13 mar, 2020 - 16:05 • Beatriz Lopes
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Ao toque de
entrada, são poucos os alunos a entrar esta sexta-feira pelo portão da Escola
Básica Quinta de Marrocos, em Benfica. Um dia depois de o Governo ter anunciado
que os estabelecimentos de ensino vão fechar portas a partir de segunda-feira,
há pais que se dizem "obrigados" a trazer os filhos à escola – ou
porque não tiveram tempo para gerir a vida profissional, ou porque as crianças
"têm teste".
À Renascença, Inês Passos, representante da Associação de Pais e mãe de uma aluna de 11 anos, diz não entender por que razão é que o governo português demorou a agir. "É uma situação difícil em termos de trabalho com esta gente toda, mas não percebo porque é que não fecharam as escolas antes. É uma decisão que peca por tardia. Acho sinceramente que o episódio dos alunos que foram para a praia depois de receberem ordem de quarenta também fez com que o Governo pensasse mais um bocadinho", refere.
A partir de segunda-feira, Inês ficará em casa com a filha e garante que só vai sair "por questões de extrema necessidade". É através do teletrabalho que vai tentar conciliar a vida familiar com a profissional. "Sou arquiteta a recibos verdes e tenho a possibilidade de trabalhar a partir de casa. A empresa antecipou-se e autorizou – pelo menos inicialmente – que os trabalhadores que tenham filhos ou pessoas de risco trabalhassem a partir de casa", conta.
Esta mãe de uma aluna do 6.º ano diz ainda que "praticamente todos os pais" têm manifestado "preocupação", sobretudo porque foram surgindo boatos sobre possíveis infetados e as crianças “ficaram "ansiosas". No entanto, entende que não há razões para alarme. "Pelo que sabemos, só havia aqui o caso de uma funcionária que está em casa porque é mãe de um aluno que estudava na Escola Básica Roque Gameiro, entretanto encerrada [depois de uma docente ter sido internada por estar infetada com Covid-19]. Mas a funcionária não veio mais à escola, portanto o risco não existia mais ou, pelo menos, era muito menor", conta.
Com uma perspetiva um pouco diferente encontramos Olga Dias, mãe de dois alunos na mesma escola, de 10 e 12 anos. À Renascença, diz entender que o Governo tenha agido "com ponderação" na decisão de encerrar as escolas. "Não creio que a medida seja tardia. Nesta altura, é preciso fazer as coisas com alguma contenção e calma para não entrarmos todos em pânico. Acho que foi a medida certa, na altura certa, e esperemos que funcione. Ficar em casa é a melhor opção e é bom que não andemos por aí, para ver se conseguimos conter esta situação", defende.
A trabalhar numa empresa de serviços, Olga ainda terá de falar com a entidade patronal para saber se poderá trabalhar a partir de casa. No entanto, ficou "satisfeita" ao saber que os pais com filhos até 12 anos, e que trabalhem por conta de outrem, poderão receber 66% do salário. "Parece-me uma medida justa. Era ótimo que fosse 100%, mas atendendo às condicionantes que estamos a viver neste momento acho que temos todos de ser conscientes. Temos todos de fazer um bocadinho mais de contenção nesta altura", explica.
Independentemente da quebra da rotina, o desafio da grande maioria dos pais parece agora ser outro: como ocupar as crianças em casa de forma a que se evite o contágio de pessoas em contexto social? Olga diz estar "em vantagem". "Não será um problema. Tenho em casa um espaço onde eles podem correr e brincar quando estão mais aborrecidos. De resto, temos muitos filmes e livros para pôr em dia, e muitos jogos de tabuleiro à nossa espera", conta.
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Neste último dia de aulas, que antecede a pausa letiva de um mês, o Ministério da Educação reúne com os diretores no sentido de encontrar soluções para que os alunos não sejam prejudicados. À Renascença, Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP), diz levar para o encontro "algumas ideias sobre o futuro das escolas".
"É uma reunião de trabalho muito importante para arranjar soluções para um problema que está criado no sistema mundial. Algumas ideias passarão pelo ensino à distância, através de videoconferência. Passará por aquilo que já está a acontecer em algumas escolas, pelo envio via-email de exercícios que os alunos possam resolver e que reencaminhem para os professores para eles corrigirem. Há uma série de hipóteses no sentido de evitar que os alunos sejam o menos prejudicados possível durante o resto do ano letivo", explica o presidente da ANDAEP.
O representante dos direotres aplaude ainda a decisão do Governo em encerrar os estabelecimentos escolares pelo menos até dia 9 de abril, tendo em conta o “alarme social” que a doença provocou junto das famílias, dos professores e dos alunos. "Percebia-se que o ambiente era pesado, tenso e de angústia, ou seja, nada propício ao processo de ensino e aprendizagem. E aquilo que se pedia, de facto, era a suspensão das atividades letivas e não letivas, o que se concretizou".
Quanto ao futuro, "só a Deus pertence", tendo a "expectativa" de saber se no dia 9 de abril já existem condições de reiniciar as atividades letivas presencialmente.