20 abr, 2020 - 20:06 • André Rodrigues
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Esta segunda-feira, 20 de abril de 2020 ficará para a história como o dia em que o barril do crude ficou abaixo dos zero dólares na bolsa de Nova Iorque, uma desvalorização de mais de 100%, nunca antes vista desde a instituição dos contratos de futuros, em 1983, no mercado nova-iorquino de matérias primas.
A mais recente descida ocorreu já depois das 19h00, com o barril a negociar a menos 11 dólares.
Já em Londres, a contração é mais discreta mas, ainda assim, o barril de Brent, que serve de referência para os mercados europeu e asiático, recuou 6,5% para os 26 dólares e 25 cêntimos por barril.
Os analistas internacionais atribuem esta trajetória ao facto de a negociação de contratos futuros expirar amanhã, terça-feira.
Por outro lado, a pandemia de Covid-19 levou a uma quebra bastante significativa de produtos refinados, pelo que se assiste, nesta altura, a um cenário de excesso de oferta de curto prazo.
Em declarações à Renascença, Nuno Ribeiro da Silva, antigo secretário de Estado da Energia, explica que "os sistemas de armazenagem estão saturados e o mercado tem a noção de que há uma despensa cheia".
O quadro a que assistimos "será prolongado no tempo" e, mesmo que tudo voltasse ao normal em termos de procura, Nuno Ribeiro da Silva reconhece que este crash petrolífero "é um sinal de que os tempos mudaram, a lógica do petróleo incontornável e da dependência do petróleo tenderá a deixar de existir, porque temos alternativas e vamos estar confrontados, quer por ação política, quer por ação da agressividade da indústria automóvel com uma situação em que teremos de mudar de vida, pondo fim ao glorioso século do petróleo".
Vão ser cortada a produção em 9,7 milhões de barri(...)
No entanto, o antigo secretário de Estado da Energia considera prematuro falar de um colapso da indústria petrolífera.
Nuno Ribeiro da Silva lembra que "a indústria é muito inteligente e muito capaz e sabe adaptar-se. Aliás, isso está a acontecer. No último ano e meio, os maiores investidores em produção de eletricidade de base renovável são empresas petrolíferas".
Para este especialista, "as empresas petrolíferas já perceberam que o futuro vai ser diferente e que vão ter que sair da sua dependência dos combustíveis fósseis. Aliás, porque até já estavam a sofrer pressões na mobilização de capital".
Acresce, por outro lado, a mudança que a crise do petróleo vai provocar na mobilidade automóvel, que é, atualmente, o setor mais dependente desta matéria-prima.
Nuno Ribeiro da Silva considera que a eventual competitividade dos motores de combustão, pelo facto dos preços do gasóleo e da gasolina baixarem, "acabará por não ter um efeito muito significativo, porque as pessoas gostaram e estão a gostar de ter menos contaminação do ar nas cidades e vão valorizar isso, mesmo que tenham de pagar um preço pela opção por veículos elétricos ou híbridos".