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Jacinto Lucas Pires-Henrique Raposo
Um escritor, dramaturgo e cineasta e um “proletário do teclado” e cronista. Discordam profundamente na maior parte dos temas.
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Jacinto Lucas Pires e Henrique Raposo - Levantar das restrições e perda de privacidade - 27/04/2020

H. Raposo

"É altura de levantar o pé do travão"

27 abr, 2020 • Marta Grosso , Miguel Coelho (moderação do debate)


Henrique Raposo e Jacinto Lucas Pires comentam o levantamento progressivo das restrições impostas no âmbito da economia e a eventualidade de os restaurantes poderem medir a temperatura dos clientes.

Face aos sinais preocupantes de aumento dos níveis de contaminação, será de começar a levantar as restrições às atividades económicas ou manter o confinamento? Henrique Raposo, não tem dúvidas: “é altura de levantar o pé do travão”.

Na opinião deste comentador de As Três da Manhã, “os efeitos da quarentena são piores que os do vírus”. E exemplifica com as declarações da presidente do Banco Alimentar, Isabel Jonet, à Renascença, e com a capa do “Expresso”, que diz haver milhares de cancros que não estão a ser diagnosticados.

Na opinião de Henrique Raposo, “é altura de o Governo ouvir outras pessoas que não os médicos que estão preocupados com as urgências” e “olham só para uma árvore”.

“Temos de olhar para a floresta. Temos que ouvir os empresários, ouvir os economistas, os juristas, que estão preocupados com o Estado de Direito, os psiquiatras, que estão preocupados com a saúde mental das pessoas”, defende.

“E temos de saber conviver com a ideia de que o vírus vai voltar. E, como não temos vacina e se chegar será só daqui a um ano, nós temos de criar a tal imunidade de grupo. Achatámos a curva e agora nós – os 98% da população que, à partida, estão fora do alcance do vírus – temos de criar a imunidade de grupo, senão as outras pessoas que são realmente frágeis nunca mais vão ter uma vida normal”, sustenta ainda.

Jacinto Lucas Pires, que partilha este espaço de comentário, concorda, mas chama a atenção para o facto de “não haver economia sem saúde”, pelo que “esses passos têm de ser dados com extremo cuidado”.

Daqui a conversa passou para a possibilidade de os restaurantes poderem vir a medir a temperatura a trabalhadores e clientes. O Governo diz que ainda vai clarificar a lei, mas Henrique Raposo é taxativo: “se um restaurante me quiser medir a temperatura, eu vou-me embora, não aceito”.

Raposo sublinha a importância da liberdade e faz uma comparação com o que poderia ter-se passado há 20 ou 30 anos, aplicado à SIDA. “Eu ia entrar no restaurante e tinha de fazer um inquérito à minha vida íntima?”

“Não podemos caminhar neste sentido. Nós não somos coreanos, não somos chineses, temos séculos e séculos de liberdade e não podemos deitar isto fora só por causa de uma pandemia que, citando a Maria Mota, do Instituto de Medicina Molecular, é historicamente boazinha”, conclui.

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