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Andreia, a guarda-redes enfermeira na frente de batalha contra o coronavírus

06 abr, 2020 - 18:13 • Maria João Costa

Joga à baliza no Fiães, de Santa Maria da Feira, e é enfermeira de profissão. Há duas semanas que está numa unidade de rastreio móvel da Covid-19. “É um trabalho difícil, mas foi para isto que estudei”.

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Chama-se Andreia Matos, tem 26 anos e formou-se em enfermaria há pouco tempo na Escola Superior de Enfermagem da Cruz Vermelha. Agora está na frente de batalha numa unidade de rastreio móvel da Covid-19. Mas esta jovem está habituada a outros batalhas, mas no campo de futebol. É guarda-redes da equipa de futebol feminino do Fiães, de Santa Maria da Feira.

Quando joga à baliza, Andreia Matos diz que está treinada para “pensar depressa e manter a calma em situações limite”, mas esta profissional de saúde estava longe de imaginar que poderia aplicar os ensinamentos desportivos também na enfermagem. Em entrevista ao site da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), a jovem revela sentir “um pouco de medo” sempre que se equipa para trabalhar.

“Chegamos às 8h00 da manhã para desinfetar todo o material e vestir o equipamento de proteção, que é frágil. Nenhum pormenor pode escapar: fato, viseira, máscara, luvas, o kit integral”, conta Andreia Matos.

A guarda-redes enfermeira está a atender no “drive-thru” de Grijó, onde chega a fazer cerca de 200 testes de despistagem do novo coronavírus, por dia.

Antes, quando a atividade futebolista parou por causa da pandemia, Andreia Matos conta que esteve “a trabalhar no centro de contacto SNS24”. Depois conseguiu a vaga nesta unidade móvel de Grijó.

Os casos suspeitos, referenciados pela Linha Saúde 24 chegam de carro. “Sabemos de antemão quem são e o primeiro contacto é por telemóvel, sem saírem das viaturas. Depois o paciente dirige-se ao posto mais à frente, onde fazemos a colheita. São horas e horas de pé, e concentração total”, explica esta profissional de saúde que não baixa a guarda. “É um trabalho difícil, mas foi para isto que estudei”.

O que o futebol ensinou a esta enfermeira

Mais uma vez Andreia Matos sublinha que o futebol a tem ajudado no desempenho de funções. Diz à FPF.pt: “Uma guarda-redes tem de ter ainda mais frieza e serenidade. Na baliza, ouvimos provocações da bancada e comunicamos com a nossa equipa, a equipa adversária e o árbitro. Temos de ser assertivas e fortes psicologicamente. No meu trabalho, todos os dias são diferentes e há pacientes que nos tratam bem e outros que tratam mal. Nessa altura, uso o que aprendi no futebol”.

Há, no entanto, uma preocupação na cabeça desta enfermeira. “Por mais precauções que se tenha, existe a probabilidade de contágio. Como vivo com os meus pais, essa incerteza deixa-me um pouco temerosa. Só entro em casa depois de tirar a roupa toda e o calçado de trabalho”, conta Andreia Matos.


Guarda-redes não desiste e sonha com a Liga BPI

A enfermeira não dá tréguas, contudo, à guarda-redes. Andreia mantem os treinos. “Todos os dias, procuro manter os músculos ativos com exercícios. Chego a treinar como se fosse entrar em campo a qualquer momento” diz Andreia Matos. A guarda-redes mantém o contato com a equipa, têm mesmo um grupo de Whatsapp que chega a usar para pedir ajuda a outra colega do plantel que é enfermeira no Hospital de São João, no Porto.

A guarda-redes não desiste do sonho. Quer ver a equipa de futebol feminino de Fiães subir à Liga BPI. Estamos em segundo lugar na fase de apuramento de campeão, com os mesmos pontos do Famalicão, que lidera. Ganhámos todos os jogos do campeonato que fizemos nesta época. É claro que o nosso sonho é chegar à Liga BPI”, refere Andreia Matos que não desiste assim dos seus reinos de final de tarde.

Para os portugueses, neste período de estado de emergência a jovem enfermeira deixa um conselho: “continuarem a cumprir as recomendações da DGS e as medidas decretadas pelo Governo”. Como profissional de saúde refere - “Não queremos mais nada. Estamos a fazer o nosso trabalho todos os dias, com medo, como as outras pessoas que têm de trabalhar nesta altura. Como disse, estudei muito para chegar a este lugar. Desempenho as minhas funções com dedicação e sentido de dever”.

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