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Irmandades querem criar federação transnacional

21 fev, 2020 - 09:19 • Ana Lisboa

O primeiro Fórum de Irmandades, que decorreu recentemente na Suíça, serviu para “verificar a utilidade das Irmandades na atualidade”, quer em termos de evangelização, na salvaguarda do património, nas tradições e na assistência que prestam.

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Com o tema “Despertar as sementes da Fé”, o Primeiro Fórum Pan-europeu de Irmandades debateu “a existência das Irmandades ao longo da história, pois a maioria das pessoas ignora, mas as Irmandades são a organização católica laica mais antiga que existe”, reconhece o Escrivão da Mesa Administrativa da Real e Venerável Irmandade do Santíssimo Sacramento de Mafra.

Tiago Henriques, recém-regressado de Lugano, na Suíça, foi o único participante português neste evento por convite da organização.

O propósito deste Fórum era “verificar de que forma as Irmandades atuam na sociedade civil para a evangelização, não obstante cada um dos países terem as suas características próprias. É muito difícil estabelecer um paralelo entre todos, porque as Irmandades têm uma variação muito grande na sua própria existência e na sua própria fundação, que não ajuda a estabelecer uma linha condutora para todos”.

Este encontro tenciona também “estabelecer na Europa uma espécie de Federação transnacional para todos os países Europeus e que possa congregar as Irmandades, no sentido de lhes facilitar a própria gestão interna, porque nem todas têm os mesmos recursos, assim como estabelecer uma forma de atuação para a Nova Evangelização”, explica este responsável.

O assunto poderá vir a ser abordado no próximo Fórum que ficou marcado para Setembro de 2021, em Málaga.

Portugal não tem uma estrutura nacional que reúna todas as Irmandades e Confrarias.

A falha foi reconhecida por Tiago Henriques que refere que “nós éramos um dos poucos países que não tinha nenhuma estrutura nacional ou regional que pudesse tomar a palavra por todos os outros”.

Mas tem a “expetativa de que um dia a Conferência Episcopal Portuguesa possa pensar nessa possibilidade, porque uma iniciativa dessa natureza não pode partir de Irmandades individuais, terá que partir de uma estrutura nacional”.

Real e Venerável Irmandade do Santíssimo Sacramento de Mafra

A Real e Venerável Irmandade do Santíssimo Sacramento de Mafra (RVISSM) é uma associação pública de fiéis católicos, canonicamente estabelecida na Basílica de Nossa Senhora e de Santo António de Mafra, classificada pela UNESCO como Património Mundial da Humanidade.

Tem, entre outras atribuições, a missão de promover a Festa do Corpo de Deus e a respetiva procissão e ainda a de efetuar as 4 tradicionais procissões da Quaresma da Vila de Mafra: a Procissão do Senhor Jesus dos Passos de Mafra, a Procissão de Penitência da Ordem Terceira de São Francisco (dita dos Terceiros), a Procissão das Sete Dores de Nossa Senhora (dita da Burrinha) e a Procissão do Enterro do Senhor.

A nível nacional, esta é a “Irmandade que mais procissões organiza no país. E, de acordo com o que pude perceber no Fórum, a nível europeu fiquei com a sensação que somos a Irmandade que, do ponto de vista evangélico, tem mais sobrecarga organizacional, isto é, do ponto de vista da organização de procissões, nenhuma outra tem um número desta natureza”, sublinha Tiago Henriques.

O conjunto de imagens de vestir custodiado por esta Irmandade é o maior existente em Portugal. Acrescem a este “precioso” conjunto de imagens, “alfaias que se revestem de particular excecionalidade pela sua antiguidade, ou únicas no seu género em contexto católico, entre as quais se destaca o Sol do Apocalipse”.

A Real e Venerável Irmandade do Santíssimo Sacramento de Mafra” tem as suas origens num passado indocumentado, não existindo no seu arquivo documentação anterior a 1725. Presume-se que a sua antiquíssima fundação remonte ao último quartel do século XVI, circunstância confirmada por um documento proveniente do arquivo da já então antiga e nobre Colegiada de Santo André de Mafra, datado de 1597”.

Não obstante esta ausência de documentos, a informação existente permite perceber que “se trata da mais antiga instituição atualmente existente na vila de Mafra, sendo, por esse motivo, considerada um dos mais importantes repositórios da memória histórica do concelho”.

Irmandades versus Confrarias

Na realidade nacional temos Irmandades e Confrarias.

“A sensação que se consegue ter a partir da documentação, é que as Confrarias não têm a mesma organização interna que uma Irmandade estatutariamente está a obrigada a ter, não obstante possam ter objetivos perfeitamente iguais. A designação é uma mera questão de vocabulário”, explica Tiago Henriques.

Em seu entender, a diferença “tem mais a ver com a gestão interna e com a disposição das dioceses em determinados períodos temporais. (…) A Confraria não tem o mesmo tipo de organização tão elaborado como tem uma Irmandade, ou pelo menos, deveria ter”.

A “questão é complexa” reconhece este responsável que além de pertencer à Irmandade de Mafra, também é membro de uma Confraria.

Portugal, juntamente com Espanha e Itália, são os países que mais Irmandades têm.

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