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​Perseguição aos cristãos provoca crise de educação no Quénia

20 mar, 2020 - 18:29 • Filipe d'Avillez

Cerca de 80% dos professores no nordeste do Quénia, de maioria muçulmana, são oriundos de outras partes do país e muitos estão em fuga por causa da perseguição do al-Shabaab.

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A perseguição aos cristãos no nordeste do Quénia, de maioria muçulmana, está a provocar uma crise ao nível da educação na região.

Ao longo dos últimos anos houve vários atentados no nordeste, na maioria levados a cabo por membros do al-Shabaab, uma milícia jihadista sedeada na vizinha Somália. Estes atentados têm motivado uma fuga de professores da região, 80% dos quais são oriundos de outras partes do país, de maioria cristã.

De acordo com dados oficiais do Ministério da Educação, ao longo dos últimos cinco anos foram assassinados mais de três dezenas de professores. Mas o pior ataque teve lugar em 2014 quando militantes do al-Shabaab mandaram parar um autocarro em Mandeera, separaram cristãos de muçulmanos e mataram-nos. Das 28 vítimas mortais, 22 eram professores que estavam a regressar a outras partes do Quénia para celebrar o Natal.

O nordeste do Quénia é culturalmente diferente do resto do país. A população é composta na maioria por muçulmanos de etnia somali que seguem uma vida nómada da pastorícia. Este estilo de vida dificulta a educação tradicional e o resultado é que existe uma grande escassez de professores locais. Segundo dados apresentados pela organização World Watch Monitor, uns 80% dos professores são oriundos de outras partes do Quénia.

Antigamente ir dar aulas para o nordeste era uma aposta para avançar a carreira, mas atualmente milhares de professores estão a exigir ao Governo serem transferidos, temendo ter a mesma sorte que Caleb Mutua, Titus Mushindi e Samuel Mutua, todos com menos de 30 anos, que foram assassinados no dia 13 de janeiro quando a sua escola foi atacada por militantes.

Pouco mais de um mês depois os jihadistas atacaram um autocarro e mataram Peter Kilnozo Musili e Kevin Onyango quando estes não foram capazes de recitar a “shahada”, a profissão de fé islâmica. Na ocasião foi morto ainda um muçulmano, Abdi Abinoor, que tentou proteger os seus colegas cristãos.

Dias depois deste ataque um porta-voz do al-Shabaab exortou a população local a expulsar os professores cristãos que não saíssem pelo seu próprio pé. “Temos professores, médicos, engenheiros e recém-licenciados islâmicos no desemprego. Não seria melhor que eles tivessem oportunidades? Não temos qualquer necessidade da presença de descrentes”.

Mas no que diz respeito à educação os números contradizem a ideia deste militante. Não existem professores em número suficiente na região para fazer face às necessidades e o resultado é que muitas escolas têm sido obrigadas a fechar, deixando milhares de alunos sem aulas, prejudicando ainda mais a sua educação.

O departamento estatal que gere a colocação dos professores tem facilitado as transferências, não obstante o prejuízo para os alunos locais, dizendo que prefere que voltem são e salvos do que em caixões.

Um padre católico a servir na diocese de Garissa, Nicholas Mutua, diz à World Watch Monitor que a situação tende a piorar. “As crianças estão a sofrer muito porque estão na escola mas não têm quem lhes ensine. É natural que piore nos próximos dias. É preciso encontrar uma solução rapidamente.”

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