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Relato à Renascença

Francisco teve Covid-19 e recuperou. "Acho que ganhei tempo de vida"

08 abr, 2020 - 09:14 • Marta Grosso

Desconfia que foi contagiado durante um jantar com amigos, em Lisboa, antes de o primeiro caso se confirmar em Portugal. Esteve nos cuidados intensivos e teve alta no dia 29 de março.

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Aos 43 anos, Francisco Lopes da Fonseca tinha uma vida saudável, sem indícios de problemas do foro cardíaco ou respiratório. Contudo, a Covid-19 levou-o aos cuidados intensivos e diz que “viu a luz” enquanto esteve em coma.

“Foi uma experiência muito profunda, não só física como espiritual”, afirma à Renascença, nesta quarta-feira.

Mas como é que tudo começou? Francisco desconfia que o contágio se deu durante um jantar de amigos, antes de ter sido conhecido o primeiro caso do novo coronavírus em Portugal.

O diagnóstico chegou no dia 12 de março, mas os sintomas começaram antes.

“No primeiro dia, tinha uma febre baixa, não liguei muito e tomei paracetamol. No segundo dia subiu para 38 [graus] e liguei logo para a Linha Saúde 24. Tranquilizaram-me e tentaram ver os sintomas. No terceiro dia, já tinha 39,5 [de febre] e aí assustei-me um bocadinho, porque não me lembrava de ter tido uma febre tão alta desde criança e já me sentia a perder um bocado as minhas capacidades”, relata no programa As Três da Manhã.

Entretanto, foram chegando as dores musculares. Francisco ressalva que, pelo sim pelo não, logo desde o início, “desde os 37 [graus de febre] isolei-me da família”.

Daí ao coma induzido foi um pulo

O teste ao novo coronavírus foi feito mais tarde, ao quinto dia de sintomas, de acordo com as instruções da Linha Saúde 24. Recorde-se que Portugal estava, em março, na fase inicial da epidemia (contingência) e que as instruções das autoridades de saúde têm vindo a alterar-se de acordo com a evolução da situação.

Ao chegar ao Hospital Curry Cabral (o hospital de referência para casos de Covid-19), Francisco já sentia algumas dificuldades respiratórias.

“E depois foi escalando. Foi subindo mais a febre, tinha dificuldade em tossir e tinha a respiração e a expetoração muito presa”, conta.

“Ao segundo dia [no hospital] optaram por me induzir o coma, para o corpo ter tempo para combater a infeção, porque a respiração estava a cair muito rapidamente – já estava com 82% de oxigénio e tinha chegado com 90%, portanto em menos de 24h tive essa perda”, relata.

Durante seis dias, Francisco Lopes da Fonseca esteve com respiração assistida (com ventilador) nos cuidados intensivos, devido a uma pneumonia que entretanto se desenvolveu.

A luz ao fim do túnel

Foi só ao segundo dia depois do coma que Francisco diz que percebeu que o pior teria passado. “Sentia que já via e ouvia tudo”, mas “não sabia o que tinha acontecido. Só soube que tinha estado em coma induzido quando estava nos cuidados continuados”.

Foi então tempo de ligar aos dois filhos: “só de pensar que ia falar com eles outra vez nem conseguia ligar o telefone”, lembra com entusiasmo.

“Foram uns guerreiros, souberam pelas redes e por amigos e entraram na preocupação normal”, diz ainda. “Digo que ficaram muito mais preocupados os que estavam cá fora do que eu, porque estava desligado e, se não estivesse cá, não tinha dado por nada”.

A alta chegou no dia 29 de março (ou seja, há pouco mais de uma semana). E a experiência mudou muita coisa na sua vida.

“Muitas coisas. Acho que ganhei tempo de vida. Antes não tinha tempo para nada e agora tenho tempo para tudo; faz-se tudo o que tinha a fazer e ainda sobra tempo. Não sei como, acho que é uma questão de 'mind set'”, conclui.

Além disso, Francisco diz ter tido “uma experiência muito profunda, não só física como espiritual” durante o tempo que esteve em coma.

“Já tinha ouvido relatos e não acho que seja auto-sugestão, porque tenho as imagens bem presentes. Tenho outras mais traumáticas, mas também tenho umas muito bonitas”, recorda, considerando que viveu “uma experiência mais próxima daquilo que nos une e à missão que venho a ocupar nos últimos anos e que ajudou a ter uma imunidade forte e que foi fundamental e quero manter”.

Francisco já retomou, por isso, a atividade física, mesmo em casa. Em termos profissionais, diz que trabalho não falta – até aumentou, dado que tem um site de entrega de comida saudável – mas é tudo tratado também a partir de casa.

De acordo com os últimos dados da Direção-Geral da Saúde, conhecidos na terça-feira, Portugal já tem 184 pessoas que conseguiram recuperar da Covid-19. O número tem vindo a subir com expressão desde domingo.

Comentários
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  • mewtwo
    10 abr, 2020 14:45
    Este nem sabe que deve agradecer a Deus.

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