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Beja

Uma exposição para “alimentar a memória” nos 250 anos da restauração da diocese

03 mar, 2020 - 10:18 • Rosário Silva

Até 9 de maio, na Pousada de São Francisco podem ser apreciadas peças e documentos notáveis que ajudam a conhecer e compreender a história de uma diocese, que sobreviveu a um passado de instabilidade política e religiosa.

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“Vinde e vereis”. As palavras estão gravadas em painéis que, desde julho de 2019, anunciam por toda a diocese de Beja, os 250 anos da sua restauração. Um acontecimento único, assinalado com diversas iniciativas, como a exposição que já pode ser visitada na Pousada de São Francisco, na cidade capital de distrito.

“Esta exposição parece pequena, mas podemos compará-la à parte visível de um iceberg que a maioria das pessoas vê rapidamente, mas que demora a ver se a queremos estudar a sério”, explica, à Renascença D. João Marcos.

Desde que chegou à diocese, o bispo de Beja deu-se conta de que “muitas pessoas, mesmo sendo católicas e praticantes de missa dominical, desconhecem, quase completamente, a história da diocese e também por isso a amam pouco”.

A celebração dos 250 anos da restauração da diocese é, por isso, um momento oportuno para dar a conhecer a “história e a identidade desta parcela do povo de Deus”, constituindo-se, refere o prelado, “como uma ajuda para alimentar este amoroso conhecimento”.

E o convite é feito desta forma por D. João Marcos: “Sê bem-vindo e alimenta a tua memória, vendo e amando aqueles que ao longo dos séculos foram luz e sal e fizeram chegar até nós o fermento do Evangelho.”

Até 9 de maio, podem ser apreciadas peças e documentos alusivos aos 250 anos da restauração. O bispo da diocese alentejana dá exemplos do que é possível ser descoberto pelos visitantes.

“Podem encontrar, por exemplo, o retrato do primeiro bispo da diocese restaurada, D. Frei Manuel do Cenáculo, a cabeça relicário de São Fabião, Papa, trazida por uma princesa bizantina no tempo da rainha Santa Isabel, ou encontrar uma relíquia de São Sisenando, mártir de Beja em Córdoba, no ano 851”, menciona.

São peças notáveis que ajudam a conhecer a história de uma diocese marcada pela instabilidade política e religiosa. Esteve 1.016 anos sem bispo e foi quase extinta com o Islamismo. A sua restauração aconteceu somente em 1770. A exposição, inaugurada no primeiro dia de março, revela um pouco desta história e das figuras que, ao longo dos tempos, tudo fizeram para que a diocese, hoje, esteja viva.

“A exposição está muito bonita e é um convite a ler o livro que vai sair muito em breve, sobre a história da nossa diocese e que ficará à disposição de quem desejar ter elementos para realizar um maior aprofundamento”, acrescenta, D. João Marcos.

A espiritualidade unida à história e cultura do baixo Alentejo

Esta exposição é uma de várias iniciativas que assinalam a efeméride até 10 de julho deste ano. O programa, elaborado por uma comissão diocesana, conta com o contributo de outras entidades, entre elas a Direção Regional de Cultura do Alentejo (DRCALEN).

“Espero que as comemorações possam significar um apelo, em primeiro lugar, à paz e à espiritualidade, tão necessárias neste tempo que vivemos”, diz, à Renascença, Ana Paula Amendoeira.

A diretora regional de cultura do Alentejo afirma que existe uma “ligação estreita entre cultura, história, património, e a dimensão espiritual” da diocese.

“A nossa matriz cristã faz com que a nossa história e cultura, estejam impregnadas de espiritualidade”, afirma, dando como exemplo as muitas “modas alentejanas imbuídas de uma espiritualidade cristã e mariana.”

A educação e a sensibilização das comunidades são parte de um trabalho cada vez mais necessário, defende a responsável pela DRCALEN.

“Ninguém gosta do que desconhece e ninguém ama o que não conhece”, observa. “Só conhecendo a história, as nossas raízes, é que conseguimos perceber o que caracteriza, hoje em dia, as nossas sociedades e intervir nelas para melhorar o futuro”, acrescenta, Ana Paula Amendoeira.

A exposição é, assim, um contributo para ajudar as pessoas a perceberem o que foi a evolução da diocese, potenciando o crescimento do chamado turismo cultural.

“Vai, também, contribuir para mostrar a importância desta igreja diocesana, mas mais relevante, para mim, é o que se pode construir para o futuro a partir desta efeméride”, sustenta a diretora regional.

“Espero que possa, por outro lado, significar um trabalho estreito com as comunidades e um maior incremento da espiritualidade que é tão necessária neste nosso tempo”, sublinha.

Por sua vez, o presidente da Câmara de Beja considera a exposição “muito importante para a cidade, mas também para a região”. Paulo Arsénio, em declarações à Renascença, afirma mesmo que a mostra “vai marcar, decisivamente, o ano 2020”, na capital do baixo Alentejo.

“Para além de aproximar os fiéis da sua diocese, a mostra aproxima, também, a cidade dela própria, aproxima os munícipes da história do seu concelho, da história de toda esta vasta região”, salienta o autarca.

Paulo Arsénio fala em “orgulho” por acolher esta exposição num dos “espaços mais bonitos da cidade, a pousada de São Francisco”, esperando que todos, locais e turistas, a visitem.

“É mais um elemento valorativo da nossa cidade, do nosso espaço urbano, e espero que todos os que nos visitem aproveitem esta oportunidade de conhecer um pouco mais da história da diocese e deste território”, conclui o presidente da autarquia de Beja.

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  • Rui Santos
    03 mar, 2020 Lisboa 12:23
    Excelente trabalho, cada vez mais necessário em face da desertificação a que se assiste. Excelentes pontos de pesquisa histórica.

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