12 mar, 2020
Normalmente, é associada a necessidade de actuação do Estado numa crise a um estímulo à procura que possibilite retomar em alguma medida o ritmo da produção e dessa forma manter o emprego e o funcionamento das empresas. É o que se costuma designar por uma intervenção keynesiana (do grande economista inglês do século passado, John Maynard Keynes) e é uma intervenção que, apesar de ter os seus detractores, é em geral eficaz. Embora a eficácia dependa da situação que provoca a crise.
Ora justamente, na situação actual não parece que um estímulo à procura vá obter grande resultado.
Efectivamente não é a falta de procura que está a provocar o abrandamento: são as mudanças profundas nas condições de produção, ou seja as consequências de fechar fábricas e serviços, em resultado da necessidade imperiosa de evitar a propagação da doença. São também as faltas de matérias-primas interna ou externamente produzidas que decorrem, afinal, da mesma causa.
Por isso, o que está indicado é o Estado, através de auxílio financeiro e de moratória de pagamento de impostos, sustentar as empresas que são obrigadas a fechar e os rendimentos de quem nelas trabalhava e tem que ficar em casa. Porque se não o fizer, poderá dar-se um efeito negativo em cascata, mesmo sobre empresas que poderiam funcionar, só possível teoricamente de estancar com uma política keynesiana, mas na realidade sem sucesso, porque as dificuldades na produção se mantêm.
Daquilo que sabemos das medidas anunciadas pelo Governo, é nesse sentido que se está a actuar e ainda bem. Naturalmente que esta actuação, a juntar às despesas aumentadas na saúde, irá penalizar o saldo orçamental. Mas isso será secundário, face à gravidade da situação. Acresce que podemos ter a legítima esperança de que a fase mais difícil da doença não seja muito prolongada e que dentro de alguns meses a situação possa voltar à normalidade.