​Reportagem

Das doenças das plantas à Covid-19. Universidade de Évora adapta laboratório para fazer testes ao novo coronavírus

17 abr, 2020 - 20:44 • Rosário Silva

Évora é um dos primeiros distritos do país a efetuar testes em todos os lares por causa do novo coronavírus (SARS-CoV-2). O Laboratório de Virologia Vegetal da Universidade de Évora já está a dar uma preciosa ajuda. Nos 14 concelhos do Alentejo Central vão ser feitos cerca de 7 mil testes, a utentes e trabalhadores das Estruturas Residenciais para Idosos.

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De perigo ou informação, os sinais não enganam quando nos aproximamos do Laboratório de Virologia Vegetal (LVV) da Universidade de Évora, instalado no pólo da Mitra, às portas da cidade, e por estes dias capacitado para realizar testes à Covid-19.

Maria do Rosário Félix, investigadora responsável pelo LVV, não esconde o entusiasmo por ter a oportunidade de “poder ajudar e utilizar os nossos conhecimentos”, face à atual situação de pandemia.

“Trabalho em biologia molecular e em vírus de plantas há muitos anos, mas tendo em conta que as técnicas são muito iguais, consigo transpor a minha experiência para esta ajuda que nos é pedida para lares e instituições de solidariedade social (IPSS), por isso fizemos adaptações para podermos ter este centro de testes para humanos”, explica a investigadora.

Mas até se chegar à fase do laboratório, há toda uma sequência operacional que começa com o contributo da Escola Superior de Enfermagem da Universidade de Évora, responsável pela recolha nos lares e IPSS, entretanto sinalizados pela Comunidade Intermunicipal do Alentejo Central (CIMAC).

As amostras dão, depois, entrada no Hospital do Espírito Santo de Évora, onde são registadas na plataforma SINAVE – Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica, da Direção-Geral da Saúde (DGS). Ainda no hospital, numa câmara de pressão negativa, o vírus é inativado, e só posteriormente as amostras seguem para a unidade de testes Covid-19 da universidade.

“Aqui fazemos a extração total do RNA, que pode ter ou não partículas virais, consoante a amostra seja positiva ou negativa. Depois é amplificado num termociclador ou máquina PCR, um equipamento usado para detetar a presença de material genético”, esclarece Maria do Rosário Félix, adiantando que “ainda não tivemos nenhuma amostra positiva.”

No dia da reportagem da Renascença, a equipa, ainda em número reduzido, estava a fazer os primeiros 37 testes, provenientes de um lar de Vendas Novas.

“São os primeiros 37, mas temos capacidade para fazer 50 e, no final desta semana, com o alargamento da equipa, já teremos para 75”, esclarece António Candeias, vice-reitor para a Investigação e Desenvolvimento da Universidade de Évora.

Este especialista em Química e Ciências do Património, também diretor do Laboratório HERCULES, revela que, “dentro de duas semanas”, vai chegar “um extrator automático, vindo da China”, o que permitirá aos docentes e investigadores, nessa altura em maior número, proceder à realização de testes à Covid-19 “até uma aproximação de 300 por dia.”

A realização dos testes está, assim, a cargo de uma equipa da universidade, com elementos do Laboratório de Biologia Molecular, Laboratório de Microbiologia do Solo e Laboratório de Virologia Vegetal do MED, do Departamento de Fitotecnia e do Departamento de Química da Escola de Ciências e Tecnologia e do Laboratório HERCULES.

Ana Alexandre é uma das voluntárias. É investigadora do Instituto Mediterrâneo para a Agricultura e Desenvolvimento (MED) e, apesar da sua vasta experiência, esta é a primeira vez que trabalha com este tipo de situação. "Embora as técnicas não sejam novas, mas o contexto é totalmente novo”, diz à Renascença.

À semelhança dos colegas, confessa que a “preocupação é geral”, no entanto, poder estar a desenvolver este trabalho, “é uma boa e positiva experiência”, que permite “usar o que sei fazer para colocar ao serviço da comunidade”.

Testar, testar, testar

Este é, também, “um desafio diferente da minha área de trabalho”, confessa a responsável pelo LVV.

Maria do Rosário Félix considera “essencial colocar os conhecimentos de todos no combate a esta doença”, sendo primordial “testar o maior número de pessoas”, para “avaliar o estado de toda a comunidade.”

O Laboratório de Virologia Vegetal da Universidade de Évora vai realizar, no total, quatro mil testes, de acordo com um protocolo assinado entre a instituição de ensino superior e o Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social (MTSSS). O protocolo integra um programa nacional, cuja finalidade é isolar casos positivos nos lares, onde ainda não tenha sido detetada a situação de infeção.

Segundo o MTSSS, neste momento há 17 universidades e politécnicos envolvidos no programa que, no total, vão efetuar entre 40 a 50 mil testes.

No caso do distrito de Évora, o objetivo é apoiar o Hospital do Espírito Santo de Évora e as 128 instituições de apoio a idosos, abrangendo, nesta primeira fase, os funcionários e depois os utentes. No Alentejo Central vão ser feitos cerca de sete mil testes

Alentejo “mais à frente” nos testes em lares de idosos

Évora é um dos primeiros distritos do país a efetuar testes em todos os lares por causa do novo coronavírus (SARS-CoV-2), de acordo com uma determinação do Governo.

Nos 14 concelhos do distrito, vão ser feitos testes “a 2.700 pessoas que são funcionários dos 128 lares do Alentejo Central, assim como aos 3.500 utentes dessas instituições”, refere, à Renascença, José Calixto.

O presidente da Comunidade Intermunicipal do Alentejo Central (CIMAC) sublinha a “excelente articulação ao nível da Comissão Distrital da Proteção Civil e de todos os seus agentes”, destacando a “enorme colaboração” entre todos.

“Temos consciência que somos das regiões que estamos mais à frente nesta medida, por isso apostamos na prevenção, começando esta operação com a realização de testes aos trabalhadores destas instituições, para depois chegarmos aos nossos idosos institucionalizados”, acrescenta o autarca à Renascença.

Das estruturas existentes no Alentejo Central, "há 71 da rede solidária, três dezenas correspondem a lares privados, mais 15 da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados e uma dezena da rede de lares e residências para pessoas com deficiência", detalha o também presidente da câmara municipal de Reguengos de Monsaraz.

“Entre utentes e trabalhadores das ERPI (Estrutura Residencial para Idosos), estamos a falar de um total de quase 7.000 testes, para podermos traçar um quadro mais pormenorizado da situação dos lares no Alentejo Central”, nota José Calixto.


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