27 mai, 2020
Evoca-se por estes dias o 5.º aniversário da encíclica "Laudato Si’", publicada pelo Papa Francisco em maio de 2015, que assinalou a definitiva consagração do ambientalismo como valor nuclear da moderna Doutrina Social da Igreja. Partindo de um diagnóstico preocupado e crítico do desenvolvimento consumista e da exaustão dos recursos do planeta, e apelando a uma “ecologia integral” que reduza o peso da pegada ecológica, o Santo Padre deixou, na verdade, um forte apelo a um compromisso inter-geracional no “cuidado da casa comum”. Viemos a esta vida, diz-nos a "Laudato Si’", e estamos neste mundo não para o exaurir, mas para o habitarmos de forma responsável e prudente, porque o recebemos das gerações anteriores e temos de o deixar sustentável para os vindouros. A não ser os negacionistas das alterações climáticas ou os lóbis dos combustíveis fósseis, ninguém discordará disto.
A "Laudato Si’" do Papa Francisco é uma reiteração contemporânea do Cântico das Criaturas de um outro Francisco. O Santo medieval de Assis encarava a Terra como “Mãe” e todos os seus recursos como “Irmãos”. O parentesco poético é a metáfora de um respeito que se perdeu. E é porque se perdeu que a encíclica é de (re)leitura importante. Se calhar não por acaso, e segundo os dados da Global Footprint Network e da associação ambientalista portuguesa Zero, anteontem, dia 25 de maio, os portugueses “esgotaram” os recursos naturais que tinham disponíveis para este ano. A partir daqui, quando ainda falta mais de meio ano de 2020, o que gastarmos é a crédito sobre o ano que vem. E assim acontece sucessivamente, ano após ano. Se viver a crédito bancário já é mau, viver a crédito do planeta é péssimo, porque o planeta não é um banco emissor capaz de criar “moeda” conforme as necessidades.