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Solidariedade em tempo de pandemia. O exemplo que vem de um padeiro

29 abr, 2020 - 17:10 • Olímpia Mairos

Já ajudou no tempo da "troika". Volta a ajudar em tempos de pandemia. Um padeiro de Abreiro, no concelho de Mirandela, baixa o preço do pão especial até ao final do ano.

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Mário Telmo, de 60 anos, é padeiro em Abreiro, no concelho de Mirandela, desde 1985. Em 2012, perante a crise que se abateu sobre o nosso país, resolveu apostar na criação de um pão especial a que chamou “pão da troika”.

A ideia, na altura, foi ajudar as pessoas a enfrentar a crise, pagando menos pelo pão. O produto ganhou fama e continua a ser o preferido de muitas famílias. Quando foi lançado, tinha um preço de 0,80 euros. Depois subiu para 1,10 euros.

Agora, por causa da crise pandémica de Covid-19, o pão fabricado em Abreiro vai voltar a descer de preço. “Como estamos outra vez numa situação idêntica ou pior, resolvemos baixar o preço”, conta Mário Telmo à Renascença.

O padeiro de Abreiro percorre diariamente cinco concelhos da região transmontana e tem-se apercebido que já “há pessoas em dificuldades”. Por isso, diz quer ajudar a aliviar os orçamentos familiares.

“Já estou aqui há muitos anos. Antes, as pessoas ficavam a dever e pagavam no final da semana, no fim do mês, “pago-lhe para a próxima” – isso passou. E agora, dá-me a impressão que estamos a voltar a isso lentamente, nesta fase crítica. Já há pessoas a perguntarem se podem pagar para a semana”, conta.

E foi por perceber as dificuldades que Mário Telmo não precisou de pensar duas vezes para exercer a sua solidariedade. “Ao ver uma certa dificuldade no cliente do dia-a-dia, lembrei-me. E vamos tentar ajudar aqui o pessoal, através do pão da troika”.

O pão mantém a designação, o nome que lhe deu fama, e as mesmas características. A única diferença é mesmo o preço. O pão, explica Telmo, é de “trigo normal. É uma espécie de cacete, tipo baguete, mas mais grosso”.

“Dá para fazer um bocadinho de tudo. Tanto é consumível como dá para partir, para fatiar, não é redondo, não é comprido nem fino, é grosso. É um pão que dá para tudo. É um pão de trigo natural, sem qualquer aditivo. Não é massa fina nem é tipo papo seco. É um pão consistente, regional”, descreve, acrescentando que “é muito usado nos restaurantes”.

O pão pesa 750 gramas. Atualmente é vendido a 1,10€. “Já era um preço acessível. Esse pão manteve sempre um preço baixo. E agora vamos para metade do preço. Vamos para 0,60€ e vamos praticar esse preço até final do ano”, avança o fabricante.

Mário Telmo afirma que vai ter prejuízo, mas entende que é “uma maneira de contribuir para minimizar os efeitos da crise e de ajudar quem precisa”. “Uns de uma maneira, outros de outra, todos temos que ajudar, porque isto já está mal e ainda vai ficar pior”, considera.

Na padaria Abreiro, numa empresa familiar, trabalham oito pessoas. Quatro são da família outros quatro são funcionários. Ali fabrica-se pão de várias qualidades que depois é distribuído através de quatro carrinhas, nos concelhos de Mirandela, Murça, Vila Flor, Carrazeda de Ansiães e Valpaços.

Os clientes já foram mais, diz Telmo, porque, “com a desertificação, os idosos morrem e os jovens vão embora. Mas, mesmo assim, ainda temos mais de mil e tal”.

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