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Hospitais militares

Governo desperdiça 400 camas, blocos operatórios e cuidados intensivos em plena pandemia

03 abr, 2020 - 13:14 • Ana Rodrigues

O major-general Bargão dos Santos não se conforma com o desperdício de capacidades, outrora pertencentes ao Exército, Força Aérea e Marinha.

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Em plena pandemia, o Governo está a desperdiçar 400 camas, blocos operatórios e cuidados intensivos. O alerta é lançado pelo major-general João Bargão dos Santos nesta sexta feira, em que regressam protestos públicos pela devolução dos antigos hospitais militares ao Estado.

Para este oficial reformado, médico e antigo diretor do Hospital Militar Principal, numa altura em que o país enfrenta a pandemia de Covid-19 urge “pôr de novo a funcionar os hospitais militares alienados, depois da criação do Hospital das Forças Armadas (HFAR), em 2014”.

Bargão dos Santos não se conforma com o desperdício destas capacidades, outrora pertencentes ao Exército, à Força Aérea e à Marinha.

“É revoltante saber que podíamos ter ali 400 camas livres, com qualidade, cuidados continuados, com espaços e enfermarias próprios para isso, cuidados intensivos, blocos operatórios, rampas de oxigénio e montagem de pressão negativa”, refere o militar.

A luta de João Bargão dos Santos, com a subida às escadarias dos hospitais de Belém e de Santa Clara, não é de agora. Tem antecedentes de uma petição pública com cinco mil assinaturas sobre a reversão dos antigos hospitais militares.

O Hospital da Estrela (antigo Hospital Militar Principal), diz o militar, foi “entregue à Santa Casa da Misericórdia e está por abrir há quatro anos, como a maior unidade de cuidados continuados do país. Só ali estão 200 camas”.

Outro exemplo é “o do hospital de Belém, entregue à Santa Casa da Misericórdia e Câmara Municipal de Lisboa e até agora sem nada ter sido feito".

A exceção é a desta pequena unidade para doentes com Covid-19 "que o Governo decidiu agora fazer”, mas decisão de que Bargão dos Santos discorda, já que “este tipo de cuidados implica estruturas muito mais complexas, complicadas, difíceis". Além disso , "o hospital esteve muitos anos fechado”.

O ideal, refere, é que o hospital possa “funcionar como retaguarda para cuidados continuados, com meios de enfermagem, médicos, estruturas adequadas, para que as pessoas não estejam num depósito”.

Depois há ainda o exemplo do antigo Hospital da Marinha, que, segundo diz Bargão dos Santos, “foi vendido a um consórcio francês para apartamentos e tem as obras embargadas”.

Para o major-general, estas são consequência de um “processo mal gerido de fusão dos hospitais e respetiva concentração num Hospital das Forças Armadas (HFAR), no Lumiar”.

Segundo este oficial, “quando se fez a junção, esqueceram-se que as retaguardas que eram a Estrela, Belém e Santa Clara; não se deviam perder e deviam continuar a dar resposta às necessidades das Forças Armadas, para apoio nomeadamente aos ex-combatentes, mas também fazer a extensão ao Serviço Nacional de Saúde”.

Se os hospitais militares fossem reativados, o ideal seria, na opinião do médico, “que funcionassem como apoio imediato na área dos cuidados continuados e que se soltasse para os hospitais de primeira linha [Santa Maria ou São João] os outros cuidados médicos porque têm melhores meios para isso”.

Há cerca de duas semanas, o Governo reabriu o Hospital de Infecciologia da Ajuda, uma unidade hospitalar militar em Belém que tinha encerrado em 2013,para acolher pessoas com doenças não relacionadas com a pandemia de Covid-19.

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