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Pandemia de Covid-19

Artistas. “É preciso ajudar já” e “não vai ser fácil” abrir as salas na próxima semana

25 mai, 2020 - 09:54 • Marta Grosso , Miguel Coelho (entrevista)

“Há muita gente a passar fome” e muitos “não o querem dizer”, revela Paula de Carvalho, do Movimento pelos Profissionais de Artes Performativas à Renascença.

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Não vai ser fácil abrir as salas de espetáculos na próxima segunda-feira. As regras que estão pensadas para a reabertura de portas tornam os espetáculos inviáveis do ponto de vista financeiro, afirma Paula de Carvalho, do Movimento pelos Profissionais de Artes Performativas.

“Não vai ser fácil abrir. As pessoas não têm condições. Estão paradas desde março e muitas pessoas tiveram de devolver todo o dinheiro que já tinham de bilhetes, tiveram de pagar ‘lay-offs’ adiantados e as condições não são as melhores para começar no dia 1 de junho”, refere.


No programa As Três da Manhã, Paula de Carvalho refere o exemplo do Politeama.

“O Filipe La Féria deu o exemplo. O Politeama tem 700 e tal lugares e só pode abrir com 100. Com 100, não se consegue pagar um espetáculo. Com 100 pessoas e se as pessoas forem. As pessoas estão a ir à praia, mas vão ao teatro? Vão ouvir fado? Como vai ser?”, questiona.

“Algumas empresas não têm já capacidade para abrir”, acrescenta.

Paula de Carvalho defende um apoio imediato ao regresso da cultura, com financiamento a fundo perdido.

“Precisamos, provavelmente, de 30 milhões na mão, mas precisamos de apoio a fundo perdido, que foi o que fizeram outros países, nomeadamente Inglaterra, Itália, França, Alemanha”, refere.

Apoio? “Houve pessoas a receber 50 euros”

Paula de Carvalho explica que os artistas “têm contratos de três meses e depois estão quatro ou cinco sem trabalhar. Chama-se a isso intermitência e é exatamente a situação que já há muitos anos é falada pelos artistas e não é resolvida”.

Nesse sentido, existe uma proposta seja criada “uma espécie de seguro” – tal como há “em França, também na Bélgica e no Luxemburgo” – para que, “quando ficam sem trabalho, tenham sempre algo a que se agarrar”.

Mas isso não acontece em Portugal e agora, neste tempo de pandemia que obrigou ao confinamento e consequente encerramento de tantas atividades, o que a Segurança Social fez foi “uma espécie de soma dos últimos meses, viu quanto dava e houve pessoas a receber 50 euros”, denuncia a responsável.

“E estas pessoas descontam. Não descontam muito, mas descontam”, sublinha, adiantando que “os recibos verdes dos artistas não são falsos – é assim que eles trabalham”.

Os últimos meses têm, por isso, sido muito difíceis para muita gente. “É uma situação complicada, há muita gente a passar fome, muitos dos mais novos, gente que começou há muito pouco tempo”, afirma Paula de Carvalho.

“Há também pessoas que não o querem dizer e isso é complicado”, acrescenta.

Por isso, “é preciso ajudar já”, apela. “Se não se fizer nada, esta gente vai acabar por desmotivar na sua paixão, que é a arte, a cultura”, lamenta.

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