22 mai, 2020 - 19:15 • Joana Bourgard
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Isaura Fernandes vive em Paio Pires e trabalha na restauração em Lisboa. De quarta-feira a domingo, ruma à capital para cozinhar o jantar dos clientes da Taberna da Esperança, na Madragoa. Apanha o barco em Cacilhas pelas 17h30 e regressa já depois da meia noite, hora a que fecha a cozinha do restaurante.
"Antes do estado de emergência, havia pelo menos três autocarros que podia apanhar", quando chegava a Cacilhas. Agora estão reduzidos a um e os passageiros que viajam para Paio Pires têm de se amontoar num único autocarro. "Ontem eram mais de pé do que sentados", critica Isaura.
Em abril, a Transportes Sul do Tejo (TST) colocou 545 dos seus 1.040 colaboradores em lay-off devido a uma diminuição de 90% no número de passageiros, durante o mês de março.
A Renascença esteve no terminal da TST, em Cacilhas, onde vários utentes se concentravam nas paragens à espera dos autocarros. As principais queixas centram-se na escassa frequência dos autocarros.
Apesar de na aplicação aparecerem os horários completos, há autocarros suprimidos sem aviso prévio. Os motoristas não têm qualquer separação dos passageiros, que após longas esperas entram pela porta da frente sem respeitarem a distância de segurança.
Promover a separação do motorista dos utentes é uma das orientações da DGS: "Onde não exista uma separação física, considerar, por exemplo, a adaptação do circuito dos passageiros para utilizarem exclusivamente as portas traseiras e proceder à delimitação de uma distância de segurança entre os passageiros e o motorista através de fita sinalizadora". Nenhuma destas recomendações está a ser aplicada no terminal de autocarros de Cacilhas.
"Não reduzir o número de veículos ou carruagens em direta proporção com a redução esperada do número de utilizadores, mas adaptar o mesmo de forma a assegurar a distância mínima entre os utilizadores" é outra das orientações da DGS para os transportes coletivos. Uma impossibilidade no caso da TST onde se verificou uma redução de cerca de 50% de trabalhadores.
A Renascença tentou entrar em contacto com a TST, mas todos os números para onde ligou foram parar à caixa de correio.
Leandro Santos, residente em Almada, é enfermeiro no Hospital de São José, em Lisboa, e continuou a viajar de barco durante o estado de emergência.
"Até há duas semanas, havia menos gente e as cancelas restringiam as entradas quando era atingido o número máximo de pessoas. Desde que terminou o estado de emergência, as cancelas deixaram de restringir a entrada e os barcos vão com demasiadas pessoas", alerta o enfermeiro.
Junto aos torniquetes está um funcionário a distribuir álcool-gel, mas a prevenção falha quando os passageiros se aglomeram na sala que dá acesso ao barco, sem respeitarem a distância de segurança entre si (dois metros).
Questionada pela Renascença, a Transtejo Soflusa (TTSL) refere que "o número de passageiros embarcados é controlado pelo sistema de validação (validadores e torniquetes), o qual tem ligação direta ao sistema informático de controlo de passageiros e lotação do navio".
Comparativamente ao período homólogo de 2019, entre 3 a 15 de maio de 2020 a empresa registou uma quebra de procura de 77% no global da atividade das cinco ligações fluviais. Em termos de evolução diária e semanal, nota-se uma tendência de crescimento do número de passageiros, embora ligeiro.
De forma a responder ao aumento gradual de passageiros, a TTSL adicionou a opção de lotação de passageiros por embarque à sua "app", disponível para dispositivos Android e iOS.
Na quinta-feira de manhã cedo, a Renascença apanhou o comboio da Amadora até à Estação de Entrecampos, às 7h30, em plena hora de ponta. Na plataforma, onde antes da pandemia se concentravam várias dezenas de pessoas, agora são poucas as que aguardam pelos comboios em direção ao Oriente e ao Rossio.
Outra directriz diz respeito à promoção do distanciamento social entre utentes. "Sinalizar os lugares onde as pessoas se devem sentar, quando o meio de transporte o permita, por forma a garantir o distanciamento recomendado entre passageiros", lê-se na nota. Em nenhuma carruagem existem lugares interditos, deixando o distanciamento à responsabilidade dos viajantes.
Há muito que o Metropolitano de Lisboa deixou de ter as habituais horas de ponta, de manhã e à tarde. Antes da pandemia os utentes do Metro de Lisboa sabiam que as filas das máquinas de venda de bilhetes eram certas, sempre com turistas atrapalhados com as opções de venda, e que viajar sentado era um tiro de sorte a qualquer hora do dia.
Depois da pandemia, as carruagens e estações do Metro de Lisboa parecem ter permanecido em tempo de estado de emergência. Sem filas, nem encontrões, as estações do metro são perturbadas apenas pelos avisos sonoros da chegada das carruagens.
No painel luminoso desapareceu o demorado tempo de espera de muitos minutos (muitas vezes mais de dez minutos), para um tempo de apenas quatro minutos, onde se lê a mensagem: "Proteja-se a si e aos outros. Evite aglomerações nas entradas e saídas e utilize a plataforma na totalidade."
É esperado que os utentes minimizem os cruzamentos entre si, nomeadamente em entradas e saídas do veículo, deixando passar primeiro quem está a sair.