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O retrato feito pelos diferentes parceiros sociais não é animador. E, caso raro, no essencial falam a uma só voz: A pandemia está a arrasar o tecido laboral. Não é fácil encontrarem números claros que justifiquem as conclusões. Mas sabe-se que são feitos de muitos, muitos zeros à direita.

Do lado empresarial o diagnóstico de António Saraiva, presidente da Confederação Empresarial de Portugal (CIP), é claro: “Se pensarmos que as actividades empresariais reduziram 90%, 100%, 80%, se olharmos para a aviação, para o turismo, imobiliária, para a têxtil, calçado, metalurgia, automóvel, sectores de média ou grande dimensão que reduziram em alguns casos a zero, a sua atividade; se olharmos para a micro realidade empresarial que compõe a economia portuguesa - o restaurante, a pastelaria, o café, - que é essa a micro realidade que integra a nossa economia, que fecharam portas por razões óbvias de contenção da pandemia, estamos a falar em dimensão, que mesmo sem termos os números, são dimensões catastróficas", afirma.

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Mas António Saraiva, olha para o futuro a médio e longo prazo com preocupação. E quanto aos próximos 15 dias “vêm somar a 15 dias que já vivemos, mas agora muito mais exauridos, muito mais esgotados em todos os sentidos, e vão ser 15 dias de sangue suor e lágrimas. Vão ser 15 dias muito dolorosos, mas vamos ultrapassar. São dias que nos convocam a estarmos unidos e coesos".

São palavras que Carlos Silva, o secretário geral da UGT não ouviu. Conhece a realidade das empresas em Portugal, mas não tem dúvida que muitas abusam. Algumas estão a aproveitar a “má onda” da Covid-19, para reestruturar. Carlos Silva garante que os trabalhadores estão a ter prejuízos graves “que se têm vindo a avolumar à medida que a incerteza paira no horizonte. A verdade é que muitas empresas, umas dominadas pelo pânico e outras pelo oportunismo, fazem recair a fatura sobre os trabalhadores, muitos deles precários, despedindo-os logo que surgiram os primeiros casos", conclui. Quanto aos 15 dias que se aproximam, está “convencido que a situação vai continuar. A não ser que haja pela parte do Governo, uma proibição absoluta dos despedimentos”. E avisa: “Se o Governo não colocar um travão, o caldo vai entornar".

No comércio e serviços, o balanço é igualmente negro. Não há números fechados, mas nas contas de João Vieira Lopes, da Confederação do Comércio Português, “o prejuízo teórico - se toda a gente tivesse fechado logo no princípio do mês de março, o que não aconteceu - o prejuízo seria superior a 130 milhões de Euros por dia."

E se até agora o comércio não viveu bons dias, em contraste com os últimos meses, de consumo impulsionado pelo turismo, o mês de abril será preocupante.

João Vieira Lopes não poupa nas palavras e afirma que “vai ser dramático, porque não vai haver receitas, tudo o que tenha a ver com 'lay-off' obriga, mesmo assim a um alto investimento em salários e a segurança social só reembolsa ao fim de 30 dias a parte que compete ao Estado. E há ainda o problema grave que tem a ver com os pequenos estabelecimentos e os gerentes que não são cobertos".

Noutra área, a Confederação da Agricultura de Portugal, a CAP, a que pertence Luis Mira, os dias são igualmente duros. Mas vão ser piores, uma vez que se "há sectores que já foram afetados, como as flores, os queijos de cabra e ovelha, já começa a existir uma quebra nas encomendas de vinhos, começam a não ser vender carnes das raças autóctones, e os maiores problemas vão surgir nas próximas semanas ou dentro de um ou dois meses, porque há uma quebra no consumo proveniente do fecho de restaurante e hotéis, e não há turistas”.

A Renascença tentou ouvoir também a Confederação do Turismo sobre o atual momento do país, mas tal não foi possível. Ainda assim, tendo em conta o que foi já dito, tendo em conta as proibições na circulação, restauração e hotelaria, é bem de ver que o diagnóstico e as perspetivas serão semelhantes.