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"Fechar a porta é fácil, abrir é que vai ser complicado". Calamidade abate-se sobre PME

25 mar, 2020 - 11:13 • Luís Aresta

O fim do mês pode significar falências em série e milhares de trabalhadores com salários em atraso. As PME dizem-se esquecidas pelo Governo. Dúvidas sobre as medidas aplicadas, nomeadamente "lay-off" simplicado, por esclarecer.

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Com o país em estado de emergência, devido ao novo coronavírus, a cinco dias do fim do mês, uma autêntica calamidade pode bater à porta das micro, pequenas e médias empresas, muitas delas encerradas por força da pandemia.

O cenário é de quase total desinformação, num setor que se sente ignorado pelo Governo, apesar de representar a esmagadora maioria do tecido económico do país.

Jorge Pisco, presidente da Confederação Portuguesa das Micro, Pequenas e Médias Empresas (CPPME) reconhece, numa entrevista à Renascença, que o risco de falências em série é "enorme". O dirigente e empresário confessa que "as pessoas estão desesperadas, porque vão à Segurança Social e dizem-lhes que face a determinada situação não têm direito a nada, vão ao banco e ficam sem informação, tudo isto a cinco dias do fim do mês". Jorge Pisco interroga-se sobre o que vai acontecer, para concluir que os empresários "estão com a corda na garganta".

O mês de abril poderá ser ainda pior, admite o presidente da CPPME, mas já no final de março existe o sério risco de salários em atraso de uma forma generalizada. "Acho que sim. As empresas fecharam a meio do mês, ou seja, na segunda metade de março já não geraram receita. Muitas delas precisavam de ter faturado para chegar ao fim do mês e terem dinheiro para os salários, obrigações fiscais, etc. E no mês seguinte as coisas vão-se complicar; o próximo mês vai ser calamitoso", avisa Jorge Pisco.

Governo nem decide, nem esclarece

A falta de medidas esclarecedoras por parte do Governo é um dos maiores males na atual crise, aponta o presidente da CPPME.

"A confusão é generalizada, porque nada está regulamentado. Diz-se muita coisa, mas depois, no concreto, os empresários não conseguem ficar esclarecidos sobre as questões que vão sendo apontadas. Não conseguimos ter ideias arrumadas nem sobre o 'lay-off', nem sobre os apoios ao crédito, nada. Estamos a navegar à vista, é o termo", diz Jorge Pires, para quem muita coisa continua desajustada do mundo real das empresas.

"O 'lay-off' não está adaptado às micro e PME, pela fatia que as empresas têm que pagar, [30% dos salários] mas não só. É necessário garantir que os empresários vão receber apoios em tempo útil para terem disponibilidade de tesouraria e poderem fazer face às despesas que vão ter. Os 60 dias para que se está a apontar não é uma solução viável. É necessário celeridade e adaptação à realidade. Tudo aquilo que está feito não tem em conta este setor que representa 99,4% do tecido económico português", denuncia o empresário.

E o que aí vem não é nada de bom, avisa. "Temos associados que já fecharam, que não sabem se hão-de ir para 'lay-off' que, no fundo, não sabem o que hão-de fazer. Fechar a porta é muito fácil, abrir é que vai ser complicado e a retoma económica será muito, muito complicada. É para isto que temos que olhar. Como se vai recompor a vida de milhares de empresas com centenas de milhar de trabalhadores", acentua Jorge Pires, que adverte que estas empresas "vivem das receitas mensais da sua atividade, o que dará para um ou dois meses, no máximo".

À espera de notícias do Terreiro do Paço

Esta quarta-feira pode ser importante para as micro, pequenas e médias empresas, caso o Governo cumpra com a promessa de facultar mais informação aos empresários.

"Aguardamos uma resposta dos ministérios da economia e do trabalho às propostas que fizemos. Continuamos sem reposta até esta data. na terça-feira dirigimos uma carta ao primeiro-ministro para que fosse aberto um canal de informação detalhada entre o governo e a CPPME. Fomos informados que esta quarta-feira iriamos receber da parte dos ministérios do trabalho e da economia, alguma informação. Estamos a aguardar que ela chegue", conclui.

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  • Diogo Pinto
    26 mar, 2020 Cantanhã 10:50
    Bom , espero que este problema económico não seja pensado á um nível nem micro nem macro . É um problema social , que é agravado , pois trata-se de um problema social instigado por uma crise humanitária ( CoVid-19 ) . Reparem , se pensarmos nos empregadores , sabemos que estes têm á fama de ter proveito e lucro . Contudo esse proveito e lucro advém da matéria adquirida , seja dentro ou fora , seja pela empresa ou por intermediários . Mas o essencial é que para construir precisamos de material primeiro , de um plano depois , e , em ultimo de mão de obra ( qualificada e legal ) . Portanto quem correra maior risco será sempre aquele que tem poder ,mas vê o seu poder estagnar . Sabemos que á estagnação é prejudicial ao desenvolvimento , e , por esta lógica , chegaríamos ao fechar das portas , às falências e ao obrigatório despedimento . Não esquecendo nunca os mais necessitados , não por sentimentalismo , mas por dever e obrigação , aqui temos á segurança social , que tem obrigação , através do trabalho mínimo , garantir uma vida digna , com todas as evidências que sabemos que existem . Isto é , " Eu tenho para mim , e , se quiseres , ajuda-me ! "

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