03 abr, 2020 - 15:00 • Olímpia Mairos
É uma cultura que tem dado frutos nos últimos anos. O morango de São Pedro Velho, no concelho de Mirandela, ganhou fama e tinha escoamento garantido. Mas este ano, devido à Covid-19, teme-se que o fruto fique nas plantas.
Manuel Pinto, um dos cinco produtores da aldeia, manifesta a apreensão. “Se eu tenho dois mil quilos apanhados e depois só pegam em 500 quilos, como vai ser?”, questiona, dando de imediato a resposta “ficam na planta”.
O produtor, que produz cerca de 17 mil quilos de morangos, teme pelo investimento que ronda os 40 mil euros. Durante a apanha, o produtor dá trabalho a nove ou dez pessoas e este ano não terá problemas com a mão de obra porque “há gente na aldeia que todos os anos ia para as campanhas em França e Espanha e este ano não podem ir e já se vieram oferecer”.
O maior problema, diz, é a dificuldade de escoamento devido às restrições de circulação e ao cancelamento da feira que se realizava na localidade e onde “os agricultores vendiam em dois dias quase 10 toneladas de morango”. “Tínhamos clientes do Porto que vinham cá e só para eles comerem e darem aos amigos levavam às 30 e 40 caixas e este ano isto não é possível”, conta à Renascença.
Coronavírus
Os agricultores consideram que as linhas de crédit(...)
O produtor fornece lojas de frutaria, um armazém de frutas e uma grande superfície, mas isso não o faz sossegar.
“Com estas medidas, as pessoas vão às compras a correr e vão às coisas mais importantes e os morangos vão ficando nas prateleiras e nós, aqui, temos que os colher todos os dias e eu tenho receio que saiam a passo de tartaruga”, refere. Por isso, o produtor aconselha “o consumidor a consumir produtos nacionais, porque fazem viver os produtores e, ao mesmo tempo, ao fazer viver os agricultores contribuem para aumentar a economia”.
Além de temer não escoar o produto, Manuel Pinto teme também pelo futuro. “A gente trabalha na produção deste ano e é com esse dinheiro que vai plantar outra vez. A gente está sempre a gerir dinheiro”, conta.
Acresce ainda um outro problema, segundo o agricultor, que se prende com as novas plantações. “A nossa planta vem de Itália, e como as coisas por lá estão muito mal, esta pode não aparecer”, salienta o agricultor que habitualmente faz as plantações em junho. “Caso não se encontrem as plantas, estamos em risco. São dois anos perdidos”, conclui.
O presidente da Junta de Freguesia de São Pedro Velho, Carlos Pires, partilha das preocupações dos agricultores e até já fez um apelo, através do Facebook, para as pessoas ajudarem a escoar o produto.
“Muitas pessoas, particulares, ofereceram-se para ficar com uma ou duas caixas, mas isso não é nada, porque há dias em que cada produtor tira aos dois mil quilos de morango”, conta à Renascença.
“O escoamento é um grande problema. O consumo deve estar muito reduzido e o morango não será uma primeira opção em termos de compra”, observa o autarca.
O presidente da junta de freguesia antecipa um outro problema. “Vamos ter o problema da apanha. Com estas restrições todas não sabemos se as pessoas que habitualmente estavam disponíveis para trabalhar estarão dispostas a fazê-lo, porque acabam por estar relativamente próximas umas das outras”, justifica.
O autarca local afirma que as consequências desta colheita podem ser “drásticas” e que coloquem em “risco a produção de morango na freguesia”. Carlos Pires afirma que o setor “mexe com a economia local. No pico da colheita, que é um mês, empregava à volta de 50 pessoas, quase diariamente”.
“É uma ajuda para cerca de 30 famílias. E numa freguesia como esta faz a diferença”, conclui.