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Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
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​China: um país, um sistema

25 mai, 2020 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


A China vai travar ainda mais as liberdades em Hong Kong. O princípio “um país, dois sistemas” deixou de ter sentido em Hong Kong. Mas a existência de Taiwan levanta a possibilidade de um conflito militar da China com os EUA.

Os protestos a favor da democracia e os confrontos com a polícia regressaram a Hong Kong, depois de uma pausa devida à pandemia. Desta vez, porém, há razões acrescidas para recear o pior naquele território.

Hong Kong era uma colónia do Reino Unido, que em 1997 passou para a soberania chinesa. Nessa altura foi assinada pela China e pelo Reino Unido uma declaração conjunta, onde se assegurava que, até 2047, as liberdades democráticas seriam mantidas em Hong Kong. Era uma manifestação daquilo o poder ditatorial de Pequim dizia ser o princípio de “um país, dois sistemas”.
Nos últimos anos a chefe do governo de Hong Kong, Carrie Lam, foi, na prática, limitando muito essas liberdades, obedecendo fielmente às orientações de Pequim. Mas agora é diretamente de Pequim – e, no que respeita a Hong Kong, passando por cima do Conselho Legislativo da região - que o Congresso Nacional, afeto a Xi Jinping, irá esta semana votar uma “lei de segurança nacional” que proíbe e criminaliza a “atividade separatista e subversiva”.
Ora, na China, uma manifestação de protesto é considerada como um ato subversivo. Ou seja, as liberdades cívicas de Hong Kong serão ainda mais cerceadas a partir daqui, o que contraria a “declaração conjunta” de 1997. O último governador britânico de Hong Kong, Chris Patten, um dos negociadores da transição da soberania do território, logo denunciou este atropelo aos compromissos chineses, afirmando não ser possível acreditar na China.
Interessa aos chineses manter Hong Kong como praça financeira. Mas Xi Xinping, que instituiu no seu país uma ditadura que controla através de vários meios electrónicos a população, quer afirmar ao mundo que as democracias liberais estão ultrapassadas e que o futuro está nos regimes autoritários, como o chinês. Nada que não fosse dito há cerca de um século, quando emergiram os totalitarismos.
Um país, um sistema, parece ser o objetivo de Xi. Só que surge, aqui, um obstáculo complicado: Taiwan, a antiga Formosa. Quando, em 1949, terminou a guerra civil chinesa, com a vitória dos comunistas e a derrota de Chiang Kai-shek, muitos dos derrotados refugiaram-se em Taiwan. Vivem ali, hoje, cerca de 24 milhões de pessoas, num regime de democracia liberal.
O partido comunista chinês não aceita a independência de Taiwan. E só estabelece relações diplomáticas com países que renunciem a ter embaixadores em Taiwan. Aconteceu com Portugal e muitos outros países.
Mas os EUA há décadas que apoiam militarmente Taiwan, transmitindo a mensagem a Pequim de que se oporá pela força a qualquer tentativa chinesa para invadir aquele território. Felizmente, e ao contrário de tantas e tão infelizes mudanças, Trump manteve esta posição.
Entretanto, a ditadura de Xi Jinping não poupa ameaças militares a Taiwan e insiste que este é território chinês. Segundo o “Público”, o primeiro-ministro da China, Li Keqiang, reafirmou que se oporá a “qualquer atividade separatista que busque a independência de Taiwan”, e – mais grave – omitiu a palavra “pacífica”, habitualmente referida como um requisito para a integração de Taiwan na China.
O que coloca no horizonte a possibilidade de um conflito militar da China com os EUA.

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