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​Coronavírus. Alemanha a meio gás não escapará a recessão

23 mar, 2020 - 12:30 • Guilherme Correia da Silva

A Alemanha implementou novas regras de prevenção contra o coronavírus. Nas ruas, só se pode andar sozinho ou aos pares. Quem não cumprir arrisca-se a pagar multas pesadas. O comércio não essencial continua fechado, e economistas alemães dizem que a recessão é inevitável. Ainda assim, apelam à solidariedade da Alemanha com outros países da UE para evitar uma nova crise da dívida.

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As ruas estão praticamente desertas. É assim um pouco por toda a Europa e a Alemanha não é excepção. Grupos de mais de duas pessoas foram proibidos por causa do novo coronavírus. A maior parte das pessoas segue os conselhos do governo alemão e fica em casa. Só supermercados, drogarias, tabacarias e farmácias estão abertos - o essencial. O resto tem as portas fechadas: lojas de pronto-a-vestir, serviços de telecomunicações, ginásios, restaurantes. Nas montras, o aviso: “Também nós tivemos de fechar por enquanto a nossa loja”.

No entanto, a renda continua por pagar, tal como os salários, a água, a luz, possíveis créditos ao banco, o seguro. As faturas acumulam-se. Sem clientes, o dinheiro não entra na caixa - até quando, não se sabe.

“Para conter o risco de infeção podem ser necessárias medidas de isolamento que durem mais tempo, o que levará a uma maior quebra das vendas nas empresas. Por isso, é importante que haja medidas apropriadas para garantir a liquidez e que se concedam créditos de apoio às empresas”, lembra Markus Demary, do Instituto da Economia Alemã, em Colónia.

Recessão é inevitável

Não é só o comércio a passar por problemas. A imprensa alemã noticia a suspensão da produção em cada vez mais fábricas, como forma de prevenção.

É mais do que certo que a Alemanha vai entrar em recessão, segundo Björn Bremer, do Instituto Max Planck para o Estudo das Sociedades - a única coisa que não se sabe é quão grave será. Isso “dependerá de muitos factores, incluindo do tempo necessário para conter a pandemia”, diz o investigador.

As últimas previsões do Instituto para a Economia Mundial de Kiel indicam que, se a situação continuar assim até ao final de abril, o Produto Interno Bruto da Alemanha deverá encolher 4,5%. Mas, se o cenário se mantiver até agosto, a estimativa é de uma quebra de quase 9%.

Preocupada, a chanceler Angela Merkel prometeu apoios às empresas e aos trabalhadores independentes.

“O governo está a fazer todos os possíveis para diminuir o impacto económico e, sobretudo, para preservar os empregos”, assegurou Merkel na semana passada, num discurso à nação inédito, a sublinhar a gravidade da situação - em 14 anos de mandato, foi o único discurso proferido pela chanceler fora da altura do Ano Novo.

Novo paradigma: o fim do "schwarze Null”

Uma das prioridades do executivo alemão é garantir que as empresas tenham acesso rápido e descomplicado a financiamento. Por outro lado, assegurar que ninguém é penalizado por não ter dinheiro para pagar a renda da casa ou da loja. Há ainda planos para um fundo de emergência de 500 mil milhões de euros para salvar empresas em risco de falência, à semelhança do que foi feito depois da crise financeira de 2008, para salvar bancos. Isso inclui a possiblidade de estatização parcial dessas empresas.

Mas todas estas medidas têm um preço. O governo alemão vai quebrar uma regra até aqui considerada intocável: o chamado “schwarze Null”, o défice zero nas contas públicas.

“Para a política económica alemã, é evidente que tem de haver uma mudança de paradigma”, afirma o investigador Björn Bremer.

É "imperativo" ser solididário

O investigador pede a Berlim para não olhar só para as contas nacionais e pensar também nos parceiros europeus: “Neste momento, vemos que países como Itália ou Espanha estão a ser mais afetados do que outros. São países que, nos últimos anos, sofreram particularmente as consequências da crise económica e financeira. Mas, como não têm o espaço de manobra financeiro de países como a Alemanha, é imperativo que os chamados ‘países doadores’ apoiem uma resposta económica e política europeia a esta pandemia.”

É preciso evitar uma nova crise da dívida na zona euro, “isso seria o pior que poderia acontecer na situação actual”, avisa o economista Markus Demary. “Por isso, foi bom que o Banco Central Europeu tenha reagido relativamente cedo com um pacote de medidas”, comenta.

O BCE anunciou, na semana passada, um programa de 750 mil milhões de euros para comprar dívida pública e privada de países da zona euro.

As medidas de prevenção contra o novo coronavírus são dolorosas, mas absolutamente necessárias. E as próximas semanas “vão ser ainda mais duras”, alertou Angela Merkel. De portas fechadas, alguns lojistas alemães escreveram nos avisos das montras que esperam voltar a receber os clientes “em breve”. Mas não mencionam datas. A verdade é que ninguém sabe ao certo quando é que as lojas vão poder reabrir - e como e quando é que a economia voltará a estar em alta.

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