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Porto tem pelo menos 390 alunos sem acesso a computador

29 abr, 2020 - 23:25 • Lusa

Juntas de freguesia reclamam apoio do Governo para garantir igualdade nas condições de acesso ao ensino à distância.

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Pelo menos 390 alunos das escolas do concelho do Porto não têm acesso a computadores que permitam acompanhar, em igualdade de circunstâncias, as aulas do 3.º período que estão a decorrer à distância, denunciam várias juntas de freguesia.

Só no centro histórico do Porto, as dificuldades de acesso a este tipo de equipamentos atingem 260 alunos de vários agrupamentos, o que levou a junta de freguesia a lançar um apelo às instituições para acudir a esta situação.

Em declarações esta quarta-feira à Lusa, o presidente da União de Freguesias do Centro Histórico, António Fonseca, salientou que esta situação é potenciadora das desigualdades em contexto escolar, tanto mais que estão também identificados centenas de casos onde não existe acesso à internet ou em que o mesmo é assegurado pelo telemóvel, agravando os custos de contexto para as famílias.

"Face ao levantamento realizado, a junta está a contactar várias entidades no sentido de disponibilizarem equipamentos informáticos, nem que sejam emprestados, para este o 3.º período", explicou, sublinhando que a junta não tem, neste momento, capacidade financeira para o fazer e que esta é uma responsabilidade do Governo e não da autarquia que ainda assim disponibilizou 190 mil euros dos contratos interadministrativos para este fim.

Na União de Freguesias de Aldoar, Foz do Douro e Nevogilde, só num dos dois agrupamentos eram, na semana passada, "mais de 80” os alunos com dificuldades no acompanhamento do ensino à distância.

Face à dimensão do problema, foi constituída uma equipa que está a montar um serviço de acompanhamento a esses alunos, que passa também pela entrega e recolha em casa de fichas de trabalho elaboradas pelos respetivos professores, assim como apoio ao estudo à distância, adiantou aquela junta, em resposta à Lusa.

Também na freguesia de Paranhos há registo de dezenas de alunos sem acesso a equipamento informático ou ligações à internet, tenho chegado inclusivamente pedidos de ajuda à junta.

"Fomos contactados por dois agrupamentos [dos quatro com escolas na freguesia] e por algumas associações de pais, no sentido de saberem da nossa disponibilidade em colaborar com a atribuição de alguns computadores", revelou o autarca de Paranhos, Alberto Machado, adiantando que estas situações "não estão propriamente quantificadas, mas são bastantes, algumas de dezenas, seguramente".

De acordo com o autarca, a junta foi ainda contactada diretamente por 20 agregados familiares, solicitando ajuda para aquisição de equipamentos ou acesso à internet.

Questionada pela Lusa, a junta do Bonfim revelou que lançou "uma campanha de apadrinhamento de alunos" com três vertentes, doação ou empréstimo de equipamentos, apoio ao estudo e ainda ajuda para a configuração de equipamentos informáticos, tendo recebido o contacto de várias empresas e cidadãos da freguesia.

No âmbito desta estratégia, a junta recebeu aproximadamente 80 solicitações, tendo atendido um total 30, dado que este apoio destinava-se "exclusivamente para bonfinenses" em face da limitação de recursos.

Já a União de Freguesias de Lordelo do Ouro e Massarelos não esclareceu se há casos identificados de alunos sem computador ou acesso à internet, limitando-se a referir que "foi decidido que a verba que a autarquia transfere anualmente para as escolas, no âmbito do contrato interadministrativo de cooperação com as Escolas EB1, seja nomeadamente para aquisição de materiais e equipamentos didático-pedagógicos, acesso à internet, aquisição de material desinfetante e equipamentos de proteção individual (EPI)".

A junta de Ramalde adiantou que, tal como o município, pagou "a anualidade", no valor de cerca de 10 mil euros, tendo informado as escolas que esta verba também poderia ser uma ajuda para equipamentos informáticos.

"Não estou disponível para apoiar, sou um fiel adepto do ditado popular, "cada macaco no seu galho", o orçamento da junta não suporta mais apoios às escolas, só nas AEC [Atividades de Enriquecimento Curricular], no ano passado, tivemos de recorrer aos fundos reserva, cerca de 60.000 euros, acima do que a DGEstE [Direção-Geral dos Estabelecimentos Escolares] nos paga anualmente", afirmou o presidente da junta de Ramalde, António Gouveia.

A Lusa tentou obter informações junto da junta de Campanhã, mas até ao momento sem sucesso. Foram ainda questionados os 15 agrupamentos de escolas do concelho, não tendo até hoje sido possível obter qualquer esclarecimento.

O município reiterou já, por diversas vezes, que em março comunicou a todos os agrupamentos de escolas que poderiam usar as verbas já disponíveis e transferidas, através dos contratos interadministrativos (190 mil euros), para esse efeito e que até então nenhum agrupamento tinha reportado falta de verba ou pedido reforço.

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