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Pandemia de Covid-19

"Estou a entrar em desespero". Pelo menos dois portugueses infetados em navio retido no Japão

26 abr, 2020 - 22:21 • Carlos Calaveiras

Embarcação "Costa Atlântica" está presa no porto de Nagasaki com mais de 600 pessoas a bordo. Pelo menos 140 estão infetadas, incluindo o eletricista Paulo Almas, que na Renascença pede ajuda para desbloquear a situação.

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Pelo menos dois portugueses estão infetados com Covid-19 a bordo do navio “Costa Atlântica”, que está retido no porto de Nagasaki, no Japão. No interior do navio estão mais de 600 pessoas, sendo que cerca de 140 estão infetadas, adianta à Renascença Paulo Almas, um dos cidadãos lusos infetados no interior da embarcação.

Paulo Almas é eletricista e foi subcontratado para resolver problemas no "Costa Atlântica". Planeava desembarcar do navio a 21 de abril, passada segunda-feira, quando terminava a missão. Contudo, na véspera o Governo japonês exigiu que todos os tripulantes e passageiros fossem mantidos em isolamento dentro do navio até se confirmarem os casos de infeção por Covid-19 a bordo.

Nesse dia, "fomos colocados nos quartos, separadamente", conta Paulo Almas. "Os testes levaram três dias a começar e os primeiros testes foram feitos a quem tratava da comida. Várias dessas pessoas estavam infetadas.

O português acrescenta que só se apercebeu da situação a bordo quando um colega, que tinha abandonado o navio uns dias antes, testou positivo à chegada a Portugal.

Paulo Almas recorda-se de, nos dias anteriores, ter ouvido conversas entre elementos do staff em que se admitia que já havia pessoas infetadas e de se ter alterado o funcionamento dos restaurantes do "Costa Atlântica": só uma pessoa por mesa e menos mesas disponíveis.

No entanto, sem confirmação oficial, os restantes portugueses da tripulação continuaram a trabalhar. Quando tentaram abandonar o navio, a saída foi barrada porque a embarcação já estava em isolamento.

"Quem está bem devia ser retirado de imediato"

Paulo Almas, um dos oito cidadãos lusos a bordo, queixa-se da falta de condições, incluindo má alimentação. Está fechado dentro do quarto e estranha que os passageiros que testaram negativo continuem a bordo do “Costa Atlântica”.

“As pessoas que estão bem deveriam ser retiradas de imediato porque estão a correr um risco”, diz à Renascença.

Para já, as informações que chegam a passageiros e tripulantes são poucas, até porque a empresa ainda não entrou em contacto com ninguém. O comandante da embarcação apresenta diariamente, via sistema sonoro, o relatório com o número de infetados e repete instruções para que as pessoas se mantenham nos seus quartos isoladas.

A aguardar transferência

Ao ser impedido de abandonar o navio a 21 de abril, Paulo Almas entrou em contacto com a embaixada portuguesa em Tóquio, que lhe respondeu na quinta-feira, 23 de abril.

"Estamos a acompanhar a situação e, segundo temos conhecimento, estão a ser efetuados testes. Em princípio, os que tiverem resultado negativo deverão ser repatriados. Os que testarem positivo e tiverem sintomas deverão ser transferidos para hospital/instalações fora do navio."

No mesmo e-mail da secção consular da embaixada, lê-se: "Agradeço que nos mantenha informados." Contudo, a representação diplomática não responde aos contactos de Paulo Almas desde então.

Apesar de ter testado positivo, o eletricista diz que sente dores de cabeça e fraqueza. Na entrevista à Renascença, Paulo Almas deixa um pedido às autoridades para que a situação seja desbloqueada o mais depressa possível, até porque está "a entrar em desespero".

“A vida está a tornar-se bastante saturante, a pensar nisto o dia todo. Estou dentro do quarto e é pior que estar preso. Se sair corro o risco de ser preso ou colocar em risco a vida dos outros. Neste momento sou um perigo para os outros e quero evitar esse perigo”, refere, emocionado.

À Lusa, o Ministério dos Negócios Estrangeiros revelou que “a situação está a ser acompanhada pela embaixada de Portugal em Tóquio”, confirmando que oito portugueses, dois dos quais infetados com o novo coronavírus, estão num navio de cruzeiro retido desde janeiro em Nagasaki.


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