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Opinião

Lei de Gresham, ansiedade e Covid-19

15 mar, 2020 - 07:00 • Ordem dos Psicológos Portugueses*

“A má moeda tende a expulsar do mercado a boa moeda”, dita a Lei de Gresham. A pergunta é: o que poderemos fazer para que a nossa “má ansiedade não vença a boa ansiedade”?

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O Covid-19 é um fenómeno que nos afecta a todos e nos pode infectar a todos, sem excepções. E todos reagimos de forma diferente perante as situações, mas é expectável que esta pandemia nos provoque a todos ansiedade, nos deixe preocupados e tensos com um vírus (e todas as suas consequências) que desconhecemos e não controlamos. Estes sentimentos são tendencialmente negativos e desconfortáveis, mas também nos deixam mais vigilantes e disponíveis para mudar os nossos hábitos e adoptar comportamentos pró-sociais e pró-saúde adequados a esta situação. Portanto, a ansiedade também tem uma parte boa e útil.

E, sendo assim, a pergunta é o que poderemos fazer para que a nossa “má ansiedade não vença a boa ansiedade”:

- Mantendo-nos informados e actualizados, mas consultando apenas informação de instituições oficiais (como os sites da DGS, OMS ou OPP), uma a duas vezes por dia, tendo como objectivo saber o que deve fazer para se proteger e encontrar boas notícias (por exemplo, pessoas que já recuperaram).

- Fazendo um STOP a pensamentos negativos e preocupações. Podemos escolher um momento do nosso dia para listar tudo aquilo que nos preocupa e gera medo e ansiedade. No momento escolhido, dedicamo-nos a esses pensamentos e a como lhes podemos dar resposta, nomeadamente, pedindo ajuda. Durante o resto do dia, fazemos STOP e ajudamos outros a fazerem STOP aos seus.

- Mantendo o contacto com os nossos familiares e amigos utilizando o telefone, o email, as mensagens, as redes sociais e, sobretudo, as videochamadas. Falar com pessoas de quem gostamos, expressando os nossos sentimentos e partilhando a nossa experiência, é uma das melhores formas de reduzirmos a ansiedade. Devemos tomar a iniciativa e ligar, activando a nossa rede de apoio.

- Mantendo pensamentos positivos e de esperança. As autoridades e os profissionais de saúde estão a trabalhar para que tudo corra bem e para ajudar quem precisa. Confiemos nas nossas capacidades para lidar com situações difíceis, lembrando-nos de desafios que já enfrentámos no passado, quer os individuais, quer os que enquanto sociedade já ultrapassamos. Se estamos em isolamento, é importante recordar que o isolamento contribui decisivamente para conter a propagação do vírus, mantendo a nossa segurança e a dos outros. E que o período de isolamento não vai durar para sempre, são só alguns dias.

- Mantendo as nossas rotinas de acordar, comer e dormir e realizando actividades de que gostamos e nos deixam relaxados. É uma boa ideia fazer uma lista de tarefas (o que precisamos de fazer?, do que nos queixávamos nunca ter tempo para fazer?, o que gostamos de fazer e nos descontrai?) sem esquecer momentos para cuidar de nós próprios. Também nos pode ajudar construir um horário pessoal/familiar e registar as alterações que é necessário fazer à rotina habitual.

- Fazendo algum exercício físico (exercícios simples, rotinas de treino à distância, dança) e mantendo uma alimentação equilibrada.

- Se viermos a experienciar sentimentos extremos de ansiedade e stresse, dificuldades em dormir, incapacidade em realizar as actividades do dia-a-dia ou desejo de consumir álcool e drogas para lidar com a situação, a má ansiedade pode estar a vencer a boa ansiedade e devemos ligar para o SNS24 ou contactar um profissional de saúde.

Na maior parte dos casos, excluindo situações onde já existiam problemas e dificuldades de Saúde Psicológica, os sentimentos de ansiedade são adequados nesta situação. Não são graves. São temporários, podem até ter utilidade e são ultrapassáveis – recorrendo às nossas próprias capacidades para lidar com situações adversas (que são muitas!) e à ajuda dos outros.

*Sara Cabaço, Andresa Oliveira e Tiago Pereira, da Ordem dos Psicólogos Portugueses

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