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Líder da Igreja Assíria do Oriente resigna por motivos de saúde

21 fev, 2020 - 11:50 • Filipe d'Avillez

A Igreja Assíria do Oriente foi chamada “Igreja dos Mártires” pelo Papa João Paulo II e está concentrada sobretudo na Síria, Iraque e sul da Turquia, com grandes comunidades na diáspora.

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O patriarca da Igreja Assíria do Oriente, Mar Gewargis III Sliwa, anunciou na quinta-feira que vai resignar ao cargo, por motivos de saúde.

Gewargis III ficou doente em dezembro, quando visitava fiéis na Alemanha, e ainda está a recuperar, mas a situação convenceu-o de que já não está em condições para liderar a Igreja de cerca de 170 mil pessoas, sobretudo concentradas na Síria, no Iraque, na Turquia e na diáspora, com grandes comunidades na Suécia, na Alemanha e nos Estados Unidos.

A Igreja Assíria do Oriente, que foi apelidada de “Igreja dos Mártires” pelo Papa João Paulo II, é uma antiga Igreja Ortodoxa do povo assírio que ainda utiliza na sua liturgia o siríaco, uma variante do aramaico, a língua falada por Jesus. Os assírios, também conhecidos como siríacos ou caldeus, são descendentes do antigo Império Assírio e viviam sobretudo numa faixa de território que abrangia o sul da Turquia, a Síria e o Iraque. O final do Império Otomano dividiu esse território em diferentes países e o genocídio contra arménios e assírios, de 1915, levou muitos a fugir da Turquia para os países árabes.

Ao longo do último século muitos desses cristãos emigraram e hoje vivem em países ocidentais, com comunidades significativas na América e na Europa. Atualmente a cidade com mais membros da comunidade é Sodertalje, nos arredores de Estocolmo.

Apesar de manter todos os sacramentos, reconhecidos como válidos pela Igreja Católica, a Igreja Assíria do Oriente não está em comunhão com nenhuma outra, nem católica nem ortodoxa. Ao longo dos séculos alguns grupos separaram-se da Igreja principal e juntaram-se ora aos ortodoxos, ora a Roma. A fação católica ficou conhecida como a Igreja Caldeia e é atualmente a mais representativa dos cristãos na região.

A independência da Igreja deixou-a também mais exposta a perseguição, numa região em que os cristãos têm sido acossados há séculos, e o facto de muitos assírios se terem aliado aos ingleses depois da Primeira Guerra Mundial, contra os movimentos independentistas no Iraque e na Síria, levou-os a serem perseguidos com ainda mais vigor. A situação chegou a tal ponto que no Século XX o patriarcado foi mudado para os Estados Unidos. Atualmente a Igreja está a tentar mudá-la de volta para o Médio Oriente, nomeadamente para a vila cristã de Ankawa, perto de Erbil, no Curdistão iraquiano.

É precisamente em Ankawa que se realizará um sínodo, entre os dias 22 e 29 de abril, para eleger um novo patriarca, informa a agência SyriacPress, que avançou a notícia da sua resignação.

Mar Gewarga III nasceu no Iraque, em 1941. Formou-se como professor e deu aulas de inglês durante vários anos antes de ser desafiado pelo então patriarca Mar Dinkha IV para servir a igreja como sacerdote. Foi ordenado em 1980 e muito pouco tempo depois tornou-se metropolita de Bagdade e do Iraque.

Fundou no Iraque um seminário que treinou muitos padres e diáconos e apostou na sua educação, enviando vários para estudar na Europa.

Viria a suceder a Mar Dinkha IV depois da morte deste, em 2015.

Gewargis tem sido um participante ativo no diálogo ecuménico, incluindo com a Igreja Católica.

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