05 mai, 2020 - 17:45 • Teresa Paula Costa
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É com tristeza que a população de Fátima passa o primeiro 12 e 13 de maio sem peregrinos e celebrações públicas, mas com esperança num futuro melhor.
Em entrevista à Renascença, o pároco Rui Marto reconhece que “algumas pessoas choram, sobretudo, as de idade mais avançada que viveram o historial das aparições da Cova da Iria, das multidões e peregrinações, e agora encontram um santuário completamente vazio”.
O sacerdote diz que se sente “uma dor, um vazio, uma tristeza de alma”, mas salienta que “estamos com otimismo, não perdemos a esperança".
Apesar de tudo, a quarentena está a impor uma mudança positiva. Para o padre Rui Marto, “estávamos num caminho sem saída” na sociedade ocidental, “estávamos sem sentido”, com o “comércio, esta corrida louca, frenética às vezes sem saber bem nem para onde nem porquê”.
“Tínhamos perdido o juízo”, acrescenta o sacerdote, que considera “importante perceber como Deus nos pode dar uma visão nova das coisas para nós enfrentarmos não só o momento que estamos a viver, mas que também há modos novos nos quais devemos investir”.
O primeiro é “a conversão” nas nossas relações sociais. “Estávamos apodrecidos”, reconhece o sacerdote, que acrescenta que “há uma consciência de que esta convivência de uns com os outros deve ser alterada.” O que está já a acontecer. Em Fátima, “conseguimos que muitas famílias se encontrem, que os pais estejam com os filhos”, embora “alguma tensão” possa existir “na medida em que estamos mais tempo juntos”.
Depois, o sentido cristão. “Nossa Senhora está lá em casa, está em casa de cada um”, salienta o pároco, revelando que “há muitas famílias que estão a renovar a oração do terço em casa”, pois “este tempo convida-nos a entrar e rezar dentro, em casa, na família, e faz vir ao de cima esta vida espiritual que estava a ser muito apagada, com a pressa e o stress”.
Outra mudança que o sacerdote reconhece estar a acontecer é “esta compreensão da vida económica, que os filhos não estejam à espera que os pais tragam tudo para casa e que deem tudo”, ou seja, começar a “dar valor aquilo que temos”.
O padre Rui Marto está convicto de que, passada esta crise, os peregrinos voltarão à Cova da Iria.
“A mensagem de Nossa Senhora continua a ter uma enorme atualidade e as multidões continuarão a afluir à Cova da Iria”. No entanto, “pedimos uma grande responsabilidade àqueles que assumem os lugares de chefia, concretamente nas orientações da saúde pública”, pois “procuramos seguir e cumprir estritamente essas normas para o bem da saúde.”
Frisando que “não devemos ter pressas”, o pároco de Fátima alerta que “não podemos voltar a quando estávamos antes da quarentena”.
A pensar já no futuro, o padre Rui Marto está a planear, “passado este tempo de confinamento, reunir em celebrações as famílias em luto”, para que todas elas possam, em conjunto, terminar o processo de despedida dos entes queridos.
Em Fátima, maio será um mês diferente, mas com a expetativa do regresso à normalidade, com lições aprendidas.