Vida no circo há muito significa ensino à distância para Núria. “É tudo igual, só falta o convívio com os colegas”​

14 abr, 2020 - 07:30 • Olímpia Mairos

No dia em que arranca o 3.º período, com ensino à distância, devido à pandemia do novo coronavírus, a Renascença conversa com Núria Modesto. A jovem de 15 anos, artista de circo, frequenta o 10º ano de escolaridade à distância.

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"Paciência". É o primeiro conselho de Núria para quem hoje inicia o 3.º período. Artista de circo, mestre a dominar os arcos de hula hoop, também já sabe como lidar com as dificuldades de aprender à distância.

“É preciso ter paciência, muita paciência ao início, porque vai ser muito complicado. A fase de adaptação torna-se um pouco confusa porque, embora seja uma escola igual a uma escola normal, torna-se diferente ao mesmo tempo”, avisa. Diferente pela evidência: “Não estamos presencialmente, estamos a ver pelo computador”.

Núria Modesto, 15 anos, estudante do 10.º ano, área de Humanidades. Núria Modesto, 15 anos, ginasta de hula hoop no Super Circo. Escola e circo só compatíveis porque, nos últimos dois anos, Núria tem ensino à distância. Foi a solução para prosseguir os estudos. “É ótimo para quem anda nesta arte. Dá muito jeito, não temos de andar de escola em escola, podemos fazer a escola em casa”, conta à Renascença.

Núria entra na sala de aula muitas vezes a partir da caravana. É aí que se encontra com os colegas e com os oito professores das diferentes disciplinas. “Ao início pode ser um bocado confuso, mas depois adapta-se bem. É como se estivéssemos numa escola normal, estamos a ver os nossos colegas, os nossos professores, as disciplinas são iguais, as matérias também”, explica.

A grande diferença, sublinha, é "o convívio com os colegas ao intervalo", que experimentou entre o 1.º e 8.º ano, quando frequentou o ensino presencial.

Guia para novatos

No segundo ano de experiência, Núria já fala como uma "expert" e debita um guia para os estudantes que a partir de hoje enfrentam um período completo de ensino à distância, por força das restrições necessárias para conter a propagação do novo coronavírus.

"Ninguém deve ter receio, porque o ensino em si vai ser igual", tranquiliza. “Temos uma plataforma no computador e ligamos o Skype, onde temos acesso e podemos estar com a turma toda junta e com o professor”, conta. A turma é constituída por 16 alunos de várias partes do país.

Nas aulas, “o professor partilha o écran, mostra as matérias e nós conseguimos ver, manda-nos fazer as tarefas, manda-nos fazer testes”, descreve. Os testes são colocados por cada professor na plataforma e “nós abrimos, escrevemos nele, no Word, respondemos às perguntas e guardamos e voltamos a enviar”. “Há situações em que os professores pedem para escrever as respostas no caderno, nós tiramos foto e enviamos”, aponta a exceção.


O futuro é o circo

As aulas de Núria acontecem de segunda a sexta-feira, começam às 8h20 e terminam às 16h30. Cada aula tem a duração de uma hora e os intervalos entre aulas são de 15 minutos. O objetivo é completar o 12.º ano e depois dedicar-se, por inteiro, ao circo.

É o orgulho do pai, Israel Modesto, proprietário do Super Circo. Mas não é só por querer seguir a tradição da família que Núria satisfaz o pai. O desempenho escolar é outro dos motivos que justificam a vaidade de Israel quando toca a falar da filha.

"Ela está a aproveitar [o ensino à distância] e nunca reprovou", assinala, dando conta de que "nem todos os casos são assim postivos". "Muito honestamente, há meninos que sabem aproveitar [o ensino à distância], mas há outros que não e eu sei que não há muitos casos positivos”, acrescenta.

O futuro de Núria passará pelo Super Circo e adivinham-se grandes presenças na pista com os arcos de hula hoop. Mas até se dedicar por inteiro à sua paixão, Núria Modesto, de 15 anos, que estuda Humanidades, vai continuar a aprender à distância.

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  • 2and2
    15 abr, 2020 20:00
    O Circo — por se renovar sempre — agora comove‑me e espanta‑me — publiquei em 2006 numa revista médica. Somos um país que carece de circo e de pão, tal como os Romanos. Desde os espectáculos no Coliseu dos Recreios (com os saudosos Irmãos Campos nos negros anos do fassismo) até ao Chapitô. Temos imensos artistas. Recordando as pombinhas que andavam de mão em mão, do coronel da tapitanga.

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