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Sem poder vender nas feiras por causa do coronavírus, comunidade cigana já teme a fome

24 mar, 2020 - 21:50 • Lusa

Há acampamentos em que toda a comunidade tem apenas uma torneira. Se a doença lá chegar todos ficam expostos, alerta uma associação representativa dos Ciganos em Portugal.

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A Associação dos Mediadores Ciganos de Portugal (AMEC) teme que as restrições à realização de feiras e mercados devido à pandemia de covid-19 tragam fome às comunidades ciganas, alertando que em Portugal já há ciganos “com muitas dificuldades”.

A AMEC enviou esta terça-feira um e-mail à comunidade cigana com um conjunto de alertas e recomendações de comportamento com base nas orientações da Direção-Geral da Saúde (DGS), pedindo cuidados de higiene, isolamento, desaconselhando atividades de grupo e viagens.

O e-mail foi a forma encontrada pela associação para chegar a esta comunidade que, disse à Lusa o presidente da AMEC, Prudêncio Canhoto, não recebeu contactos, visitas ou esclarecimentos de qualquer autoridade.

Prudêncio Canhoto vive em Beja, onde existe um bairro de ciganos com 50 casas e, ao lado, um acampamento. Ao todo, serão cerca de 800 pessoas, a maioria crianças, e poucos idosos, mas todos uma fonte de preocupação no atual contexto da epidemia de covid-19, a doença provocada pelo novo coronavírus.

“Ninguém foi lá saber como estão. Ninguém foi alertar. Ali há muita falta de higiene. Há uma torneira para o acampamento todo. Se alguém apanha o vírus não há proteção nenhuma nem condições”, disse Prudêncio Canhoto, acrescentando que os ciganos “sentem-se desprezados”.

O presidente da AMEC alerta ainda para a possibilidade de muitas pessoas da comunidade cigana poderem passar fome por estarem impedidas de praticar a atividade que tradicionalmente os sustenta, o comércio em feiras e mercados.

“Em Portugal temos ciganos com muitas dificuldades. Os feirantes estão parados. As pessoas querem dinheiro para comer e não têm. A sorte de alguns são as famílias. Quem tem alguma coisa vai ajudando, mas os feirantes vivem do negócio e do que vendem, não dá para dar muito”, disse.

“Isto está a complicar-se muito. Vamos ver quanto tempo vai durar. Estou com receio que em meados de abril haja muita fome”, acrescentou.

Entre as recomendações que seguiram hoje por e-mail, uma delas dizia respeito a pedidos de ajuda para apoio alimentar, indicando instituições de solidariedade como a Caritas ou as autarquias para solicitar esse apoio.

Prudêncio Canhoto disse que já tentou ligar para o delegado de saúde de Beja e para a própria DGS, a alertar para a inexistência de meios de proteção na comunidade de Beja, mas não conseguiu estabelecer contacto com ninguém até ao momento.

Ao Governo e às autarquias deixou um apelo para que acompanhem mais esta comunidade e ajudem a combater as dificuldades.

Em Portugal, há 33 mortes, mais 10 do que na véspera, e 2.362 infeções confirmadas, segundo o balanço feito esta terça-feira pela Direção-Geral da Saúde, que regista 302 novos casos em relação a segunda-feira (mais 14,7%).

Dos infetados, 203 estão internados, 48 dos quais em unidades de cuidados intensivos, e há 22 doentes que já recuperaram.

Portugal, onde os primeiros casos confirmados foram registados no dia 2 de março, encontra-se em estado de emergência desde as 00h00 de 19 de março e até às 23h59 de 2 de abril.

O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou mais de 400 mil pessoas em todo o mundo, das quais morreram cerca de 18.000.

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  • Maria Aguiar Pereira
    30 abr, 2020 PEDRAS PRETAS em PORTO SANTO 15:06
    O NOSSO GOVERNO RETIRE DA MENTE GASTOS DESNECESSÁRIOS!!!! .... e faça "O ESSENCIAL" PARA ESTAS COMUNIDADES "CIGANAS" QUE TÊM TANTOS DIREITOS AO SEU BEM-ESTAR COMO QUALQUER CIDADÃO PORTUGUÊS. ESTAMOS NO SÉC. XXI !!!!!!!!!!!!!!!!! .........."uma só torneira" ............ "os feirantes à beira da fome"

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