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Recorde de deslocados. Há 50 milhões de "cidadãos invisíveis" no mundo

28 abr, 2020 - 11:12 • Marta Grosso

Não é por causa da pandemia de Covid-19, mas tudo poderá ficar pior por causa disso. No entanto, há esperança. O Centro de Monitoramento de Deslocamentos Internos (IDMC) fala em “iniciativas nacionais” que revelaram “maiores níveis de compromisso político”.

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São também conhecidos por “cidadãos invisíveis” e já chegam aos 50,8 milhões. Tiveram de deixar as suas casas (leia-se o seu lar) por causa de condicionalismos externos – guerras, violência, conflitos ou então desastres naturais.

O número bate recordes e tem origem no ano passado. Em 2019, houve mais 33,4 milhões de novos deslocamentos – o maior valor anual desde 2012.

Todos estes dados estão no relatório anual do Centro de Monitoramento de Deslocamentos Internos (IDMC), conhecido nesta terça-feira. Segundo o documento, mais de 45 milhões de pessoas foram forçadas a abandonar as suas casas por situações de violência e outros cinco milhões foram deslocados por desastres naturais (terramotos e inundações, por exemplo).


A atual pandemia causada pelo novo coronavírus não surge aqui como principal fator de deslocação, mas poderá vir a ter um efeito muito negativo nos deslocados – pessoas que já vivem, na sua maioria, em condições insalubres e apertadas, como abrigos improvisados de emergência, acampamentos informais e favelas urbanas.

É fácil perceber que, em locais superlotados como estes, não existem muitas condições para implementar da melhor maneira as medidas físicas de distanciamento social e higiene necessárias para evitar a propagação da Covid-19.

A pandemia compromete, assim, as "condições de vida precárias” das pessoas deslocadas, “limitando ainda mais o acesso a serviços essenciais e ajuda humanitária", refere a diretora do IDMC, Alexandra Bilak, citada pela BBC.

“Quase 1.900 desastres desencadearam 24,9 milhões de novas deslocações em 140 países e territórios, em 2019. É o número mais alto registado desde 2012 e três vezes o número de deslocações causadas por conflitos e violência”, lê-se no relatório do IDMC.

Em geral, as pessoas deslocadas internamente decidem não ir para muito longe de casa – ora porque querem ficar perto da família ou porque não têm recursos para ir mais além.

Muitas acabam presas em zonas onde é difícil as organizações humanitárias chegarem, como zonas de conflito, e continuam a confiar em seus próprios governos para mantê-las em segurança. Mesmo que esses regimes sejam, tantas vezes, a razão pela qual fugiram.


O potencial da próxima década

O Centro de Monitoramento de Deslocamentos Internos reconhece os esforços feitos por alguns Estados para reagir ao crescente número de pessoas deslocadas e acredita que “a próxima década tem potencial para se tornar um capítulo importante nos esforços globais para reduzir o deslocamento prolongado”.

“Houve esforços visíveis para prevenir e responder aos deslocamentos internos em 2019, e desenvolvimentos promissores em vários países destacaram os principais ingredientes para o sucesso”, refere o relatório.


“Novas iniciativas nacionais mostraram maiores níveis de compromisso político. A capacidade reforçada nos setores humanitário e de desenvolvimento manifestou-se em melhor coordenação e maior investimento. Melhorias na quantidade e qualidade dos dados disponíveis também permitiram melhores relatórios e análises, que por sua vez informam respostas mais eficazes e medidas de mitigação de riscos”, lê-se ainda.

Mas, para que estas medidas resultem numa aprendizagem, “é necessária uma parceria global para recolher, avaliar e partilhar sistematicamente práticas e experiências”.

“O intercâmbio e a cooperação entre os Estados que lidam com deslocamentos internos serão essenciais. É necessário mais apoio para isso, pois podem tornar-se catalisadores para criar incentivos para os países agirem” – assim termina o relatório.

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