Emissão Renascença | Ouvir Online
A+ / A-

Combate ao coronavírus na primeira pessoa

"Medicina de guerra" em Madrid. "Imaginei o pior cenário e quando cheguei era tudo pior"

26 mar, 2020 - 20:15 • Hugo Monteiro

Fábio Dinis, enfermeiro português a trabalhar num hospital da capital espanhola, relata à Renascença a situação no país, onde pandemia de Covid-19 já matou mais de 4 mil pessoas.

A+ / A-

Veja também:


Com o número de infetados e de vítimas mortais a subir todos os dias em Espanha, nos hospitais de Madrid faz-se “medicina de guerra”. A expressão é utilizada por Fábio Dinis, enfermeiro português da unidade de cuidados intensivos do Hospital Sanchinarro, na capital espanhola, em entrevista à Renascença.

Há quase 15 anos a trabalhar em unidades de saúde espanholas, este português confessa que, pela primeira vez, foi “com medo para o hospital e a pensar no que iria encontrar” quando a pandemia de coronavírus aterrou em força no território espanhol.

“Imaginei o pior cenário e quando cheguei era tudo bem pior”, explica Fábio Dinis. “Nunca imaginámos que esta situação pudesse acontecer. É uma medicina praticamente de guerra. Passamos turnos e turnos sem fim no hospital. Os doentes chegam com uma complexidade respiratória muito significativa. A situação consegue ser, na minha opinião, pior do que aquela que é transmitida nos órgãos de comunicação social .”

Para o também professor da Universidade CEU San Pablo, de Madrid, “os recursos humanos e materiais” das unidades de saúde “já ultrapassaram os seus limites”, o que condiciona, e muito, a capacidade de resposta dos profissionais da área.

Fábio Dinis diz que a situação ainda não é tão grave como em Itália, mas admite que dentro de dias o cenário poderá idêntico ao que tem sido vivido nos hospitais italianos.

Em breve vai ser preciso tomar decisões sobre que doentes tratar, explica, “entregando parte do equipamento de assistência, como os ventiladores, aos doentes com maiores probabilidades de sobrevivência”. “Não descarto a possibilidade de,dentro de uma semana ou dez dias, isto começar a acontecer em todos os hospitais”, lamenta o enfermeiro português.

Fazer em Madrid o que se fez em Ovar

Portugal tem lições a tirar do caso espanhol, mas também Espanha devia ter seguido alguns exemplos portugueses, remata Fábio Dinis.

“As pessoas têm de compreender que têm de cumprir as restrições recomendadas. Inicialmente falava-se que que esta era uma situação superficial. Não é assim! É uma situação extremamente complicada”, alerta o enfermeiro, para quem “o maior erro do Governo espanhol foi não ‘blindar’ a capital, Madrid”, à imagem “do que foi feito em Ovar”, onde a 18 de março foi erguida uma cerca sanitária para isolar a cidade.~

Sem restrições maiores e mais significativas à circulação, “as pessoas que tinham casas na praia optaram por viajar e ir para a sua segunda casa”, o que fez com que o quadro da doença se agravasse em determinados pontos do país -- algo que o enfermeiro português diz esperar que não aconteça deste lado da fronteira.

Dados do coronavírus na Europa

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

  • amilcar godinho pereira da silva nunes pereira
    26 mar, 2020 almada cacilhas 21:11
    Gostei de ver as noticias agradeço

Destaques V+