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Uma em cada dez pessoas infetadas em África está na Cidade do Cabo

21 mai, 2020 - 19:35 • Lusa

No final do ano, cerca de 13 milhões dos 57 milhões de sul-africanos poderão estar infetados, de acordo com um estudo feito pelo Centro de Modelação e Simulação.

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Uma em cada dez pessoas infetadas com a Covid-19 em África está na Cidade do Cabo, África do Sul, o país do continente africano com mais casos do novo coronavírus.

O popular destino turístico no extremo sul de África tinha mais de 11.000 casos confirmados até esta quinta-feira, representando 62% dos 18.000 casos da África do Sul e cerca de 10% dos 95.000 casos no continente.

Previa-se que a província de Gauteng, onde está localizada Joanesburgo, a maior cidade da África do Sul, e a capital, Pretória, fossem o epicentro da infeção do país devido à sua densidade populacional e níveis de pobreza, mas a Cidade do Cabo desafiou as previsões com elevados níveis de transmissão comunitária.

O ministro da Saúde, Zwelini Mkhize, reconheceu aos jornalistas: “Nenhum modelo previu antecipadamente o que vemos no Cabo Ocidental [província]”.

“A explosão de casos no Cabo Ocidental está fora do alcance esperado e pode ser que necessitemos de intervenções adicionais para tentar conter esses números”, adiantou

As montanhas e as praias da Cidade do Cabo podem ter contribuído para o elevado número de casos de covid-19. Com voos diretos para várias capitais europeias, acredita-se que turistas que não apresentavam sintomas trouxeram o vírus e este começou a propagar-se sem ser detetado.

Espera-se que a Cidade do Cabo atinja o pico de casos por volta do final de junho, enquanto o resto da África do Sul deverá atingi-lo em agosto ou setembro.

A África do Sul poderá registar entre 40.000 a 45.000 mortes até novembro, de acordo com o Centro de Modelação e Simulação, África, um grupo de cientistas e académicos que aconselham o Governo.

No final do ano, cerca de 13 milhões dos 57 milhões de sul-africanos poderão estar infetados, segundo este estudo.

Embora a África do Sul disponha alegadamente de camas hospitalares adequadas, continua a ter falta de instalações de cuidados intensivos.

O país tem cerca de 3.300 camas de cuidados intensivos, mas as previsões sugerem que poderão ser necessárias mais de 20.000.

"Não se trata apenas de camas, mas de pessoal formado e ventiladores que serão necessários e que são difíceis de fornecer rapidamente”, disse Juliet Pulliam, diretora do Centro Sul-Africano de Modelação e Análise Epidemiológica, que contribuiu para o estudo. A Cidade do Cabo poderá ter falta de camas nas Unidades de Cuidados Intensivos (UCI) até ao final de junho, alertou.

A Cidade do Cabo e a província do Cabo Ocidental estão seis a oito semanas à frente do resto da África do Sul no surto, afirmaram especialistas em saúde.

"Estamos a partilhar com o resto do país as lições que estamos a aprender agora”, afirmou Nomafrench Mbombo, a principal responsável pela saúde da província do Cabo Ocidental.

Khayelitsha, uma favela de quase 500.000 habitantes, é um dos pontos quentes da Cidade do Cabo. Está a ser construído um hospital de campanha para aumentar a capacidade do Hospital Distrital de Khayelitsha, que deverá abrir até 01 de junho, segundo os Médicos Sem Fronteiras (MSF).

Uma dificuldade local é um atraso nos resultados dos testes, em alguns casos até oito a dez dias, disse Claire Keene, coordenadora médica do projeto MSF. Outro problema é que alguns profissionais de saúde deram positivo nos testes.

Um outro ponto quente do surto é a zona de Tygerburg, perto do Aeroporto Internacional da Cidade do Cabo.

Esta cidade sofreu uma enorme recessão económica devido à quebra do turismo e às restrições ao encerramento, afirmou o primeiro-ministro da província do Cabo Ocidental, Alan Winde, estimando que se perderam 200.000 postos de trabalho e que 1,2 a 1,8 milhões de pessoas na província passam fome.

Alan Winde, em auto-isolamento, depois de ter estado em contacto com um operador de câmara de televisão que mais tarde morreu de covid-19, quer que as restrições sejam abrandadas para impulsionar a atividade económica.

“Precisamos de ver a economia abrir-se com as novas operações normais, mas sem colocar o nosso sistema de saúde sob grande pressão”, disse aos jornalistas, acrescentando: “Precisamos de manter a curva tão plana quanto possível”.

Entretanto, o resto da África do Sul antecipa ansiosamente o relaxamento das restrições de confinamento em 1 de junho. Alguns funcionários governamentais afirmaram que Joanesburgo e outras partes do país permitirão que mais pessoas regressem ao trabalho e retomem a venda de álcool e de cigarros.

As escolas retomarão as aulas, começando pelos alunos dos graus 7 e 12, mas muitos professores e pais manifestaram a sua preocupação quanto à exposição ao vírus.

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