06 abr, 2020 - 08:50 • Fátima Casanova
Um português regressou à China a 16 de março, dias antes do país fechar fronteiras, e ainda mantém vigilância, por causa da pandemia. Marco Dinis é treinador de futebol, foi chamado pelas autoridades chinesas para retomar o seu trabalho com os alunos, e a sua entrada em Hangzhou foi rodeada de cuidados extremos, que quase pareciam cenas tiradas de um filme de ficção científica.
"[Perguntaram] por onde é que íamos, de onde vínhamos, se tínhamos estado em contacto com alguém. Toda a gente sempre equipada com fatos a fazer lembrar o filme Outbreak ["Outbreak - Fora de Controlo", em Portugal]. Tiraram-nos novamente a temperatura e levaram-nos para uma sala, onde tínhamos o nome das cidades que fazem parte da região de Hangzhou. Levaram-nos, depois, numa carrinha toda esterilizada. Decidiram que íamos para um hotel. As refeições eram dadas pelo governo, o transporte sempre dado pelo governo, tudo. No quarto dia, informaram-nos que teríamos de sair do hotel", relata o treinador de guarda-redes, em entrevista à Renascença.
A surpresa foi grande, mas as explicações convenceram: um passageiro do mesmo voo acusara infeção por Covid-19.Por isso, todos os companheiros de viagem foram levados para uma unidade militar:
"[Fomos] numa carrinha a fazer lembrar as carrinhas daquelas da prisão, blindadas, até a chapa era meio em cobre. Levaram-nos para uma casa de repouso de antigos militares do Governo e ficámos com médicos. Sempre de máscara, mediram-nos a temperatura, fizeram-nos novamente as perguntas todas que já nos tinham feito 500 mil vezes antes. Ficámos num quarto, punham-nos as refeições todos os dias para comermos, se quiséssemos mandar vir alguma coisa de fora mandávamos. Ninguém poderia entrar naquele recinto, as coisas ficavam à porta e depois lá é que nos eram entregues."
Marco Dias fez o teste ao novo coronavírus por duas vezes, à entrada e à saída. Passados 14 dias, pôde regressar finalmente a casa, sempre acompanhado pelas autoridades chinesas. À porta da habitação, novo controlo, mais um questionário, nova medição de temperatura e a ordem para o fazer, diariamente, durante uma semana. As autoridades chinesas não facilitaram e o controlo continua apertado, através de uma aplicação que o técnico português descarregou.
"A aplicação gera-nos um código, esse código dá-nos uma cor. Se der verde, temos de andar sempre com o telemóvel para mostrar o código e com o passaporte para, na rua, se nos disserem alguma coisa, nós mostrarmos o código verde, que quer dizer que podemos entrar no 'shopping', no restaurante", exemplifica.
Na China, onde começou a pandemia do novo coronavírus, só agora, decorridos três meses, é que é retomada alguma normalidade. O código verde permite a Marco Dinis circular livremente e já começou a trabalhar, ainda que sem os alunos. As escolas ainda estão fechadas e, quando abrirem, não será para todos os alunos ao mesmo tempo.