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Coronavírus

Fundão com manual "anti-vírus", a um mês da campanha da cereja

26 mar, 2020 - 10:15 • Luís Aresta

Há trabalhadores em quarentena para que nada falhe na altura certa.Mão de obra exterior sujeita a prova obrigatória de 14 dias em isolamento, de forma a prevenir contágio da Covid-19.

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Faltam sensivelmente quatro semanas para mais uma campanha da cereja da Cova da Beira e, no cenário atual de proteção da pandemia, os responsáveis preparam um manual "anti-vírus" para conter o risco de contágio.

"Estamos a fechar um caderno de boas práticas que permitam a colheita em níveis de segurança. É um modelo diferente daquilo que eram as práticas normais, que ajudará a que a campanha possa correr bem na cereja do Fundão, produto que foi reconhecido pela União Europeia", revela à Renascença Paulo Fernandes, autarca do Fundão, munícpio com cerca de 2 mil hectares de cerejais. Área que dá significado à importante desta época do ano para a economia da região.

É sobre os cuidados sanitários a ter que incidem as maiores atenções deste novo manual de procedimentos para a fileira da cereja. A começar no momento da apanha manual, que habitualmente leva aos cerejais centenas de trabalhadores ali colocados por empresas de trabalho temporário.

"Não pode haver nenhum trabalhador externo, nomeadamente essa mão-de-obra que representa 400 ou 500 trabalhadores e que nos últimos anos tem sido fundamental para a colheita, que não tenha feito a demonstração de estar estado de quarentena obrigatória durante 14 dias antes de entrar no nosso território", esclarece Paulo Fernandes. O autarca dá ainda conta de um sinal revelador de como os produtores de cereja estão a trabalhar para que o novo coronavírus não lhes entre pelos cerejais e lhes arrase a campanha com a mesma crueldade que tem ceifado vidas.

"Já há produtores com trabalhadores em quarentena, como medida preventiva, para depois poderem entrar em pleno. Esta é uma norma que já corre entre os nossos produtores e que poderá ser um bom caminho para permitir a colheita", assinala o autarca do Fundão.

Cerfundão "faz figas" para que tudo corra bem

"Estamos um pouco como outros setores, à espera do que poderá acontecer e a fazer figas para que tudo corra com nomalidade". A resposta de José Pinto Castello Branco, presidente da Cerfundão, é elucidativa da incerteza que paira na Cova da Beira. Desde 1945 que a empresa, com sede no Fundão, em colaboração com os fruticultores da Cova da Beira, cuida da fileira da cereja, desde a produção, ao embalamento e à colocação nos mercados nacional e internacional.

A apanha da cereja vai começar daqui a aproximadamente quatro semanas e o maior desafio para os fruticultores é garantir a mão-de-obra essencial a uma operação que, dada a sensibilidade do fruto, é feita manualmente. Nos últimos anos, os produtores da região têm recorrido a trabalhadores nepalaleses ou paquistaneses disponibilizados por empresas de trabalho temporário, cuja base de trabalho está essencialmente no litoral alentejano e que por esta altura do ano são deslocados para a Cova da Beira. Uma vez que se trata de mão-de-obra já estacionada em Portugal, o presidente da Cerfundão confia que as restrições impostas à entrada de pessoas em Portugal não terá impacto significativo na angariação de trabalhadores.

Apesar do momento crítico por que a econnomia nacional passa, José Pinto Castello Branco mantém-se otimista quanto à campanha da cereja nesta primavera.

"São Pedro tem ajudado. No inverno choveu o suficiente para repor níveis, não houve muito frio, outra condicionante importante, mas estamos à espera que seja uma boa campanha" diz o empresário. As exportações são resduiais no que respeita à cereja produzida na Cova da Beira, com a Cerfundão a entender que seria desejável que o mercado nacional importasse menos e ficasse mais confinado aos "produtores portugueses, que dão melhores garantias"

Com este inimigo por perto todo o cuidado é pouco

Apesar do inexpressivo número de casos de Covid-19 na Cova da Beira, os produtores de cereja mantêm-se alerta, mesmo sabendo que os riscos de contrair a doença no contexto rural são aparentemente menores.

"Na agricultura temos esta vantagem de trabalhar a céu aberto, de maneira que sempre é menos preocupante do que para quem trabalha em ambientes fechados", diz o responsável pela Cerfundão que, nesta entrevista à Renascença sublinha a importância que todos estão a dar à Covid-19.

"Os trabalhadores respeitam as medidas de segurança que se aplicam a todos, há distanciamento, não há cumprimentos nem toques, com os trabalhdores a desinfentarem-se e a lavar permanentente as mãos quando estão a operar com os equipamentos, o que tem permitido trabalhar normalmente", diz José Pinto Castello Branco que conclui com uma chamada de atenção para a realidade do dia a dia do setor.

"Isto não é uma fábrica, em que possamos fechar o portão e mandar as pessoas para casa. As árvores continuam a produzir, os frutos a crescer e nós temos que os tratar", conclui.

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