27 mai, 2020 - 18:15 • Pedro Azevedo
Falta uma semana para a retoma. Às sete da tarde do dia 3 de Junho, o Portimonense-Gil Vicente acaba com uma pausa competitiva de 87 dias, quase três meses, provocada pela pandemia da Covid-19.
As equipas maioritariamente recomeçaram a treinar este mês e as sessões coletivas arrancaram no dia 18, de acordo com o estabelecido pela Direção-Geral da Saúde.
Com tão pouco tempo de trabalho em grupo, Nuno Teixeira, docente universitário no mestrado de treino desportivo, no ISMAI, recomenda às equipas técnicas muito treino tático, até ao primeiro jogo.
“Deve incidir em tudo o que privilegie o aspeto tático, o jogo jogado, o conjunto, isto porque os jogadores, acima de tudo, estão a precisar de ritmo de jogo. Acredito que no aspeto físico o que tinham de fazer já o fizeram, e o que não fizeram sucedeu porque não havia condições para tal, como por exemplo ter uma preparação física mais especifica ainda, com ritmos diferentes e com uma intensidade de confrontos físicos que muitas das vezes só se reproduz em jogo”, detalha.
Em entrevista a Bola Branca, Nuno Teixeira argumenta a sua ideia com as diferenças que se registam com ou sem competição.
“Ainda que se faça um treino coletivo, entre duas equipas do mesmo plantel, provavelmente irá faltar, pela questão da defesa da integridade física do colega, a agressividade natural do adversário. Mesmo que o treino incorpore situações de 'sparring', faltarão as movimentações ou as tomadas de decisão individuais dos adversários. Contudo, e apesar destas faltas, parece-me ser a melhor e quase única atitude a tomar, ou seja, muito treino de conjunto, para aprimorar os aspetos táticos, com intensidade, a mais elevada possível e com toda a atenção ao detalhe, pois vai ser nos detalhes que estes jogos, principalmente os primeiros dois ou três, se vão resolver”, antevê.
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Com a retoma do campeonato, as equipas vão jogar em média em cada cinco dias. A planificação da preparação para ciclos tão curtos entre os jogos é outro aspeto a considerar pelas equipas técnicas.
“Uma vez mais, este campeonato vai demonstrar os desequilíbrios entre os clubes habituados aos lugares cimeiros e os restantes. Os clubes dos lugares cimeiros estão habituados a estes ciclos de preparação de jogos mais curtos, devido às competições europeias. Mas apesar dessa desvantagem, na preparação deste tipo de ciclos, hoje em dia, não existe um único elemento de qualquer equipa técnica que não saiba programá-los", observa.
"A seguir ao jogo, vem o treino de recuperação ativa, com retificação de erros pontuais; no segundo dia a continuação da recuperação ativa com resistência especifica; depois treino direcionado à velocidade específica e por último um treino de velocidade de reação com recuperação ativa”, explica Nuno Teixeira.
O docente universitário acrescenta a relevância que terá na retoma e entre os jogos a preparação mental dos jogadores.
“O problema não é a preparação ou sua aplicação, o problema é a construção psicológica dos jogadores (como é obvio para aqueles que estão habituados às competições europeias, será mais fácil, pelo traquejo que têm) e nessa construção psicológica dos jogadores, irão ter mais sucesso os clubes, cujas equipas técnicas consigam, por um lado, sossegar as mentes dos jogadores e por outro lado, estimulá-los para as diversas batalhas que surgirão jornada a jornada”, refere.
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As lesões estão a marcar o regresso do campeonato alemão. Em Portugal já há lesões a destacar nos treinos. Nuno Teixeira teme pelo aumento de casos de jogadores lesionados.
“Espero que não, mas temo que sim porque o que estamos a pedir aos jogadores é que apesar de todas as circunstâncias, encarem os jogos, como autênticas finais, porque para muitos clubes serão, devido aos seus objetivos. Por isso, os jogadores entrarão em campo com uma falsa sensação de descanso e com uma falta evidente de ritmo de jogo que lhes dará a sensação de não estarem a conseguir dar o seu máximo e consequentemente forçarem e colocarem-se em risco, em perigo de lesão”, antecipa.
Para combater este problema, Nuno Teixeira considera que a Liga deu um passo importante.
“Foi aprovado o aumento para nove jogadores no banco, e cinco substituições por jogo, o que irá ajudar os clubes a ter uma gestão do seu plantel de forma mais ajustada às circunstâncias. Sem dúvida que sairão favorecidos os clubes com planteis mais equilibrados, não necessariamente os mais fortes, mas sim os mais equilibrados, pois não se deve sentir dentro das quatro linhas essas mesmas substituições, mantendo a intensidade e de preferência, sem grande desnível de qualidade, fazendo com que a prestação da equipa se mantenha num ponto elevado, durante mais tempo, sem correr grandes riscos” argumenta.
A Primeira Liga será retomada a 3 de junho. Estão por realizar dez jornadas. O FC Porto lidera a classificação com um ponto de vantagem sobre o Benfica.
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