25 de abril

"25 de abril é essencial". Marcelo pede unidade e resistência à fadiga e à discriminação

25 abr, 2020 - 12:22 • Eunice Lourenço , Susana Madureira Martins

Presidente da República justificou sessão evocativa do 25 de Abril e também declarações de estado de emergência. E pediu que se tirem lições dos tempos de combate à epidemia

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“Esta hora impõe-nos unidade”, disse o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, logo no início do seu discurso na sessão que celebra o 25 de Abril no Parlamento. Naquele foi o seu último discurso ao Parlamento antes das próximas eleições presidenciais, Marcelo fez uma intervenção justificativa da própria cerimónia, mas também do estado de emergência e em que pediu que se tirem as lições destes tempos de pandemia e cidadãos e políticos não se devem vencer pela fadiga, nem cedam à tentação de discriminações.

Logo a começar, Marcelo quis deixar claro que a decisão de manter a cerimónia parlamentar foi do Parlamento. “O Presidente respeita a competência da Assembleia da República sobre o local, a composição e o formato” da sessão, disse o chefe de Estado, recordando que sempre foi assim com os seus antecessores, sempre que o Parlamento esteve em funções nesta data. Mais à frente, quase a terminar a intervenção, Marcelo, contudo, salientou que nunca “hesitou um segundo” em estar este sábado no Parlamento.

Veja aqui a cerimónia de comemoração do 25 de abril na íntegra

O Presidente salientou que não poderia entrar em “desencontro com a casa da democracia” em momento algum, mas ainda menos nos tempos que vivemos. “Esta hora impõe-nos unidade, disse Marcelo, acrescentando que é “unidade entre todos os portugueses e os responsáveis políticos”, ainda que essa unidade não implique “unicidade”.


“Vergonhoso” seria o Parlamento demitir-se

Depois de remeter para o Parlamento a responsabilidade pela forma como foi decidida a sessão do 25 de Abril, o Presidente da República defendeu a sua realização, mesmo num “tempo excecional” como o que Portugal vive. “É precisamente em situações excecionais que se impõem costumes e rituais”, disse Marcelo, que remete já tempo excecionais também para dezembro.

“O 10 de junho é essencial e vai ser evocado, o 1º de Dezembro é essencial e vai ser evocado”, afirmou o Presidente que também garantiu que haverá celebrações do 5 de outubro. “O 25 de abril é essencial e tinha de ser evocado”, concluiu na sua passagem pelas datas significativas da República.

“A presente evocação não é uma festa de políticos”, ressalvou ainda ao Presidente, garantindo aos portugueses que não estão perante “um mau exemplo”, apesar de viverem tempos em que muitos não podem estar com filhos e netos e muitos também não puderam e não podem celebrar a Páscoa e o Ramadão como é costume nas respetivas religiões.

“O estado de emergência implica um reforço extraordinário dos poderes do Governo, quanto maiores os poderes do Governo maiores devem os poderes do Parlamento”, justificou o Presidente, que considerou mesmo “vergonhoso” seria a Assembleia da República se demitir de exercer os seus poderes de fiscalização. Um momento muito aplaudido pela esquerda.

O Presidente da República aproveitou também o seu discurso nesta sessão – a única ocasião anual em que o chefe de Estado fala no Parlamento – para justificar as declarações de estado de emergência que tiveram uma papel “preventivo e não repressivo”.

Aprender as lições

O Presidente afirmou que é necessário “retirar, a seu tempo, as lições do que foi e é esta vivência única”. E apontou já algumas das lições, ao apontar “improvisos, impreparações e atrasos”, assim como “lentidão” de algumas instituições. Mas também quis dar um tom positivo ao elogiar situações de generosidade, voluntariado e disponibilidade.

Defendeu que será preciso “combater a crise na saúde”, assim como “a crise económica e social”, lembrou os mortos e alertou que é preciso tratar de todos, “dos pacientes do vírus e de outras doenças” e “acorrer aos desempregados”. Afirmou que a situação exige “uma Europa lúcida, solidária e rápida a agir. E citou o Papa Francisco para pedir: é preciso “não imolar quem ficou para trás no altar do progresso”.

Marcelo fez ainda questão de lembrar a comunicação social “insubstituível como é sempre em democracia, sem censura” e mais ainda nos tempos de emergência, tal como fez questão de assinalar que não foi imposto neste tempo qualquer controlo às redes sociais. “A democracia revela, a ditadura silencia”, afirmou o Presidente que pediu empenho para continuar a enfrentar os desafios.

Críticas, esperança, evocações e silêncio. O essencial da cerimónia inédita do 25 de abril
Críticas, esperança, evocações e silêncio. O essencial da cerimónia inédita do 25 de abril

“Temos de continuar a resistir ao desgaste e à fadiga”, pediu Marcelo, pedindo que não haja separação entre novos e velho, litoral e interior ou entre regiões autónomos e regiões do continente. Mas também pediu que cidadãos e políticos não se deixem “cair em discriminações e de ideias, como se o 25 de Abril fosse só de uma parte de Portugal”.

“Vamos vencer as crises”, concluiu, confiante, o Presidente da República.

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  • mew2
    25 abr, 2020 16:14
    João Lopes escreveu o importante.
  • João Lopes
    25 abr, 2020 Viseu 12:58
    Evocar abril, maio, junho...deveria ser evocar a justiça que julga com os olhos vendados os atos concretos praticados. Agostinho de Hipona (354-430) escreveu: «Um Estado que não se regesse segundo a justiça, reduzir-se-ia a um bando de ladrões»...

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