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Jorge Silvério: “Futebol regressa numa fase excelente para os jogadores”

26 mai, 2020 - 12:45 • Pedro Azevedo

O primeiro mestre em psicologia do desporto em Portugal considera que, após a saturação provocada pelo confinamento, o retorno do futebol favorece os jogadores

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O campeonato recomeça na próxima semana e a esta distância, Jorge Silvério, doutorado em psicologia do desporto, considera que apesar de algum receio por parte dos jogadores, o regresso da Liga de futebol chega num excelente momento depois de um período de saturação vivido no confinamento.

"A possibilidade do futebol regressar, na I Liga, é excelente porque permite que os atletas voltem a fazer aquilo que gostam. É uma fase de esperança, mas misturada com algum receio. Não tanto em relação aos atletas porque não constituem um grupo de risco e têm fatores protetores como o exercício físico e a idade, mas sobretudo o receio em relação à família, nomeadamente os que vivem com pessoas mais idosas ou que têm algum problema de saúde e pertencem a grupos de risco”, analisa em entrevista a Bola Branca.

O especialista em psicologia desportiva recorda as consequências da pandemia da Covid-19 e as diferentes fases do confinamento a que a população - e os jogadores em específico - tiveram de suportar.

“A primeira fase que passamos na reação à pandemia foi de choque porque não estaríamos a contar com isto. Depois, no confinamento, entramos numa fase de habituação. Ao fim de algum tempo entrou-se numa fase de cansaço e saturação porque as pessoas começaram a ficar fartas de estar em casa e nessa rotina que se tornou bastante monótona", afirma.

Importância das respostas aos jogadores

O receio, as dúvidas e as inquietações dos jogadores no regresso à competição são aspetos que terão de ser trabalhados ao nível mental pelas equipas médicas e pelos psicólogos.

“A comunicação é muito importante e que as equipas médicas e os psicólogos, no caso de existirem, ajudem os atletas a ultrapassar esta fase, respondendo a todas dúvidas e inquietações. Nas equipas em que exista psicólogo, o apoio psicológico é muito importante nesta fase de retorno de uma competição que necessariamente será diferente. É natural que no início haja algum receio, mas à medida que vai havendo mais jogos e com a existência prévia de treinos em grupo, vai ajudar um pouco nessa ultrapassagem”, antevê.

Efeito da porta fechada

Os jogos serão à porta fechada, o que pode mitigar o peso desportivo do fator casa. Jorge Silvério elaborou um estudo sobre a vantagem de jogar em casa e concluiu que é uma vantagem em Portugal, sobretudo devido à presença dos adeptos. Com as bancadas vazias o psicólogo do desporto defende que as vantagens para quem joga em casa não será tão elevada.

“Conduzimos um estudo sobre a vantagem de jogar em casa e verificamos que essa vantagem existe na I Liga de futebol em Portugal. E um dos fatores que explicam é precisamente a presença de adeptos. Mas não vai haver adeptos e nesse aspeto será igual para todos”, refere Jorge Silvério.

Mudança dos comportamentos

Os jogadores terão de ter em conta um conjunto de restrições como não haver cumprimentos nem abraços, bem como a distância social nos bancos. Jorge Silvério antevê que as dificuldades na adaptação aos novos comportamentos poderão ser uma realidade apenas nos primeiros jogos.

“Vai ser pedido aos jogadores que tenham comportamentos diferentes em relação aos que estão habituados a ter como não se cumprimentarem, e não se aproximarem na celebração de golos. É natural que no início das competições e na parte final dos jogos em que os fatores emocionais começam a dominar, seja mais difícil adotarem estes novos comportamentos. Mas à medida que os jogos forem decorrendo é provável que já consigam mais facilmente implementar essa mudança”, acredita

Perante tudo o que rodeia o regresso da Liga, Bola Branca questionou Jorge Silvério sobre qual pode ser o elemento chave para os ultrapassarem a situação difícil do conjunto de restrições que os jogadores terão de enfrentar.

“Os humanos têm uma grande capacidade de adaptação. A capacidade de lidar com adversidades, o que eu chamo de tenacidade, um conceito que tenho vindo a trabalhar, os atletas têm isso bem desenvolvido porque já se confrontaram com situações difíceis. Para eles é mais uma situação difícil e a tenacidade vai certamente ajudá-los a superar este tipo de situações”, explica.

O campeonato regressa a 3 de junho, com um Portimonense-Gil Vicente e um Famalicão-FC Porto, que terá relato na Renascença e acompanhamento ao minuto em rr.sapo.pt.

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