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Sindicato exige esclarecimento do Teatro Municipal do Porto sobre alegada censura

24 fev, 2020 - 19:38 • Lusa

Há mais duas demissões no Conselho de Cultura do Porto após saída de Regina Guimarães.

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O Sindicato dos Trabalhadores de Espetáculos, do Audiovisual e dos Músicos exige um "esclarecimento público" do Teatro Municipal do Porto por, alegadamente, ter censurado um texto da dramaturga Regina Guimarães e ter "comportamentos abusivos" noutros casos, foi anunciado esta segunda-feira.

Numa nota divulgada no seu site, o Sindicato dos Trabalhadores de Espetáculos, do Audiovisual e dos Músicos (CENA-STE), que organizou um encontro este sábado com alguns profissionais da área, afirma querer "um esclarecimento público do Municipal do Porto”. "Exige-se que haja um esclarecimento público do Teatro Municipal do Porto/Ágora - Cultura e Desporto do Porto, sobre todos os casos, pois neste encontro chegaram-nos mais testemunhos de outras situações reveladoras de comportamentos abusivos", salienta o sindicato.

Os sindicalistas acrescentam não ter havido, até ao momento, "qualquer desmentido, retratação ou pedido de desculpas", mas sim, o reconhecimento "de um deles [casos], como se ingerência fosse um procedimento normal, inevitável e inócuo".

O encontro, que visou "auscultar os profissionais da cultura sobre as consequências destes casos", juntou mais de 50 atores, produtores, diretores de companhias de teatro e técnicos do audiovisual que "reprovaram a atuação" do Teatro Municipal do Porto.

"Todos manifestaram que as competências de um diretor artístico não devem interferir nos processos e nas decisões artísticas dos responsáveis pelos projetos que integram a (sua) programação do teatro municipal, tal como as competências de um executivo camarário, ou de um presidente da câmara, ou um vereador da cultura (que no Porto são desempenhados pela mesma pessoa) não devem interferir no decurso do trabalho de um diretor artístico de um equipamento municipal", defendem. E acrescentam, "a par desta exigência, estes profissionais querem também a garantia de que estes episódios não se repitam".

Para os sindicalistas, só a "separação de poderes e competência" permitirá a "independência de todos os intervenientes".

A missiva indica ainda que os artistas afirmaram ter "dificuldade" em aceder aos equipamentos culturais municipais, que "devem servir a comunidade local e artística", apelando, nesse sentido, a uma política cultural local "eficaz e transparente".

O CENA-STE adianta ter em vista a criação de "um manual de boas práticas" que, posteriormente, será enviado para o Teatro Municipal do Porto e extensível a outros teatros do país, por forma a "melhorar a relação entre profissionais e direcção artística, onde predomina a ausência de respostas às propostas enviadas".

Mais duas demissões no Conselho de Cultura

As conselheiras Carla Miranda e Vânia Rodrigues apresentaram hoje a sua demissão do Conselho Municipal de Cultura da Câmara do Porto, apontando o dedo à atuação daquele órgão nos casos do Coliseu e da censura no Teatro Municipal.

Numa carta dirigida hoje ao presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, que tutela o pelouro da Cultura, a que a Lusa teve acesso, Carla Miranda e Vânia Rodrigues salientam que a "vontade" agora concretizada "foi-se insinuando desde as primeiras reuniões, mas acumulou-se de forma mais clara na última reunião do Conselho, a segunda que serviu de debate ao Coliseu". "Claramente, a nossa visão da estrutura, dos seus objetivos e missão não se adequa à proposta pelo município", lê-se na missiva com data de hoje assinada pelas duas programadoras culturais.

Para além de programadora, Carla Miranda, que fala a título pessoal, é ainda atriz e deputada eleita pelo PS, tendo sido vereadora do mesmo partido na Câmara do Porto.

De acordo com as duas conselheiras, no caso do Coliseu houve gente, entre as quais se incluem, que considerou importante que o debate se fizesse de forma mais aprofundada, pelo que, referem, iniciaram-se contactos para pedir uma reunião extraordinária.

No entretanto, salientam as conselheiras, surge o caso do Teatro Municipal do Porto acusado de censura pela dramaturga Regina Guimarães, que na sequência deste episódio apresentou a sua demissão no Conselho Municipal de Cultura.

