex, que já não está ligada à Gulbenkian), vai ser nomeado conselheiro especial de António Costa. É pena que esta nomeação oficial e pública não tivesse sido feita há um mês, quando A. Costa Silva começou a trabalhar, “pro bono”, num plano de recuperação da economia portuguesa, como o próprio disse à RTP. As negociações, as decisões e a definição das prioridades cabem, naturalmente, ao Governo

Tirando este pormenor de a sua colaboração ter sido segredo durante mais de um mês (porquê?!), é uma excelente escolha. A independência e a visão estratégica de A. Costa e Silva são conhecidas; mais do que uma vez criticou decisões governamentais. E os receios dos partidos de que o conselheiro viesse negociar com eles ou coordenar ministros ou, ainda, decidir prioridades foram totalmente afastados pelo próprio na entrevista ao telejornal de domingo, na RTP.

O montante e as condições da ajuda financeira da UE ainda não são conhecidos. Mas, espera-se, serão significativos e adequados ao brutal choque da profunda recessão portuguesa provocada pela pandemia.

Os apoios às empresas inevitavelmente irão provocar problemas complicados. Levanta-se aqui o risco de essas ajudas, ou algumas delas, aumentarem a crónica dependência do Estado de muitas empresas privadas portuguesas e intensificarem a conhecida promiscuidade entre políticos e empresários e/ou gestores.

Por outro lado, não se podem apoiar todas as empresas existentes no país. Terá de haver escolhas, que serão do Governo. Mas importa conseguir o máximo possível de transparência nos critérios utilizados para aquelas escolhas, ao contrário do que lamentavelmente aconteceu com os apoios aos meios de comunicação social.

Também é necessário preservar uma sã concorrência nos mercados. Como o fazer, se umas empresas recebem ajudas estatais e outras não? Aí está uma questão sobre a qual o conselho do prof. A. Costa e Silva poderá ser de grande importância.

A dependência do Estado é o grande e secular problema do empresariado privado nacional. Se queremos uma iniciativa privada mais forte e mais autónoma dos governos teremos de lutar contra essa dependência. Numa altura em que o apoio do Estado é indispensável, vai ser precisa a visão estratégica do conselheiro Costa Silva para reduzir tanto quanto possível os danos colaterais dos apoios às empresas.

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.