15 abr, 2020 - 19:04 • Maria João Costa , com redação
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O escritor brasileiro Rubem Fonseca morreu esta quarta-feira à tarde, no Rio de Janeiro, vítima de um enfarte. Tinha 94 anos.
Considerado um dos mais importantes escritores contemporâneos de língua portuguesa, foi galardoado com o Prémio Camões em 2003.
A sua carreira atravessou várias décadas e deixou uma marca no género policial, publicando clássicos da literatura brasileira, como "A Grande Arte" e "Feliz Ano Novo".
O jornal "Folha de São Paulo" escreve que a Rubem Fonseca é "atribuída a fundação de uma nova era na ficção brasileira, que se tornou mais urbana depois dele".
Nasceu em Juiz de Fora, Minas Gerais, Brasil, em 1925, filho de emigrantes portugueses, com raízes em Trás-os-Montes.
Ainda na infância, a família mudou-se para o Rio de Janeiro e, mais tarde, licenciou-se em Direito.
No final de 1952, começou a trabalhar na Polícia, como comissário e depois nas relações públicas.
A passagem pelas forças de segurança inspirou muitas das suas obras literárias.
Em 1976, o seu livro "Feliz Ano Novo" foi censurado pelo Governo, por ser considerado "contrário à moral e aos bons costumes". O conto "O Cobrador" também viria a ser proibido pelo regime.
É um dos mais prestigiados escritores brasileiros contemporâneos e um dos expoentes máximos da literatura de língua portuguesa.
Traduzido em todo o mundo, foi galardoado com o Prémio Camões em 2003, o mais importante galardão literário de língua portuguesa.
Conquistou outros prémios, como o do festival Correntes d'Escritas na Póvoa de Varzim (2012) e o Prémio Machado de Assis (2015), concedido pela Academia Brasileira de Letras pelo conjunto de sua obra.
É autor de uma vasta obra narrativa, contista e romancista que tem vindo a ser publicada em Portugal, desde 2010, pela Sextante Editora.
Na hora da despedida ao escritor Rubem Fonseca, o seu editor em Portugal lembra um grande "cultor da língua portuguesa". João Rodrigues acaba de publicar um novo livro do escritor brasileiro e, neste momento, recorda um amigo e dá uma ideia aos leitores portugueses.
“Uma das coisas que ele presava muito era a sua origem portuguesa e o nome José. Gosto muito de lhe chamar José Rubem, como os amigos lhe chamavam, e acho que os portugueses leitores também deviam fazê-lo”, disse o editor à Renascença.
João Rodrigues acrescenta que Rubem Fonseca “foi um cultor extraordinário da língua portuguesa, homem que escrevia com uma precisão e um cuidado altamente merecedor do Prémio Camões. É sem dúvida um dos grandes escritores do nosso tempo”.
Os seus livros contam histórias do lado marginal da sociedade, com polícias, ladrões, prostitutas, políticos, corrupção. Também se cruzam com a história do Brasil, como no seu livro "Agosto".
Marcelo Rebelo de Sousa publicou uma nota de pesar no site oficial da Presidência da República, em que recorda Rubem Fonseca, "sobretudo para as gerações nascidas na segunda metade do século passado, como um dos ficcionistas de referência em português".
O chefe de Estado considera que Rubem Fonseca foi uma referência tal como Jorge Amado, "mas ao invés do humanismo combativo e amável de Amado, a obra de Rubem Fonseca representou o Brasil desencantado, violento, às vezes cínico, um Brasil urbano, «americano», distante da imagem ruralista da ficção brasileira que sempre foi tão lida em Portugal".
"Os seus romances e contos devem muito a um percurso profissional e existencial que fez de Rubem jurista, comissário de polícia, argumentista, experiências que deixaram a uma marca impressiva em textos onde o crime, a sexualidade, os episódios-choque e o laconismo lembram a melhor «pulp fiction», sem esconder totalmente por completo o homem culto e irónico", refere a nota da Presidência.
"Também cronista da história de Brasil, com a obra-prima «Agosto», sobre Getúlio Vargas, Rubem Fonseca alcançou grande popularidade e reconhecimento no seu país, tendo vencido diversas vezes o Prémio Jabuti; mas este filho de transmontanos emigrados também ganhou, um pouco tardiamente, lugar de destaque nas preferências dos portugueses e dos leitores lusófonos, tendo-lhe sido atribuído muito justamente o Prémio Camões em 2003."
"No dia em que dele nos despedimos, deixo uma palavra de homenagem ao observador atento de um outro Brasil, ao escritor desenvolto, ao mestre da língua concisa e precisa", conclui Marcelo Rebelo de Sousa.
[notícia atualizada]