26 mar, 2020
A ciência desafiou a religião no século XIX. Mas a descrença na religião estendeu-se no século XX à descrença em tudo, incluindo na ciência e na razão. Desvalorizou-se, assim, a procura da verdade. Cada um acredita no que bem lhe apetece - e não se rala muito com isso.
Os esforços que os cientistas fazem em todo o mundo para encontrarem uma vacina para o coronavírus é um dos temas que diariamente surge, e bem, nas notícias sobre o combate à pandemia. Sabe-se como muitas outras doenças foram erradicadas graças a vacinas. No entanto, o movimento anti-vacinas estava muito ativo antes desta pandemia. Como se explica essa atitude absurda?
Explica-se pelo relativismo que tomou conta da nossa cultura. No século XIX a ciência surgia como a fonte de toda a verdade. Por isso combatia a religião. O conflito entre o médico e o padre era, então, frequente. Depois, tornou-se claro que a ciência, que fez progressos extraordinários, apesar disso era incapaz de dar resposta a inquietações fundamentais dos homens, como revelar-nos o sentido da vida. Esses assuntos são para a filosofia e para a religião.
Só que a descrença religiosa tornou-se, no século XX, descrença em tudo, incluindo na ciência e na própria razão. Desvalorizou-se, assim, a procura da verdade. Cada um acredita no que bem lhe apetece - e não se rala muito com isso.
Claro que a ciência não nos oferece verdades definitivas; por isso ela progride e substitui teorias por outras melhores. Mas parece irracional não valorizar o que ela avançou e continua a avançar.
A terrível pandemia da chamada “gripe espanhola”, no fim da I guerra mundial, em 1918-19, terá morto entre cinquenta a cem milhões de pessoas. Os progressos científicos na medicina e na área farmacêutica limitariam, hoje, essas mortes de milhões para milhares, pelo menos.
Mas a irracionalidade não perturba os que gostam de cultivar a sua visão das coisas, apenas por ser sua.