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Transportes

Utilizadores das carreiras no Porto queixam-se de falta de oferta. Operadores dizem estar no limite

27 mai, 2020 - 16:20 • Inês Rocha

Transportadoras privadas reduziram oferta para cerca de 30%. ANTROP avisa: se junho trouxer pico de procura nos transportes privados, “não temos capacidade para reforçar a oferta”.

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Utentes das carreiras do Porto queixam-se de falta de oferta
Utentes das carreiras do Porto queixam-se de falta de oferta

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Nas ruas do Porto, os habitantes das periferias da Área Metropolitana, que têm de confiar em operadores privados como a Gondomarense, a MGS, a Espírito Santo ou a Maia Transportes para se deslocarem, queixam-se de falta de oferta e, consequentemente, de terem de andar em autocarros cheios, sem cumprir o distanciamento social.

Questionada pela Renascença, a Associação Nacional de Transportes de Passageiros (ANTROP) avisa que as empresas estão no limite da sua capacidade e se, em junho, houver um pico de procura, os operadores não serão capazes, sozinhos, de reforçar a oferta.

Luís Cabaço Martins, presidente da ANTROP, explica que, de acordo com o negociado com o Governo, os operadores reduziram para 30% os transportes em circulação e que, neste momento, “a oferta se adequa à procura”.

“Admito que possa haver um ou dois horários com maior pressão. Mas em termos gerais, a informação que os operadores me fizeram chegar é de que a oferta é suficiente para a procura que neste momento existe, no mês de maio”. Ainda assim, os operadores não têm margem para mais oferta, sem apoios do Estado.

“Se em junho houver um salto, com necessidade de reforçar mais 10 ou 15% da oferta, nós não temos capacidade financeira para isso. Senão as empresas não aguentam e fecham. O Governo está alertado”, diz à Renascença.

Luís Cabaço Martins adianta que os associados da ANTROP, nos últimos meses, tiveram quebras de faturação na ordem dos 60 milhões de euros por mês. Os prejuízos rondam os 20 milhões de euros, só em abril.

“Só conseguiremos aguentar se for por pouco tempo. Conseguimos aguentar as empresas a funcionar, com muita dificuldade. Se for para fora das áreas metropolitanas as dificuldades são muito maiores. O apoio do Governo passa de 30% para 10%. O resto era sobretudo transporte escolar. Com escolas fechadas foi um descalabro”, explica.

Luís Cabaço Martins dá o exemplo da STCP, que está a funcionar com 95% da oferta habitual e com a procura de cerca de 30%. “Nós podíamos fazer o mesmo, se conseguíssemos suportar esse prejuízo. Uma empresa privada não consegue fazer isso”, garante.

Com cerca de 60% dos motoristas em “lay-off”, diz que preferia que todos voltassem ao trabalho e que o Estado poupasse esse dinheiro. “Apoiem-nos mais, a população ganha com isso”, pede.

O dirigente da ANTROP considera que a resposta do Governo a estas questões tem sido “bastante cautelosa”. “Está a avaliar as situações, semana a semana”, diz.


Distanciamento social insuficiente? “A nossa opção é cumprir a lei e não discuti-la”

Quanto às acusações de nem sempre cumprirem as regras de distanciamento social, Luís Cabaço Martins diz que a obrigação dos operadores é apenas cumprir a lei e não questioná-la.

As normas da Direção Geral da Saúde (DGS) para os transportes indicam que os operadores devem reduzir a capacidade a dois terços da ocupação normal. No caso de um autocarro com 80 lugares, por exemplo, 50 sentados e 30 em pé, o limite vai ser de cerca de 52 pessoas – o que faz com que o autocarro encha.

“Se tiver 50 e tal pessoas, estou dentro dos limites legais, mas se tiver concentradas 20 ou 30 pessoas junto à porta de saída, posso estar a criar a perceção de que o autocarro vai cheio e estamos a cumprir a lotação”, diz o presidente da ANTROP.

“A nossa opção é cumprir a lei e não discuti-la. Não sei se dois terços é correto, mas não nos vai ouvir opinar, porque não temos competência para isso”, garante.

As opções dos vários países europeus, no que toca à limitação da capacidade dos transportes, têm sido bastante distintas. No Reino Unido, por exemplo, os transportes circulam apenas com 10% da capacidade normal. Em França, o limite está nos 15%. Já na Alemanha, não houve qualquer corte – os transportes circulam com 100% da capacidade.

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