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Covid-19

Férias dadas aos jogadores pode indicar que futebol não voltará tão cedo em Portugal

08 abr, 2020 - 18:15 • Rui Viegas

Ricardo Dionísio, treinador do Sion e ex-preparador físico de Sporting, Braga e FC Porto, analisa a decisão tomada por Benfica e Sporting. Entrada em férias será sinónimo de retrocesso na preparação

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A I Liga poderá não recomeçar tão cedo e à vista estará um dilatar, inclusive, do prazo já estimado para voltar a haver futebol nas provas profissionais: final de maio. A leitura é feita, com base também numa análise metodológica, por Ricardo Dionísio.

O atual treinador dos suiços do Sion, e antigo preparador físico da equipa técnica de José Peseiro, sustenta - por exemplo - que em equação estará o encurtar da habitual baliza de defeso, no verão, ou até mesmo a sua anulação.

"Indicia uma decisão futura. Ou seja, de que o campeonato não vai reiniciar-se em breve. Estarão a prever que o período normal de férias não existirá e se o campeonato começar mais tarde esse período de pausa será mínimo ou inexistente, para que a próxima época possa iniciar-se a tempo e horas", e continuou.

"No plano metodológico, dar férias aos jogadores nesta fase é ganhar um pouco de tempo para que eles possam suportar melhor as cargas e a não existência de um período transitório entre duas épocas", antevê Ricardo Dionísio, em Bola Branca, numa abordagem inédita de um problema também inédito.

O treinador destaca os desafios mentais que os jogadores precisam ultrapassar.

"Os jogadores, por mais empenhados e profissionais que sejam, não têm um projeto coletivo desde que o campeonato terminou [foi suspenso]. Por exemplo, os meus jogadores dizem-me que, neste momento, o mais difícil é estar concentrado para treinar. Não depende do futebol, mas sim do que se vai passar no país e no mundo", explica o técnico de 37 anos, para quem é necessária uma nova pré-época. Isto porque as noções de coletivo, de equipa, esfumaram-se.

"Os jogadores perdem forma, mesmo mantendo-se no ativo, mas é um ativo muito individualizado. Se o campeonato recomeçar terá de existir de novo um período de preparação. Não só física, mas também técnico e táctica, a qual deixou de existir", assegura, em Bola Branca.

Fronteiras abertas até tarde, a "espécie" de lay-off e o adeus de Doumbia ou Song

Ricardo Dionísio regressou em 2019/20 à Suiça, começando por ligar-se ao Stade Nyonnais, do terceiro escalão, antes de transitar para o FC Sion, do campeonato principal. E foi aqui que se viu confrontado com a pandemia e consequente corte de salários, cujo tema é já uma realidade no terreno em alguns emblemas.

O clube do "Tourbillon" avançou para uma "espécie" de "lay-off", nem todos concordaram e nove futebolistas acabaram despedidos. Entre eles, Seydou Doumbia, ex-avançado do Sporting. Alex Song, antigo médio de Barcelona, Arsenal ou West Ham, também rescindiu.

"O nosso presidente recorreu ao apoio estatal, foi-nos pedido para ajudar o clube neste momento critico e complicado, dentro dessa lógica de lay-off. E para os que não aceitaram, o presidente entendeu que não estavam a querer colaborar e tomou outro tipo de medidas", revela o treinador, em Bola Branca, ao mesmo tempo que aponta as razões para os helvéticos apresentarem um número alto de vítimas da Covid-19.

"As medidas que tomaram, no inicio, não foram tão rápidas. Como fechar as fronteiras. Existem muitas pessoas que trabalham na Suiça e vivem em Itália e fechar as fronteiras seria um caos para a economia. E, na altura, até já havia muita informação que em Itália os números eram alarmantes. Por isso, foi muito fácil espalhar o vírus. Hoje, o Governo adotou medidas extraordinárias, mas é como sarar e lamber as feridas. E tem existido um número de mortos elevado para a quantidade de pessoas", termina Ricardo Dionísio.

A Suiça tem, à data, 858 mortos contabilizados e 22.789 casos de contágio confirmados.

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