"Tentando estabelecer pontes e criar condições para o diálogo, iniciámos contactos, dos quais veio a resultar o pedido de 12 conselheiros para uma reunião extraordinária para debater os recentes acontecimentos na vida cultural e política da cidade. A resposta imediata foi a necessidade de enviar pontos de agenda e garantir a assinatura dos proponentes. Não houve tempo para darmos seguimento a este pedido: 24 horas depois, o município agendou a reunião extraordinária com um ponto único de debate: o Coliseu", lê-se na missiva.

Perante isto e face à impossibilidade de juntar outros pontos à agenda, Carla Miranda e Vânia Rodrigues desistiram do pedido de reunião.

"A Câmara falha se não considera importante provocar este debate no seio do Conselho. O Coliseu é extremamente importante para a cidade, mas não é menos importante que exista um espaço de debate onde naturalmente seja possível discutir de forma aberta e esclarecida os acontecimentos que perturbam a vida cultural da cidade. Não é possível para nós continuar num Conselho que parece servir para validar de forma subjetiva e muito ligeira o que se vai fazendo na cidade e não é palco de discussão estratégica fundamentada em documentos planificadores", dizem.

As demissionárias consideram ainda que não é possível "continuar a integrar um Conselho em que não se considerou, até hoje, necessário prestar esclarecimentos aos conselheiros que, trabalhando na cidade, sentem também responsabilidade pela cidade que se vai fazendo".

A Câmara do Porto refere que "no que toca ao pedido de reunião, foi pedido que fossem especificados os assuntos que pretendiam ser tratados, bem como indicação dos membros que assinavam tal pedido, tendo tal nunca acontecido. Esta questão é tanto ou mais importante, especialmente considerando que vários foram os alegados requerentes que nos contactaram esclarecendo que não se sentiam representados por este pedido e que nunca mandataram para, naqueles termos, convocar potestativamente uma reunião e, consequentemente, também para a desconvocar".

O município esclarece ainda que foi indicado posteriormente que, à luz da convocatória do dia 21, os alegados subscritores deste pedido viriam "a prescindir dessa iniciativa".

No que concerne ao tema do Rivoli, a autarquia garante que este não deixou de ser discutido na última reunião do Conselho Municipal de Cultura.

As demissões de Carla Miranda e Vânia Rodrigues acontecem quatro dias depois de Regina Guimarães se ter demitido do Conselho Municipal de Cultura, decisão que comunicou por carta ao presidente da autarquia e que tem a ver com uma "dessemelhança de conceções", como indicou a própria à Lusa.

"A decisão tem a ver com os acontecimentos recentes, com a questão da censura, com o facto de que o próprio conselho parece não ter julgado prioritário reunir-se por uma coisa destas. Não estou lá a fazer nada porque o que a mim parece essencial, não parece essencial ao Conselho. Há aqui uma dessemelhança de conceções do mundo", referiu, em declarações à agência Lusa, Regina Guimarães.

No dia 3 de fevereiro, Regina Guimarães acusou a direção do Teatro Municipal do Porto (TMP) de ter censurado um texto da sua autoria no qual criticava a noção de cidade líquida de Paulo Cunha e Silva, ex-vereador que morreu em 2015. O texto foi escrito para integrar a folha de sala (que não chegou a existir) do espetáculo TURISMO, da Companhia A Turma, com texto original e encenação de Tiago Correia que subiu ao palco nos dias 31 de janeiro e 1 de fevereiro no Teatro do Campo Alegre, no Porto.

Posteriormente, a 10 de fevereiro, o presidente da Câmara do Porto reiterou a sua total confiança no diretor do TMP, que tinha sido acusado de censurar o texto de Regina Guimarães, sublinhando que sempre entendeu que o texto devia ter sido publicado.

O voto de confiança de Rui Moreira, que acumula o pelouro da Cultura desde que Paulo Cunha e Silva morreu em 2015, foi anunciado no início de uma reunião de executivo municipal, depois de um encontro informal e privado onde foi ouvido o diretor do TMP, Tiago Guedes.

A 20 de fevereiro, Regina Magalhães adiantava ter-se demitido do Conselho Municipal de Cultura da Câmara do Porto, decisão relacionada com uma "dessemelhança de conceções", que comunicou por carta ao presidente da autarquia.

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