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D. António Augusto desafia os consagrados a viverem em oração e em criatividade

27 abr, 2020 - 16:51 • Olímpia Mairos

O presidente da Comissão Episcopal das Vocações e Ministérios dirige também uma palavra de gratidão aos “cristãos que assumem a sua vida e também a sua profissão quase verdadeiramente como uma forma de consagração, colocando-se ao serviço do outro”.

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A Igreja Católica está a celebrar, até ao próximo domingo, a Semana de Oração pelas Vocações Consagradas, uma iniciativa que, este ano, acontece num contexto inédito, por causa da pandemia de Covid-19.

Na mensagem aos consagrados, D. António Augusto Azevedo, bispo de Vila Real e presidente da Comissão Episcopal das Vocações e Ministérios (CEVM) começa por referir-se ao “surto” “pandémico” que “obrigou a medidas prudenciais”, afirmando que tal implica que “esta semana seja perspetivada de um modo diferente e mais criativo”.

O prelado aconselha, por isso, a que “sejam privilegiadas a oração pessoal e familiar, sem esquecer a oração sempre constante das comunidades religiosas”.

Em entrevista à Renascença, o presidente da CEVM admite que este tempo de confinamento e isolamento social pode favorecer o surgimento de novas vocações.

D. António, a Semana de Oração pelas Vocações Consagradas acontece, este ano, num contexto inédito.

Estávamos habituados a alguma normalidade nas nossas rotinas e este contexto, provocado pela pandemia, veio alterar um bocadinho essas rotinas, mas, neste caso concreto, da semana de oração pelas vocações consagradas, também nos desinstala e obriga a valorizar outras dimensões e já que se trata da semana de oração pelas vocações, valorizar a dimensão da oração, além de pessoal, também a oração da família. É também uma experiência bonita e importante e que faz bem a todos, além, evidentemente de contarmos sempre com a oração das comunidades, sobretudo das comunidades religiosas que continuam a sua vida habitual. É um contexto diferente, mas um contexto que provoca e suscita a nossa criatividade e a valorização de outros âmbitos.

Na mensagem que dirigiu à vida consagrada deixa também uma saudação especial a quem vive a sua profissão como uma vocação.

Embora esta semana esteja focada nas vocações de consagração à Igreja, ministério sacerdotal, vida religiosa, missionária, e outras formas de vida consagrada, parece-me importante que também se valorize o aspeto de haver cristãos que assumem a sua vida e também a sua profissão quase verdadeiramente como uma forma de consagração, colocando-se ao serviço do outro. Estes dias, esta situação tem sido para nós uma grande lição de gente que, de facto, entrega a sua vida, corre riscos, supera cansaços e dificuldades exatamente por paixão, pelo gosto de uma profissão de serviço, seja nos hospitais, nas casas onde se cuidam os doentes, nos lares, em tantas instituições… Essa é autenticamente uma forma de uma certa consagração. Consagrar-se a uma causa também tem um valor muito importante.

Fala-se muito na escassez de vocações. Num tempo em que as igrejas estão fechadas e a Igreja como que se transferiu para a casa das pessoas, podemos ter esperança no surgimento de novas vocações?

A Igreja também começou na casa das pessoas. Esse foi um processo longo, durou muito tempo e depois é que se foram constituindo as comunidades. O valorizar a casa das pessoas, a família como comunidade cristã, é de extrema importância para a Igreja do futuro.

Os vários ministérios supõem uma comunidade cristã que se organiza e que são necessários vários serviços, seja o ministério sacerdotal – precisamos claramente de um maior número de padres, seja nos institutos religiosos e congregações religiosas masculinas e também femininas – essas comunidades precisam de uma certa renovação, e eu creio que este tempo a viver, em que estamos muito remetidos à nossa casa, aos nossos lugares, à nossa família, pode ser um momento propício para que um elemento propicio à vocação, que é o parar para pensar, que é o momento de escuta de Deus que chama. O silêncio é muito oportuno para a escuta desse chamamento. A vocação é sempre um dom de Deus, não é apenas uma escolha pessoal. É a escuta a Deus que chama, por um lado, e, por outro lado, também, olhando à nossa volta, porventura este contexto suscitará a coragem da resposta. A vocação joga-se muito nestes dois elementos, estar sensível para Deus que nos chama e conta connosco e estar sensível para olhar o mundo à sua volta e a Igreja e as necessidades que nos envolvem e ser capaz de responder com coragem. Este contexto poderá favorecer que estes dois elementos muito basilares sejam mais valorizados.

Pode este tempo de pandemia ser uma oportunidade para a vida consagrada alargar o coração e estender os braços?

Alargar o coração, estender os braços e o olhar e procurarem sempre respostas novas aos novos desafios. Essa foi uma lição da história. A vida religiosa e a vida dos consagrados muitas vezes evoluiu, renovou-se e coisas novas foram criadas, exatamente para responder às novidades de cada tempo. Esta situação que estamos a viver e o futuro que depois daí virá vai também suscitar uma renovação da vida consagrada e da vida da Igreja. Isso é sempre, no fundo, aquela abertura ao Espírito Santo que nos vai inspirando sempre respostas novas. Estes tempos de dificuldade para a Igreja, como prova a História, foram sempre tempos de grande criatividade, de grande inovação, se surgimento de coisas novas. Tenho também essa expectativa.

A Comissão Episcopal das Vocações e Ministérios publicou online um conjunto de subsídios para ajudar na celebração desta semana. Os materiais partem da mensagem do Papa para Dia Mundial das Vocações 2020, intitulada “As palavras da vocação”.

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